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PARTE II – ESTUDO EMPÍRICO

1. ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1.4. A Educação Pré-escolar e a diversidade cultural

1.4.2. O Papel do Educador/Professor

Pensamos ser pertinente colocar as seguintes questões: De que modo os Educadores contribuem para o processo de mudança escolar e social, encarando como facto incontornável a diversidade cultural? Como tem sido esta abordada na EPE? Como poderá ser a EPE um veículo de inclusão de crianças para a promoção de igualdade de oportunidades e de uma equidade na Educação? Como poderão os Educadores contribuir, de modo pertinente, para o conhecimento de algo que auxiliará as crianças a serem futuros adultos livres de preconceitos numa sociedade pluricultural?

Segundo a Lei 4/97 de 10 de fevereiro no artigo 2.º, como Princípio Geral, está citado que “a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação básica no processo de educação ao longo da vida, sendo complementar da ação educativa da família, com a qual deve estabelecer estreita cooperação, favorecendo a formação e o desenvolvimento equilibrado da criança, tendo em vista a sua plena inserção na sociedade como ser autónomo, livre e solidário”.

Os Educadores têm que acreditar que é sua a responsabilidade de educar as crianças, seja qual for a idade, formá-los para que, no futuro, se integrem na sociedade. É deste princípio, que o Educador deve partir quando define as estratégias pedagógicas, depois de conhecer o grupo de crianças com quem vai trabalhar, tal como está descrito nas OCEPE.

Para Lorigo (2011, p. 11), “a educação, enquanto processo dialógico, formativo e transformativo, supõe, necessariamente, um contacto, uma transmissão e uma aquisição de conhecimentos, mas também um desenvolvimento de competências, hábitos e valores”. Assim, para esta autora, a educação não é só uma reprodução de saberes e das culturas, mas tem de produzir novos saberes e novas expressões culturais. Para isso, tem de se valorizar a escola para que todos favoreçam da pluralidade de culturas, sendo importante que os educadores, que podem e devem fazer uma gestão flexível dos currículos, desenvolvam metodologias ativas assim como estratégias pedagógicas para assegurar uma aprendizagem cooperativa. O Educador deve ser capaz de reconhecer o ”mosaico cultural” com que se depara na sala, ativando um conhecimento profundo sobre “os traços culturais e identitários das crianças com quem trabalha” para ultrapassar os estereótipos que frequentemente surgem em realidades diferentes das habituais (Marques & Borges, 2012, p. 99).

De facto, qualquer currículo ou abordagem de conteúdos interculturais é um desafio para o Educador pois, para além de fornecer conhecimentos às crianças, tem de saber como articular os conteúdos num processo de ensino-aprendizagem com a realidade sociocultural que envolve as crianças (Marques & Borges, 2012).

Lorigo (2011, p. 31) defende “um ensino especializado e individualizado, de caráter transversal”, em que os Educadores, nas estratégias que desenvolvem, as conciliem com os interesses das crianças para assim facilitar as aprendizagens. Nelas, os Educadores devem reconhecer os fatores que desfavorecem as minorias e “as especificidades étnicas, culturais, linguísticas e sociais não devem ser negligenciadas”, adverte a autora. Igualmente, o Educador deve ter em conta as suas conjeturas pessoais sobre as crianças, as suas famílias e os seus ambientes, reconhecendo “eventuais conotações racistas” nos seus discursos, nas relações com as crianças e famílias destas exigindo de si mesmo que a tolerância “oriente a forma como pensa, sente e se comporta” perante as crianças (Lorigo, 2011, p. 26-27).

O papel do Educador é determinante para a promoção da igualdade de oportunidades educativas e para gerir o currículo num sentido multicultural; tem de levar as crianças a conhecer os direitos de todos e da dignidade humana, assim como tem de ser capaz de descobrir as diferenças individuais em grupos de diversidade cultural, diferenças que passam despercebidas “para além das que se prendem com a raça, cor de cabelo e olhos, género, peso, etc.” (Lima, 2013, p. 95).

Mais uma vez, recordamos que as OCEPE (2016) estão baseadas em objetivos globais pedagógicos definidos pela Lei-Quadro (Lei n.º 5/97, de 10 de fevereiro) e servem para apoiar o Educador a construir e gerir o currículo, sendo essa a sua responsabilidade, juntamente com a equipa educativa do estabelecimento de ensino e agrupamento. No desenvolvimento desse processo deve contar com a participação de diferentes intervenientes, nomeadamente crianças, os outros profissionais e pais/cuidadores/família.

Com efeito, cada criança não se desenvolve e aprende apenas no contexto de educação de infância, mas sobretudo em outros em que viveu ou vive, nomeadamente no meio familiar. As práticas educativas e cultura própria influenciam o seu desenvolvimento e aprendizagem e é neste sentido, que o/a educador/a deve estabelecer relações próximas com esse outro meio educativo, reconhecendo a sua importância para o desenvolvimento das crianças e o sucesso da sua aprendizagem.

Face à diversidade cultural, aprender numa escola tradicionalmente monocultural, deixa de ser “apenas a aquisição de factos e conhecimentos” para se tornar cada vez mais no desenvolvimento de “capacidades reflexivas e críticas” (Borges & Silva, 2000, p. 2).

Todas as crianças têm o direito à educação para uma igualdade de oportunidades (Convenção dos Direitos da Criança, 1989, art.º 28 e 29) sendo que a equidade tem de estar presente em cada uma das ações educativas promovidas pelo Educador. A equidade, segundo Aguado et al. (2002, p. 213), refere-se à diversidade

como um princípio geral que deverá guiar cada decisão educativa para garantir a justiça e, assim, ao promover a igualdade, “poderemos caminhar no sentido da equidade nas escolas”.

Na opinião de Vieira (2013, p.121), para o educador/professor “educar na e para a diversidade”, deve conhecer o seu “eu pessoal e profissional” e Zeichner (1993 cit. por Vieira, 2013, p. 119) reforça que os professores devem ter “um sentido muito claro da sua própria identidade étnica e cultural, para compreenderem os seus alunos e respectivas famílias.” Só após isso, o Educador poderá desenvolver na criança atitudes que lhes permitam viver numa sociedade multicultural ajudando-as a entender e ter respeito pela diferença. As diferenças devem ser encaradas, não como uma descriminação, mas como algo enriquecedor (Jórdan, 1996 cit. por Franco, 2006).

Franco (2006) alerta para o facto de que as primeiras experiências da vida são as que marcam verdadeiramente a pessoa. As crianças na EPE têm-nas, por responsabilidade do educador que deve estar consciente de que, quando essas experiências são positivas, tendem a fortalecer, mais tarde, atitudes de autoconfiança, cooperação, solidariedade e responsabilidade.

A falta de conhecimento é responsável pelos estereótipos que existem sobre culturas que não se conhecem e os alunos que pertencem a minorias étnicas tendem a ser desrespeitados o que lhes causa uma baixa autoestima e provoca o baixo sucesso na escola e por vezes mesmo o abandono (Franco, 2006).

Pereira (2004, cit. por Rocha, 2006, p. 68) defende que “as atitudes dos professores são uma questão central na educação multicultural, delas dependendo a eficácia ou o insucesso de qualquer programa.” Os Educadores deverão promover a partilha de culturas para que todos possam caminhar juntos para uma sociedade onde hajam novas oportunidades e novos valores (Franco, 2006).

Lorigo (2011, p. 30) explica que uma “escola para todos”, e em que “todos são diferentes”, exige de cada professor a capacidade e a flexibilidade para inovar na linha de um paradigma que proporcione o êxito e a mudança, sem despersonalizar”.

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