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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.5. Multiculturalismo, Interculturalidade e Educação

1.5.1. A Educação inter/multicultural

Em Portugal, Stephen Stoer e Luiza Cortesão utilizam o termo educação inter/multicultural como um “conjunto de propostas educacionais que visam promover a relação e o respeito entre grupos socioculturais, mediante processos democráticos e dialógicos” (Fleuri, 2005, p. 93). Já Rocha (2006) usa o termo inter/multicultural, argumentando que os autores anglo-saxónicos utilizam a terminologia “multicultural” e os francófonos o termo “intercultural”.

Leal (2010) é de opinião que só uma Educação intercultural pode abrir a mentalidade das pessoas, assim como a resolução de conflitos de maneira não agressiva, que podem ser decorrentes das diferentes etnias, crenças religiosas e culturais. Assim, a educação das crianças e jovens na base da compreensão da diversidade poderá ajudá-los a ser mais participativos a estarem mais aptos para uma comunicação harmoniosa entre eles e futuras gerações, conclui o mesmo autor.

Contudo, como já foi referido anteriormente, a Educação intercultural implica uma transformação do “eu”, uma transformação da escola e uma transformação da sociedade, que se espera cada vez mais democrática (Leal, 2010).

O que é então a Educação intercultural? Cada autor tem a sua própria definição; mas, para todos, esta é uma abordagem que visa transformar as escolas e a educação. Para Neto (2007, p. 6), “ (…) a educação intercultural é uma educação adaptada às condições do tempo atual, em que existe uma diversidade cultural, ideológica e religiosa na sociedade, que os educadores não podem escamotear.”

Aguado, (1995, cit. por Aguado et al., 2002), entende a Educação intercultural como uma

abordagem Educativa baseada no respeito e apreço pela diversidade cultural. É dirigida a cada um/a e a todos/as os membros da sociedade como um todo, propondo um modelo integrado de envolvimento na educação das e dos estudantes que combine todos os aspectos do processo educativo de tal forma que possamos atingir oportunidades iguais / resultados para todos/as, ultrapassar o racismo nas suas várias manifestações e estabelecer a comunicação e competência intercultural.

É, portanto, mais ou menos consensual que a Educação inter/multicultural abranja um conjunto de práticas que tenham por objetivo responder à diversidade cultural, na área da Educação e, subsequentemente, na escola. Contudo, o seu objetivo basilar é o de «coordenar, incentivar e promover, no âmbito do sistema educativo, os programas e as ações que visem a educação para os valores da convivência, da

tolerância, do diálogo e da solidariedade entre diferentes povos, etnias e culturas» (Souta, 1997, cit. por Marques & Borges, 2012, p. 82).

Esta preocupação também está patente na Recomendação n.º 2/92, publicada no Diário da República n.º 57, a 8 de março de 2001, pelo CNE onde se pode ler:

A educação intercultural levará à compreensão e à aceitação da natureza multicultural das sociedades actuais, onde cada um respeitará a cultura do «outro». Integra, assim, um duplo objectivo: prevenir e elaborar respostas a eventuais problemas que a diversidade cultural apresenta e, sobretudo, promover a capacidade de convivência construtiva num tecido cultural e social heterogéneo, não para atenuar ou diluir as diferenças, mas para as respeitar. A educação intercultural porá em prática, desta forma o pensamento de Saint-Exupéry quando afirma: «Si je diffère de toi, loin de te léser, je t’augmente.» Para a construção holística de novas formas de cultura, em ambiente de educação intercultural, há que assegurar alguns pressupostos: a) Todos os homens são portadores de cultura; esta situação de multiculturalidade implica o reconhecimento positivo e a estima de todas as culturas em presença;

b) Este reconhecimento e esta estima concretizam-se não só no respeito e na compreensão mas também na visibilidade explícita da diversidade das referências culturais;

c) A interculturalidade é um processo permanente e dinâmico, gerador de novas formas culturais, como consequência da experienciação e da adopção espontânea das diferenças” (Diário da República, 2001, p. 4391).

Para Gorsky (2001, cit. por Aguado et al., 2002, p. 16), a Educação multicultural numa abordagem progressista, procura modificar uma educação que tem objetivos a curto prazo e uma prática discriminatória para uma educação com “ideias de justiça social, equidade educativa, e uma dedicação a facilitar experiências educativas nas quais todos os estudantes atinjam o seu potencial total como aprendentes e como seres socialmente conscientes (…) ”.

Para Banks (1997, cit. por Aguado et al., 2002, p. 16) a Educação intercultural pretende criar “oportunidades educativas iguais para todos os estudantes, incluindo os de raça, etnia e grupos de classes sociais diferentes “ e onde o ambiente escolar é modificado a partir da reflexão da existência de diversidade de culturas na sociedade e nas salas de aula ao que Aguado et al. (2002) denominam uma educação de qualidade.

Borges e Silva (2000, p. 1) creem que a Educação intercultural não visa somente o sucesso escolar, mas igualmente o sucesso educativo. Estas autoras destacam a importância “de desenvolver competências e atitudes que lhes permitam interagir e viver em sociedades, marcadamente multiculturais e os capacitem para lidar com a "diferença".”

Para Sousa e Neto (2003, p. 17-18) definir interculturalidade não tem sido consensual, pelo que muitos autores são de opinião de que a Educação intercultural inclui “práticas baseadas apenas nos currículos que expressem diversidades culturais e estilos de vida.” Ainda na opinião dos autores referidos, as respostas que a Educação dá à diversidade da população escolar nem sempre falam em hegemonia cultural, havendo alguns que emergem da teoria do pluralismo cultural em que o “grupo étnico preserva as origens, partilhando, no entanto, simultaneamente, um conjunto de caraterísticas culturais e de instituições com os restantes grupos.”

Para Aguado et al. (2002), quando o educador/professor, em comemorações isoladas trabalha, por exemplo, a “semana intercultural” ou quando menciona as características dos “outros”, ou mistura alunos de culturas diferentes sem que relações positivas sejam promovidas não está a trabalhar uma Educação intercultural. Cochito (2004, cit. por Leal, 2010, p. 22) corrobora com esta ideia e acrescenta o incluir “outras culturas” nos temas dos programas, celebrar festas e a data dos “outros”, fazer uma campanha de slogans sobre os direitos humanos ou como tantas vezes se faz, reproduzir um conhecimento “estereotipado do outro”. Esta autora acrescenta que a Educação Intercultural também não é “dar voz” às minorias, de modo a amenizar o embate enquanto “aprendem” a integrar-se na sociedade. Remata dizendo que, na Educação Intercultural não se trata de falar nas diferenças que nos separam, mas sim daquelas que nos unem. Falar em educação intercultural é “participar, em plena igualdade de oportunidades e direitos, na construção de uma sociedade que assenta na diversidade” (p. 22).

Leal (2010, p. 22) afirma ainda que a Educação Intercultural tem a responsabilidade de inculcar “nas crianças e jovens, valores como a compreensão da diferença, o respeito pelo Outro como ser humano (…) ” havendo uma comunicação e colaboração entre todos que tenham origens diferentes, com a certeza de que será um “enriquecimento mútuo”.

Lopes-Cardoso (2008, p. 25) refere-se à Educação intercultural como inter- relação e “intercâmbio de saberes, de experiências e de culturas.” Mas chama a atenção para o facto de acontecer, com frequência, que a cultura dominante do país de acolhimento apareça como cultura de referência, sendo a cultura dos emigrados deixado para segundo plano “sem ser apreendida e aceite de forma global.”

Rocha (2006) lembra que a Educação intercultural não existe só para as crianças imigrantes, mas sim para todos, pois é com a diversidade que se aprende e Gonçalves (2013) reitera que a Educação Intercultural é um meio de promoção de coesão e justiça social, que exige o conhecimento e reconhecimento do outro, que promove o respeito, a comunicação e uma convivência social entre as várias culturas.

Quanto às instituições educativas Lorigo (2011, p. 11) pede uma reestruturação porque só com um “movimento de reforma educativa” é que todos os alunos, “independentemente da classe social, raça, cultura e sexo” têm uma igualdade de oportunidades de aprendizagem.

Cardoso (1996, cit. por Matos & Brito, 2013) alerta para a necessidade de uma escola com um sistema de estratégias organizadas, currículos e práticas pedagógicas, que consiga promover a tolerância e compreensão de culturas diferentes.

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