• Nenhum resultado encontrado

Para Heller (2004, p 18),

CAPÍTULO 4 – O PROEMI À LUZ DA FORMAÇÃO: A ANÁLISE DA POLÍTICA DE EDUCAÇÃO NO CONTEXTO ESCOLAR

4.4 REORGANIZAÇÃO DO TEMPO

A reorganização do tempo passou por um processo de reestruturação nas diferentes versões dos Documentos Orientadores analisados, conforme determinação legal e as condições para o desenvolvimento do Programa, pelas redes de ensino e escolas. O Documento Orientador de 2009 sugere a carga horária mínima de 3.000 horas, mantendo-se 2.400 horas obrigatórias e que sejam implantadas de maneira gradativa mais 600 horas. O documento não indica a forma de ampliação da carga horária. Deixa a critério de escolha das Secretarias de Estado de Educação e de suas escolas participantes (BRASIL, 2009).

Os Documentos Orientadores de 2011 e 2013 mantêm a indicação da ampliação da carga horária para no mínimo 3.000 horas, estendendo- se 2.400 horas obrigatórias acrescidas de 600 horas a serem implantadas de forma gradativa. Entretanto, oportunizam, à escola, a escolha da ampliação do tempo escolar na perspectiva de 5 horas/dia, do tempo integral de 7 horas/dia (BRASIL, 2011, 2013).

O Documento Orientador de 2016 mantém a mesma determinação expressa nos anteriores: Carga horária mínima de 3000 horas, entendendo-se 2400 horas obrigatórias, acrescidas de 600 horas a serem implantadas de forma gradativa para redes de ensino, cujas unidades escolares ainda pratiquem somente 2.400 horas no período diurno (BRASIL, 2016).

No atual momento da educação brasileira, o conceito de educação integral e ou formação integral está relacionando diretamente com a ideia de ampliação do tempo. Isso ocorre tanto ao que diz respeito à quantidade de dias letivos, quanto ao aumento da carga horária semanal em que o aluno permanece na escola. No Ensino Médio, a reorganização do tempo, seja ela relativa à quantidade de dias letivos ou ao aumento da carga horária semanal na qual o aluno permanece na escola, vem sendo motivo de muitos questionamentos. O primeiro deles diz respeito à busca pela melhoria da qualidade do ensino, conforme estabelece a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN, nº 9.394/96). Mesmo sabendo que a educação integral possa se realizar em diferentes tempos e espaços, a ampliação da quantidade de horas em que o aluno deve se dedicar às atividades escolares aparece entre as principais discussões. Além disso, tornou-se uma das metas centrais das políticas públicas voltadas para essa concepção de ensino, dentre elas o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI).

No entanto, a ampliação do tempo de permanência do aluno na escola, por si só, não garante a melhoria da qualidade de ensino nem mesmo a formação integral. Essa ampliação, para adquirir a funcionalidade necessária, precisa estar associada a outros elementos que são considerados fundamentais quando nos referimos à formação integral. Associada à ampliação de tempo de permanência do aluno na escola, há a necessidade de elaboração uma nova proposta pedagógica que conduza a uma formação organizada para promover o acesso articulado aos conhecimentos científicos, tecnológicos e sócio-históricos (KUENZER, 2000), voltada para o desenvolvimento de todas as potencialidades do ser humano.

Vale ressaltar, ainda, que há a necessidade de se (re)pensar as concepções de educação, de sociedade e de ser humano que fundamentam a Proposta Curricular e ou o Projeto Pedagógico que orientam o trabalho a ser desenvolvido na escola como um todo. A ampliação do tempo escolar em uma concepção emancipatória e crítica, pressupõe um conjunto de práticas curriculares que se concentram na formação integral e na centralidade da escola e, também, na organização do trabalho dos profissionais da educação (KUENZER, 2000).

Suchodolski (1976) corrobora essa questão ao afirmar que há necessidade de investimentos em projetos e políticas públicas pensadas e elaboradas por profissionais comprometidos com as reais necessidades do indivíduo em cada etapa de sua formação. Pressupõe, a necessidade de investimentos em infraestrutura, formação e qualificação profissional e

no desenvolvimento de projetos voltados para a formação humana integral.

A Proposta Curricular de Santa Catarina, em seu processo de atualização, orientou-se por três fios condutores que se colocam como desafios no campo educacional, a saber:

1) perspectiva de formação integral, referenciada numa concepção multidimensional de sujeito; 2) concepção de percurso formativo visando superar o etapismo escolar e a razão fragmentária que ainda predomina na organização curricular e 3) atenção à concepção de diversidade no reconhecimento das diferentes configurações identitárias e das novas modalidades da educação. (SANTA CATARINA, 2014, p. 19).

A Proposta Curricular, produzida de forma participativa, envolvendo profissionais dos diferentes níveis, modalidades e áreas do conhecimento, assim como de representações dos movimentos sociais, expressa a diversidade de ideias e abordagens que caracterizam as pessoas que a construíram e os grupos que representam (SANTA CATARINA, 2014).

As versões dos Documentos Orientadores analisados não deixam explícito como a escola pode ampliar o tempo de permanência do aluno no ambiente escolar. Por isso, compreende-se que cada Secretaria Estadual de Educação e escolas participantes do programa podem definir a opção que melhor se adapte à sua realidade. Em Santa Catarina, essa organização ficou a critério da Secretaria de Estado da Educação, que determinou que essa ampliação deve acontecer no contraturno e em três dias por semana em tempo integral.

Para Thiesen (2011), (re)organizar o tempo garante, aos alunos, o acesso a diferentes maneiras de apropriação e de socialização significativa das informações e dos conhecimentos. No entanto, a falta de investimento pode impossibilitar a adequação da estrutura física, a aquisição de equipamentos diversos e de recursos pedagógicos voltados à reinvenção do cotidiano escolar.

A formação do aluno que ingressa no Ensino Médio Inovador não pode ficar restrita à ampliação do tempo escolar, mas sim estar alicerçada na ideia de ampliação dos espaços educativos, no redesenho curricular, “[...] enfatizando a interdisciplinaridade e a criação de macrocampos como estratégia para tornar o ensino dinâmico, produtivo, atrativo,

integrado e inovador e, consequentemente, de melhor qualidade.” (SALVINO; ROCHA, 2014, p. 2024).

A ampliação do tempo escolar, ao possibilitar a ampliação dos espaços educativos, promove maior diálogo entre as áreas do conhecimento e seus conteúdos e favorece o uso de metodologias diferenciadas. Essas possibilidades dinamizam e criam melhores resultados no processo de ensino-aprendizagem, conforme determinam os documentos orientadores analisados, centralizando o programa na ideia de integração entre educação integral, escola em tempo integral e formação integral.