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A EDUCAÇÃO DE PROFISSIONAIS DE SAÚDE REFERENTE

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 31-34)

AO PROCESSO DE DOAÇÃO DE ÓRGÃOS E TECIDOS PARA TRANSPLANTE

Nos últimos anos, a crescente desproporção entre a oferta e a necessidade de órgãos para transplante têm levado a comunidade transplantadora internacional a implementar diversas estratégias intra- hospitalares, destinadas a aumentar as taxas de consentimento familiar e a efetivação de potenciais doadores(13).

O governo brasileiro vem estimulando a atividade de captação nas diversas instituições hospitalares do País, por meio de portarias que definem a composição e o campo de atuação das CIHDOTT(14,15).

A Portaria nº 905 de 2000 propõe que todo hospital público, privado e filantrópico com mais de 80 leitos tenha uma CIHDOTT(14). Atualmente, o trabalho dessas comissões em parceria com o SPOT tem melhorado a identificação do número de possíveis doadores. Em 2009, a Portaria nº 2.600 aprovou o regulamento técnico que estabelece as atribuições, deveres, indicadores de eficiência e do potencial de doação de órgãos e tecidos nessas instituições(15).

Mesmo com tais medidas, a oferta de órgãos ainda é insuficiente para atender à demanda de receptores em lista de espera. Conforme a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), o número de doadores efetivos no Brasil fica em torno de 12,6 por milhão de população por ano (pmp/ano)(3).

Na América Latina, mesmo com um aumento de quase 100% nas taxas de doação nos últimos 10 anos, o índice de doador de órgãos ainda é menor que a média da Europa (15 pmp/ano), Estados

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Unidos da América (25 pmp/ano) e Espanha (35 pmp/ano). A recusa familiar representa também um obstáculo à efetivação da doação(16).

No Brasil e no mundo, o número de doadores é insuficiente para atender à demanda crescente dos receptores que necessitam de um transplante. O problema da captação, alocação e qualidade dos órgãos para transplante deve-se em parte à inadequada manutenção de doadores de órgãos e pela recusa do consentimento familiar. Além disso, muitos profissionais de saúde simplesmente ignoram a legislação vigente sobre transplantes e não notificam a ocorrência de morte encefálica aos Serviços de Procura de Órgãos e Tecidos(17).

A Portaria nº 2.600, publicada pelo governo federal, tem como principal objetivo otimizar o processo de doação, estabelecendo que as Organizações de Procura de Órgãos adotem estratégias que permitam organizar a instituição hospitalar para que seja possível obter órgãos e tecidos para transplante(15).

Para tal, a estruturação de programas educativos sobre doação e transplante direcionados aos profissionais de saúde, tendo como foco o treinamento das habilidades em comunicação, constitui um elemento motivador para os profissionais da captação de órgãos.(18,19). O enfermeiro desempenha um papel importante nesse contexto, e sua contribuição torna-se essencial para o sucesso dos programas de transplantes.

O modelo espanhol centrado na figura do coordenador intra- hospitalar de transplante parece ser um dos mais adequados. Os coordenadores são médicos e enfermeiros, que atuam em tempo integral ou parcial, com a função de efetivar o maior número possível de doação de órgãos na instituição, representando a peça-chave desse sistema de captação. Esses profissionais participam de todas as atividades relacionadas com a obtenção e transplante de órgãos(20,21).

As pesquisas realizadas no Brasil sobre a vivência de familiares de doadores falecidos frente ao processo de doação e os fatores que influenciam a tomada de decisão, têm melhorado nossa compreensão nesse campo (22,23,24,25,26). Um aspecto fundamental é o apoio oferecido

Vivência de enfermeiros no processo de doação de órgãos e tecidos para transplante

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pelos profissionais de saúde a essas famílias. Para tal, faz-se necessária a capacitaçao desses profissionais, por meio de programas de treinamento, para prestar apoio de forma eficaz(13).

No cotidiano dos enfermeiros do SPOT, observa-se que a experiência e a atitude pessoal do profissional que solicita a doação de órgãos são elementos importantes no processo de comunicação com os familiares de doadores falecidos e podem interferir na tomada de decisão dos mesmos(27).

Para os profissionais de saúde que atuam no processo de doação, fica evidente que quanto maior a experiência menores serão os problemas no momento de solicitar a doação. Portanto, é de fundamental importância dispor de um programa de educação permanente que permita melhorar e praticar a solicitação de doação de órgãos e tecidos para transplante(27).

Além disso, programas de educação para o público através da mídia, escolas, faculdades e treinamento apropriado para médicos e enfermeiros de unidades de cuidados críticos têm sido realizado na Europa, ao longo dos últimos anos resultando no aumento significativo da doação de órgãos(28).

A doação e os transplantes são balizados pelos aspectos legais e éticos. Na perspectiva ética, o respeito à autonomia da familia do falecido e o apoio oferecido frente à morte de um parente são essenciais para possibilitar a humanização do processo de doação(27).

O treinamento simulado oferecido aos profissionais de saúde é um componente essencial para a aquisição de competências e habilidades. Nos últimos anos, tem sido feito treinamento com simulação realística para melhorar a relação desses profissionais com os pacientes, tais como a comunicação de más notícias, obtenção do consentimento informado, tomada de decisão no final de vida e outros aspectos desafiadores da comunicação(13).

Um dos instrumentos de grande relevância no processo de doação de órgãos consiste em desenvolver nos profissionais, por meio

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de treinamento, a habilidade da escuta ativa que possibilitará a utilização das técnicas na comunicação em situação de crise(29,30,31).

A comunicação de más notícias é um assunto de difícil manejo aos profissionais de saúde, mas, as evidências revelam que a utilização de protocolos e a aquisição de habilidades de comunicação,

por meio de programas de treinamento, podem melhorar

significativamente essa tarefa e possibilitar o enfretamento da perda pelos familiares de doadores de órgãos(32).

Frente ao exposto, fica evidente a importância da educação da equipe de saúde referente ao processo de doação de órgãos e tecidos para transplantes e, sobretudo, dos profissionais que lidam diretamente com essa especialidade, tendo sempre como elementos norteadores os princípios éticos, legais e humanísticos.

No documento UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (páginas 31-34)

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