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ANEXO I Relato 8 (turma 2)

1.2 A educação do surdo no estado de Goiás e no município de Jataí

Apesar da importância do tema, poucos são os registros referentes à história da educação do surdo no Estado de Goiás e no município de Jataí. Em Goiás, a primeira instituição pública a atender alunos com deficiência foi o Instituto Pestalozzi de Goiânia (IPG) inaugurado em 1955, permanecendo como única instituição pública até a década de 1970 (GOIÁS, 2010, p.6).

A implantação das classes especiais no ensino regular também foi relatada por Rezende (2008) ao explicar como se deu o processo de integração dos alunos no ensino regular:

A partir de então, várias escolas regulares do Estado de Goiás aderiram a esse tipo de atendimento por meio de classes especiais. Com esse processo de integração, a pessoa com deficiência teria que se adaptar ao ritmo das escolas de ensino regular, portanto, a escola não tinha compromisso e responsabilidade em adequar o ensino à diversidade de sua clientela (REZENDE, 2008, p. 69).

Com essa nova modalidade de atendimento, a integração (em que o aluno que se adapta a realidade da escola) foi necessário regulamentar o ensino oferecido ao aluno com deficiência. Em 1979, o Conselho Estadual de Educação do Estado de Goiás, por meio das Resoluções nº 255 e 256, estabeleceu normatizações para o funcionamento do ensino especial. Em Goiânia, em 1982, devido a essa nova diretriz, os surdos que estudavam nas escolas especiais, tiveram a oportunidade de receber o atendimento educacional na escola comum por meio das salas especiais, sendo que a primeira a oferecer esse atendimento foi a Escola José Carlos Almeida (REZENDE, 2008, p. 72).

Neste mesmo ano, 1982, foi criada a Superintendência de Assuntos Educacionais da Secretaria Estadual de Educação (SEE) que passou a organizar e promover ações educacionais que se iniciavam na estimulação precoce e se estendiam até o ensino profissionalizante. No ano de 1987, a SEE foi extinta e foi criada a Superintendência de Ensino Especial (SUPEE), com maior autonomia financeira e administrativa, o que favoreceu a expansão do ensino especial, pois houve a abertura de novas escolas e salas especiais, sala de recursos e apoio. Todavia o serviço oferecido continuava “[...] tendo um caráter segregador apesar de terem funcionado no ensino regular [...]” (GOIÁS, 2010, p.8).

Em virtude disso, no ano de 1999, o então Superintendente de Ensino Especial de Goiás, Dalson Borges Gomes, juntamente com o consultor Romeu Kazumi Sassaki, iniciaram a implementação do Programa Estadual de Educação para a Diversidade numa Perspectiva Inclusiva. O Programa foi embasado via documentos internacionais, leis nacionais e diretrizes educacionais, sendo que suas ações:

Serão norteadas por uma filosofia de aceitação das diferenças individuais, o que exige a reformulação do projeto político-pedagógico da escola segundo os princípios de uma educação inclusiva, contando com currículos amplos e flexíveis, colocando serviços de apoio à disposição dos professores, organizando a reflexão do trabalho em equipe e adotando critérios e procedimentos flexíveis de avaliação. [...] Os profissionais desta escola

deverão repensar suas práticas pedagógicas, ressignificar seus conhecimentos e, sobretudo aceitar as diferenças individuais inerentes aos seres humanos como uma oportunidade de aprendizado mútuo, aplicando conhecimentos à medida que são solicitados pelos educandos. (GOIÁS, 1999, p. 15-16)

O Programa Estadual de Educação para a Diversidade numa Perspectiva Inclusiva está sendo desenvolvido até a presente data e, entre as ações direcionadas ao aluno surdo, podemos destacar a implantação do projeto Comunicação, que tem por objetivo garantir “[...] a acessibilidade aos conteúdos curriculares mediante a utilização, valorização e divulgação da língua de sinais e demais recursos comunicacionais necessários”. (GOIÁS, 2010, p.13)

A normatização dos requisitos necessários aos profissionais que atuam na efetivação da educação inclusiva em relação ao aluno surdo foi estabelecida pelo Conselho Estadual de Educação, por meio da Resolução nº 07, de 15 de dezembro de 2006, que regulamenta a função do:

[...] professor-intérprete/intérprete de libras, que deve possuir domínio da libras, conhecer as especificidades dos surdos e interpretar o conteúdo exposto pelo professor; professor instrutor surdo, que é uma pessoa com surdez com domínio da libras para trabalhar esta língua diretamente com alunos, famílias e profissionais da escola [...] (OLIVEIRA, 2012, p. 49, grifo da autora).

Profissionais que passaram a fazer parte da comunidade da escola comum e que anteriormente estavam restritos à escola especial. Oliveira (2012) relata que isso acarretou uma nova configuração entre os profissionais, já que o professor regente tem que dividir o espaço da sala de aula com o profissional de apoio à inclusão, sendo necessário o planejamento conjunto para que façam as adaptações necessárias à realidade do aluno surdo.

Direcionando nosso olhar para as mudanças históricas ocorridas no estado de Goiás, verificamos que na cidade de Jataí o percurso traçado foi semelhante ao que ocorreu no restante do mundo: primeiro a ausência de atendimento, depois o atendimento em instituições especiais filantrópicas e por fim o processo de integração e inclusão.

Lima (2014) ressalta a ausência de registros documentais relacionados à educação inclusiva na cidade de Jataí. Como não encontramos documentos de registro, recorremos à atual gestora do Centro de Ensino Especial Érica de Melo Barboza, para conhecermos como se deu a criação da escola que deu origem ao ensino especial no município.

Conforme relato da atual gestora, no ano de 1977, a professora Luiza Cruz Noleto apresentou um levantamento ao Lions Clube7 da cidade, mostrando a necessidade de se criar uma escola para atender os alunos surdos da cidade e redondezas. Após uma mobilização social, no ano de 1979, iniciou-se a construção da escola, que foi inaugurada em 1983. Inicialmente, a nova instituição recebeu o nome de Escola de Deficientes Auditivos Érica de Melo Barboza, em homenagem à filha surda do engenheiro que projetou a escola. (Informação verbal)8.

Ainda segundo a diretora do Centro de Ensino Especial Érica de Melo Barboza, a escola foi planejada para atender inicialmente somente os alunos surdos, mas, devido à demanda, passou a atender também os alunos com deficiência mental, em turnos separados. A metodologia utilizada privilegiava o método oral acima da instrução formal. Os alunos na escola faziam treinamento auditivo, treinamento da fala, atividades de vida diária, culinária, bordado, tapeçaria e os conteúdos acadêmicos iniciais. A instituição, igual às demais.

No ano de 2000, seguindo as resoluções do Programa de Educação para a Diversidade numa perspectiva Inclusiva, o governo do estado de Goiás, promove à implantação das unidades inclusivas, que no ano de 2001, seriam as primeiras escolas a receberem os alunos surdos nessa nova perspectiva (GOIÁS, 2010). Segundo informação do gestor do Centro de Ensino Especial Érica de Melo Barboza, nessa data os alunos surdos da instituição foram encaminhados para a escola comum.

A escola especial passou, então, a ser um centro de referência, com o objetivo de complementar e não substituir o ensino comum, que “[...] deve ser oferecido concomitantemente às aulas que o aluno com deficiência assiste na sua turma de ensino regular e em horário oposto a este [...]” (MANTOAN, 2006, p. 82). Decisão essa que limita o atendimento ao aluno surdo que não está matriculado no ensino regular, já que não poderá participar dos atendimentos oferecidos na escola especial ou comum.

Para compreender o aluno surdo estudante da escola comum, faz-se necessário discutir as especificidades que envolvem o surdo na contemporaneidade.

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