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Para Heller (2004, p 18),

1.3 A EDUCAÇÃO ESCOLAR E A FORMAÇÃO DA INDIVIDUALIDADE PARA SI.

Os fragmentos teóricos apresentados até aqui para a compreensão da formação do gênero humano nos remetem à discussão sobre a

formação integral desenvolvida por meio da educação escolar como referência para a formação da individualidade para si. Sendo assim, o ato de ensinar coincide com a estrutura que compõe a relação dos indivíduos e as objetivações genéricas para si. (CARVALHO, 2016).

Nesse sentido, a prática pedagógica desenvolvida por meio da educação escolar deve incentivar nos indivíduos o contato com os carecimentos (necessidades) não cotidianos (DUARTE, 2013). Ou seja, criar mecanismos que os leve a se apropriarem das objetivações produzidas no campo científico (ciência, arte e filosofia). A escola, como instituição social, com a função de socializar o conhecimento historicamente produzido, cumpre um papel essencial. Isso porque, ao longo da história, o indivíduo constrói objetivações desde as mais elementares, como a linguagem, até as mais elevadas, como o conhecimento científico. Ao construir essas objetivações, o indivíduo apropria-se dos resultados da atividade social, produzidos no contexto a que pertence (DUARTE, 2013).

A Pedagogia Histórico-Crítica compreende a atividade educativa como um ato consciente e intencional de produção e reprodução em cada indivíduo singular da humanidade construída histórica e coletivamente pelos homens. Diferentemente dos demais animais, o homem necessita produzir continuamente sua própria existência, o que só é possível por meio de sua atividade essencial, o trabalho (PASQUALINI; MAZZEU, 2008).

A Pedagogia Histórico-Crítica surgiu no Brasil, na década de 1980, tendo como principal expoente o professor Dermeval Saviani. É tributária da concepção dialética, na versão do materialismo histórico, tendo afinidades, no que se refere às suas bases psicológicas, com a psicologia histórico-cultural desenvolvida pela “Escola de Vigotski”. Para a Pedagogia Histórico-Crítica, a educação é entendida como o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens.

Em outros termos, significa que a educação é entendida como mediação no seio da prática social global. A prática social se põe, portanto, como o ponto de partida e o ponto de chegada da prática educativa. Daí decorre um método pedagógico que parte da prática social em que professor e aluno se encontram igualmente inseridos. Ambos ocupam, porém, posições distintas, condição para que travem uma relação fecunda na compreensão e encaminhamento da solução dos problemas postos pela prática social. Cabe a eles, intermediários do método, identificar as questões suscitadas pela prática social (problematização),

dispor os instrumentos teóricos e práticos para a sua compreensão e solução (instrumentação) e viabilizar sua incorporação como elementos integrantes da própria vida dos alunos (catarse) (LOMBARDI; SAVIANI; NASCIMENTO, 2006).

No que diz respeito à educação no que contexto das relações de produção, Suchodolski (1976, p. 09) faz a seguinte análise:

A análise da teoria marxista da educação sublinha que a situação do homem sob o capitalismo é marcada por uma crescente alienação que “impossibilita um desenvolvimento das massas trabalhadoras, destrói a sua relação com o trabalho e a sociedade e deforma a sua consciência”. Para

que a educação desempenhe a importantetarefa do

desenvolvimento do homem em todos ossentidos

deverá, antes de tudo o mais, quebrarem-se as

cadeias que no capitalismo prendem o homem.[...].

Nesta base, dar-se-á na sociedade socialista uma

aproximação entre as condições e necessidadesda

vida social e as tarefas e possibilidadesda atividade

educativa.

Suchodolski (1976), ao analisar o programa de ensino e educação de Marx e Engels, argumenta que se trata de um elemento da luta revolucionária pela nova ordem social. A ligação dessas questões pedagógicas com os problemas gerais do desenvolvimento social e das tentativas para superar a sociedade de classes capitalista cria bases totalmente novas para o trabalho educativo e sua teoria.

A teoria da educação já não é, portanto, uma teoria dos comportamentos determinados, mas deve se desenvolver a partir da íntima ligação com as necessidades da vida concreta da sociedade existente, com a sua atividade e a sua produção.

Marx fez uma verdadeira revolução copernicana na pedagogia ao indicar que não é a vida que gira à volta das ideias [sic], mas que são as ideias que giram à volta da vida. A partir deste momento, a pedagogia deve conceber principalmente a vida e não a ideia. Deve conhecer os homens reais sob condições concretas e não as ideias dos homens e da cultura. Isto é a verdadeira “revolução copernicana” em pedagogia. (SUCHODOLSKI, 1976, p. 88-89).

A metodologia marxista contrapõe-se à metodologia hegeliana e ao seu pensamento histórico. Isso porque se coloca contra as “[...]

concepções universalistas da história e do modo de pensar especulativo.”

(SUCHODOLSKI, 1976, p. 96). Além disso, indica a necessidade de trabalhar a partir de conceitos científicos, isso é, que vão dos fatos às generalizações, do concreto ao abstrato. Por isso, o “[...] pensamento pedagógico não se deve orientar para a ‘criança’, mas para a criança fortemente determinada [...]” (SUCHODOLSKI, 1976, p. 96), isso é, a criança concreta, assim como deve se suceder em todos os conceitos.

Para entender em que consiste o método marxista de compreensão do processo educativo e da atividade educativa, é necessário estudar a luta que Marx travou contra o idealismo hegeliano. Para apropriar-se de todo o patrimônio cultural desenvolvido pela humanidade, o homem precisa desenvolver métodos educativos diferentes daqueles recomendados pela pedagogia burguesa, os quais se fundamentam na “[...] formação de uma elite de bens culturais.” (SUCHODOLSKI, 1976, p. 146).

Na perspectiva da filosofia de Marx e Engels, não têm razão nem os pedagogos que se pronunciam acerca de uma educação para o Estado ou para a Nação, nem os que apresentam o desenvolvimento da individualidade no primeiro plano. Não têm razão nem os pedagogos de orientação sensualista nem os que jogam com a terminologia hegeliana de “cultura objetiva” e consideram a educação como formação da personalidade baseada nos bens culturais eternos. Também não têm razão os pedagogos que atribuem à educação o caráter de formação do desenvolvimento natural, espontâneo e autônomo do “eu” interior nem os que sujeitam a educação do indivíduo às exigências das circunstâncias. Enganam-se também os que julgam que se poderia realizar uma transformação social pela reeducação da consciência, do mesmo modo que os que eram de opinião que na educação na formação [sic] haveria que esperar até que a grande obra de revolução socialista estivesse realizada. (SUCHODOLSKI, 1976, p. 146).

A pedagogia vinculada aos princípios do materialismo dialético e histórico e à luta revolucionária da classe trabalhadora pela sociedade socialista representa uma pedagogia qualitativamente nova. Uma

pedagogia que se fundamentada nos ensinamentos de Marx e Engels não se contenta somente com a exposição do seu significado no que diz respeito às concepções pedagógicas. Em vez disso, busca as teses filosóficas que os originaram, demonstrando, assim, as amplas perspectivas que se abrem a partir do materialismo dialético (SUCHODOLSKI, 1976).

O princípio de vinculação da educação à prática revolucionária determina o caminho pelo qual a educação pode ajudar realmente a construir a sociedade futura, que se constituirá na luta contra as relações dominantes da atualidade. A teoria de Marx apresenta ao trabalho educativo, sob relações de ordem classista, tarefas completamente novas. Mostra ao ensino que o “[...] único caminho para a formação de homens novos está na prática revolucionária do movimento operário.” (SUCHODOLSKI, 1976, p. 146).

Para Martins e Santos (2017), Marx e Engels, em seus estudos, conseguiram desmascarar os princípios educativos burgueses pautados em valores individualistas, os quais visam à adaptação de homens e mulheres à sociedade capitalista. Dessa maneira, a teoria marxista da educação cumpre o papel de demonstrar que o trabalho educativo necessita articular-se à luta política de classe, com vistas à construção da formação humana e do ensino, em uma perspectiva revolucionária.

Essa construção de uma educação voltada para a formação humana, em uma perspectiva revolucionária, na esfera pública, requer a superação do dualismo educacional presente no pensamento pedagógico burguês, que oscila entre a convicção de que se deve atribuir à educação a tarefa de servir a ordem social vigente e a convicção de que a educação deve preparar o indivíduo para uma sociedade futura (SUCHODOLSKI, 1976).

Emancipar o ser humano por meio da educação significa mudar radicalmente muitas ideias tradicionais sobre o ensino e muitas concepções puramente escolásticas do trabalho educativo e do desenvolvimento humano (SUCHODOLSKI, 1976). Significa a elaboração de projetos e políticas públicas voltadas para as necessidades reais do indivíduo em cada etapa de sua formação. Políticas públicas pensadas e elaboradas por profissionais realmente comprometidos com as mudanças necessárias. Significa investimentos em infraestrutura, formação e qualificação profissional e no desenvolvimento de projetos voltados para a formação humana integral. Políticas e projetos esses que serão apresentados no segundo capítulo desta dissertação.

CAPÍTULO 2 - TRAJETÓRIA DO ENSINO MÉDIO A PARTIR