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ANEXO I Relato 8 (turma 2)

2 ENSINO DE CIÊNCIAS NO BRASIL E APRENDIZAGEM PELA

5.4 Observação das aulas

Acompanhamos as aulas por um período de dois meses para conhecer a dinâmica do grupo eleito, analisar a comunicação e a interação dos alunos ouvintes com as alunas surdas, a participação das alunas nas aulas e a metodologia utilizada nas aulas de Ciências, objetivando colher informações que pudessem alicerçar a elaboração da sequência de ensino.

Foram observadas três aulas em cada escola, do início ao final do período letivo. Durante o acompanhamento das aulas aconteceram em cada escola três aulas de Ciências, descritas resumidamente a seguir.

Turma 1

Na primeira aula, 28 de agosto de 2014, a professora Clara revisou o conteúdo sobre o meio ambiente e a importância do ar, utilizando a música Planeta Azul, dos compositores Xororó e Aldemir, para trabalhar o tema e também introduzir a diferença entre flora e fauna, utilizando o som e a letra da música, mas não houve o uso de imagens. Por isso, a intérprete Ane ficou o tempo todo buscando meios de explicar o que a professora falava para a aluna Paula, utilizando Libras, desenhos e palavras.

Durante a atividade aluna Paula desviava a atenção e muitas vezes interrompia a explicação da intérprete para mostrar um colega que estava disperso ou brincar com o material escolar. Percebemos o desinteresse também por parte de outro grupo de alunos, pois estavam conversando, dormindo ou brincando com seus objetos.

A professora havia relatado que os alunos tinham níveis diversificados de aprendizagem. Durante a atividade percebemos que aqueles que conseguiram seguir a leitura da letra da música se concentraram na atividade por um tempo maior, mas os outros alunos não se mostraram atentos, se movimentando ou mexendo com os colegas.

Na segunda aula de Ciências, 02 de setembro de 2014, a professora Clara pediu para os alunos responderem perguntas referentes à aula anterior, música Planeta Azul, em seguida, distribuiu uma folha aos alunos com uma atividade de produção textual de uma sequência de fatos em desenhos em quadrinhos sobre a destruição da natureza pelo homem.

A aluna Paula conseguiu explicar, em Libras, para a intérprete o que a sequência de fatos queria retratar. No final da atividade, a intérprete Ane pediu para a aluna mostrasse sua produção para a professora Clara. A professora parabenizou-a em Libras e deu um visto na atividade. A aluna ficou feliz e mostrou o caderno para a intérprete.

Na terceira aula, 04 de setembro de 2014, a professora passou no quadro um texto sobre doenças respiratórias e uma lista de exercícios. Enquanto os alunos respondiam, corrigiu individualmente a produção dos alunos feita na aula anterior. Paula conseguiu copiar e corrigir as tarefas com autonomia, já que as respostas foram passadas no quadro. Todavia, quando perguntamos para a intérprete se a aluna compreendia o que estava copiando, explicou que a mesma ainda não tinha autonomia na leitura.

A dificuldade de comunicação existente entre professora e aluna surda ficou evidente durante as aulas observadas na Turma 1. Houve várias situações em que Clara dizia algo e Paula gesticulava como se tivesse compreendido, mas após a professora se afastar, pedia à Ane que explicasse novamente. Apesar de Clara e Ane buscarem estabelecer parceria, verificou-se que Clara ainda está aprendendo a compartilhar o espaço da sala de aula, já que em nenhum momento Ane foi convidada a interpretar na frente da sala para que Paula pudesse “[...] comparar o que está sendo apresentado pelo professor com o que é interpretado, além de possibilitar que professor e aluno surdo tenham interação visual um com o outro” (MÉLO e SOARES, 2012, p. 384). Assim, o tempo todo Paula tem que dividir sua atenção entre a professora Clara e a intérprete Ane.

Turma 2

Assim como na Turma 1, observamos três aulas de Ciências na Turma 2. Na primeira aula, 02 de setembro de 2014, que acompanhamos, a professora Rosa corrigiu uma tarefa sobre preservação do meio ambiente, que havia passado para casa, fez um breve comentário sobre a atividade, alguns alunos fizeram algumas observações e posteriormente a professora anotou no quadro as respostas esperadas das perguntas. A aluna Maria fez a correção da atividade com autonomia, sem a ajuda da professora ou da intérprete.

Na segunda aula, 04 de setembro de 2014, a professora fez a leitura de um texto introdutório sobre as características do ar e em seguida transcreveu o mesmo no quadro para ser copiado. A aluna Maria prestou atenção na interpretação do texto em Libras, quando tinha dúvida, pedia a intérprete para explicar de novo. Quando a professora começou a passar o texto no quadro, demonstrou impaciência em prestar atenção na interpretação, justificando que queria copiar.

Na terceira aula, 08 de setembro de 2014, a professora deu continuidade sobre o tema utilizando um aparelho de data show para projetar uma sequência de textos explicativos sobre a constituição do ar, a importância das árvores e a consequência da poluição para a saúde. Todos os textos tinham imagens que auxiliavam no entendimento da explicação.

Após a explicação, Rosa organizou a demonstração de três experimentos: um para ilustrar a existência do ar, outro mostrando que o ar tem peso e, por fim, que o ar ocupa lugar no espaço. Ela realizou os experimentos sobre sua mesa, na frente da sala, enquanto os alunos permaneceram sentados em suas carteiras.

No primeiro experimento Rosa acendeu uma vela, em seguida a cobriu com um copo e perguntou para os alunos por que a chama havia apagado. Os alunos deram várias respostas, mas nenhum conseguiu explicar o fenômeno físico observado. A professora explicou a eles a necessidade de oxigênio para manter uma vela acesa. A intérprete interpretou a fala dos alunos, Maria só observou e não fez nenhum comentário.

No segundo experimento, Rosa mergulhou um copo com um papel dentro de uma vasilha de vidro com água. Após um intervalo de tempo tirou o copo de dentro da vasilha e mostrou para os alunos que o papel estava seco. Chamou os alunos de cada fileira da sala para ficar em volta da mesa e observarem o experimento. Como eram cinco filas, ela fez o experimento cinco vezes. No fim, perguntou por que o papel não havia molhado. Os alunos deram respostas diversas. A professora explicou que a água não entrou no copo porque nele havia ar e a água e o ar não podiam ocupar o mesmo lugar no espaço ao mesmo tempo.

Depois que os alunos lancharam, foram para o recreio e retornaram à sala de aula, a professora fez o terceiro experimento. Iniciou pedindo para dois alunos encherem balões, um com bastante ar e o outro com pouco. Depois amarrou os balões de tamanhos diferentes nas extremidades de um cabide e perguntou o porquê do cabide pender para o lado do balão mais cheio e o porquê de não haver equilíbrio. Alguns alunos responderam que um balão era mais pesado que o outro. A professora complementou que o ar tem peso e o balão maior estava mais pesado que o balão menor.

Observamos que os alunos ficaram encantados com os experimentos demonstrados, conversavam entre si procurando as respostas para as perguntas da professora e faziam silêncio durante as demonstrações. Só que era visível a frustração dos mesmos por não poderem manipular os objetos e reclamaram para a professora que queriam fazer os experimentos. Rosa argumentou que não tinha material suficiente para cada ume, em seguida, passou uma atividade com perguntas sobre o conteúdo trabalhado, que foi corrigida na quarta aula.

Maria também demonstrou interesse nas demonstrações dos experimentos, olhava com atenção o que a professora executava. A intérprete aguardava a aluna prestar atenção na demonstração e depois interpretava o que a professora explicava. Algumas vezes notamos que a aluna ignorava a intérprete para prestar atenção na movimentação dos colegas durante os questionamentos da professora. A intérprete esperava ela demonstrar interesse antes de voltar a interpretar.

Na turma 2, Rosa demonstrou, durante as aulas observadas, uma maior interação com Maria do que observamos entre a professora e a aluna surda da turma 1. Nas duas primeiras aulas, a professora foi à carteira da aluna em várias ocasiões fazer perguntas sobre as atividades e quando não compreendeu as respostas pediu o auxílio de Ane. Maria costuma ensinar sinais em Libras para Rosa e a corrige quando esta erra o sinal.

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