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3. APONTAMENTOS E REFLEXÕES SOBRE A LEI 1718/

4.1 A educação como alternativa despenalizadora na prevenção de crimes sexuais

A pesquisa intitulada #ApolíciaPrecisaFalarSobreEstupro, já mencionada acima, trouxe um dado bastante destoante dos demais, além de bastante interessante, a pesquisa apontou que 91% dos brasileiros “acreditam que temos que ensinar meninos a não estuprar.”

A polarização entre os gêneros desde a infância, é um fator que certamente contribui para a formação de uma sociedade desigual. O corpo da menina, e posteriormente da mulher, é objeto de proteção desde a infância, é muito comum em escolas, ser proibido o uso de shorts pelas

39 mulheres, ao argumento da desnecessária e até certo ponto prejudicial exposição do corpo feminino.

São tabus como estes, que intensificam a hiperssexualização da mulher, que colocam em destaque a necessidade de proteção deste corpo, partindo de uma lógica machista.

A bem verdade é que a educação e o combate ao estupro, estão atrelados a pequenos acontecimentos e posturas proativas no dia a dia dos pais, educadores e responsáveis, que precisaram passar por um processo de educação e conhecimento mútuo, para ser possível, ao logo dos anos, instruir na formação do caráter dos homens e superar a cultura do estupro vigente em nossa sociedade, precisará deixar de lado resquícios de um machismo institucionalizado.

26Percepção sobre a violência sexual e atendimento a mulheres nas instituições públicas. São Paulo, FBSP, 2016.

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CONCLUSÃO

Historicamente as mulheres vêm sendo subjugadas pelos homens, e este processo já se desdobrou por diversos caminhos, de modo a estar sempre acompanhando a evolução da sociedade. Se anos atrás a mulher descente era a dona de casa exemplar, dotada das mais diversas habilidades culinárias, hoje a mulher ocupa cargos dos mais altos níveis, além disso, ainda dispõe de tempo para cuidar, ou ao menos gerenciar a doméstica da casa – isto decorre dos resquícios da mulher antes tida exclusivamente como esposa e “dona de casa”.

Durante o decorrer deste trabalho, foram apontados dados que comprovam como a mulher, de forma predominante, ainda sofre com a violência em nossa sociedade, e de como a sua diminuição27 e subjulgamento, tem trazidos prejuízos a essa minoria. O trabalho aponta que todas essas violências e preconceitos aos quais a mulher está suscetível se traduz em um estado de medo vivido por elas, medo que também se transporta para o ímpeto de notificar os casos de violência.

São discursos como os de culpabilização da vítima que contribuem para as cifras ocultas presentes em nossa sociedade no que diz respeito a violência contra a mulher. Este discurso é tão naturalizado em nossa sociedade que acaba sendo reproduzido de forma acrítica, sem ser percebido seu potencial lesivo perante toda uma minoria – as mulheres.

Esta classe vem sofrendo coerções de regramentos que são impostos sobre seus corpos, transportados a elas pelos homens, que se entendem, nesse processo, como seus donos. Ocorre, então, o fenômeno clássico de objetificação da mulher.

Em contraposição a essas injustiças presentes em nossa sociedade, e como já pontuado, a mídia exerceu papel fundamental na exposição dos casos de violência contra a mulher, culminando em leis que buscam proteger esse grupo vulnerável. Contribuiu, ainda, no processo de compreensão da mulher acerca do espaço que ocupada na sociedade, e abriu novos horizontes para diversas mulheres se sentirem partes de um problema que não é só de uma, encorajando a resistência e a luta, encorajando a notificação das violências sofridas.

A Lei 13.718/18 foi destrinchada neste trabalho, de modo a expor os avanços que ela

41 trouxe para as mulheres, ante as lacunas legislativas que existiam em nosso ordenamento jurídico, que acabou deixando a mercê da ação de criminosos, milhares de mulheres vítimas de abusos que eram repreendidos apenas com multas, ou seja, não possuem nenhuma efetividade como meio de prevenção de crimes.

Não se pôde fechar os olhos aos movimentos que tentar tirar das mulheres o papel de vítima e coloca-las como contribuidoras para o cometimento de crimes sexuais. Já não bastasse toda a carga que afeta o gênero feminino a anos, se tornando um peso, um empecilho a sua liberdade.

Assim, notória é a necessidade de se criar políticas públicas que busquem promover a igualdade material entre os gêneros e combater o machismo patriarcal presente em nossa sociedade. Precisamos cortar vínculos com a sociedade de nossos antepassados para ser possível a construção de uma sociedade igualitária.

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