• Nenhum resultado encontrado

A relevância de traçar alguns aspectos desta modalidade de ensino – que é a Educação de Jovens e Adultos (EJA) – para esta pesquisa, consiste no fato de que a população da amostra, além de englobar os alunos do ensino médio regular, também contempla os alunos desta modalidade do ensino médio.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDBEN/nº 9394 (BRASIL, 1996), ao se referenciar à EJA na seção V do capítulo II diz que “A educação de jovens e adultos será destinada àquelas que não tiveram acesso ou continuidade de estudos no ensino fundamental e médio na idade própria.”

Desse modo, de acordo com Di Pierro, Joia e Ribeiro (2001), encontramos no ambiente da EJA um largo segmento da população cuja conjunção se dá através de três trajetórias escolares diferenciadas: aqueles que iniciam a escolaridade já na condição de adultos trabalhadores; aqueles adolescentes e adultos jovens que ingressaram na escola regular e a abandonaram há algum tempo, frequentemente motivados pelo ingresso no trabalho ou em razão de movimentos migratórios e, finalmente, aqueles adolescentes que ingressaram e cursaram recentemente a escola regular, mas acumularam aí grandes defasagens entre a idade e a série cursada.

Segundo Carrano (2007), essa população constituinte no ambiente da EJA faz-se necessária, pois ela talvez seja o único espaço de aprendizagem, de troca de experiências, de produção para projetos futuros e de oferta de atividades culturais para eles. Assim, para este autor, a finalidade da aprendizagem na EJA é a que nós, educadores, precisamos (re)conhecer a trajetória desses sujeitos, compreendendo contextos não escolares, cotidianos e históricos mais amplos em que estão imersos.

Para Moreira e Ferreira (2011), o caráter formador e reflexivo da EJA faz-se por meio de práticas educativas capazes de partirem da realidade do educando, bem como de lhe possibilitar uma tomada de consciência de si próprio. Dessa maneira, para esses autores, o ensino na EJA:

[...] deve agregar aspectos motivacionais, valorizar o sonho, o desejo de mudança, respeitando e reconhecendo os saberes construídos ao longo da vida [...] deve permitir a esse educando viver com dignidade, tendo

garantida sua condição de cidadão. A escola erra quando não considera estas questões e funda o processo educativo na transmissão e assimilação de conteúdos principalmente conceituais, predeterminados, transmitidos através de ritmos médios, com foco no produto e pouca atenção às diferenças existentes entre os educandos. Procedendo dessa forma, desconsidera o indivíduo real e social que está diante desta escola em busca de uma ressignificação do saber para a vida (MOREIRA; FERREIRA, 2011, p. 605).

Assim, visando analisar as observações supramencionadas e, diante delas, avaliar a necessidade/possibilidade de apresentar propostas curriculares flexíveis para esta modalidade de educação, faz-se necessário um novo enfoque curricular – a abordagem temática.

Pode-se citar, entre muitos trabalhos que já foram desenvolvidos com esta modalidade de ensino e trouxeram resultados positivos para o novo estilo de pensamento curricular da abordagem temática, alguns principais como: Bagetti e De Bastos (2004), Muenchen (2006), Ferreira (2009), Forgiarini e Auler (2009) e Watanabe-Caramello e Strieder (2011).

O trabalho de Bagetti e De Bastos (2004), intitulado: “Educação, movimentos sociais e formação de professores: o projeto CUIA no contexto da reforma agrária brasileira!” tinha como meta a escolarização recorrente e a capacitação alfabetizadora de jovens e adultos, via investigação-ação no processo educativo, de forma colaborativa, com vista à produção da transformação cultural-escolar.

O trabalho de Muenchen (2006), intitulado “Configurações curriculares mediante o enfoque CTS: desafios a serem enfrentados na EJA” tinha como objetivos: identificar e discutir posicionamentos de professores da EJA quanto à utilização de temas/problemas de relevância social em suas aulas e identificar e discutir estrangulamentos a serem enfrentados nas instituições escolares.

Já o trabalho de Ferreira (2009), intitulado “Abordagem temática na EJA: sentidos atribuídos pelos educandos a sua educação científica” tinha como objetivo: investigar e identificar os sentidos que educandos jovens e adultos atribuem a uma prática educativa nomeada “Seminários Interativos” e o seu significado para sua educação científica.

Enquanto o trabalho de Forgiarini e Auler (2009), intitulado “A abordagem de temas polêmicos na educação de jovens e adultos: o caso do ‘florestamento’ no Rio Grande do Sul” tinha como objetivo: investigar e identificar possibilidades e desafios a serem enfrentados quanto à implementação do tema, considerado polêmico, o

“florestamento” no RS, no currículo de quatro escolas da EJA, situadas em municípios com intensas plantações de monoculturas de eucalipto, pinus e acácia.

No trabalho de Watanabe-Caramello e Strieder (2011), intitulado “Elementos para desenvolver abordagens temáticas na perspectiva socioambiental complexa e reflexiva” tinha como objetivo: investigar elementos de práticas de sala de aula que potencialmente possam vir a contribuir para uma postura reflexiva, em relação a questões socioambientais. Para alcançar tal objetivo, os autores acompanharam licenciandos em Física na elaboração, implementação e desenvolvimento de uma sequência de aulas sobre Mudanças Climáticas para 50 alunos do ensino médio, entre eles, haviam alunos da educação de jovens e adultos – EJA.

O presente trabalho, em consonância com as discussões já realizadas busca, entre outros objetivos, analisar os avanços alcançados por professores de uma escola pública de ensino médio do município de Restinga Sêca/RS quando estes implementam intervenções curriculares na perspectiva da abordagem temática em turmas do ensino médio regular e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Este capítulo diz respeito à(s) forma(s) de levantamento dos dados, sua classificação, etapas, coleta de dados, a planificação e descrição da análise e validação, bem como os fundamentos de sua abordagem. Além disso, neste capítulo serão abarcados: os sujeitos da pesquisa, o contexto na qual ela ocorreu, o problema de investigação e os objetivos deste trabalho, o processo de escolha dos temas implementados e o processo formativo que envolveu os professores.

Os procedimentos metodológicos encontram-se correlacionados e articulados ao capítulo anterior, do referencial teórico, e ao capítulo posterior, ou seja, o dos resultados alcançados bem como de sua análise e discussão.