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2. Introdução

2.4 A Educação para a Carreira em outros países

A Educação para a Carreira se expandiu para outros países que viviam um contexto semelhante ao estadunidense. No Canadá, por exemplo, Pelletier, Bujold e Noiseax desenvolveram a Teoria para Ativação do Desenvolvimento Vocacional e Pessoal (ADVP), que teve um grande impacto também na França. Baseados na abordagem desenvolvimentista de Donald Super, na teoria da inteligência de Guilford e na Psicologia humanista de Rogers, concentraram-se em criar estratégias que estimulassem os aspectos cognitivos e afetivos subjacentes às tarefas vocacionais, sempre por meio de exercícios vivenciais com os alunos (Teixeira, 2011).

Rodríguez Moreno (1997) comentou sobre a chegada do movimento da Educação para a Carreira na Espanha a partir de 1979, quando estudiosos em orientação profissional daquele país tiveram contato com as ideias de Kenneth Hoyt, Edwin Herr e Antoine León numa conferência realizada em Cambridge, no mesmo ano, sobre orientação e currículo. No início dos anos 90, a Educação para a Carreira foi gradualmente implantada com o envolvimento de muitos pesquisadores e a colaboração de estudiosos norte-americanos e britânicos, o que favoreceu a profusão de pesquisas na área relativas à criação de instrumentos diagnósticos, interfaces família-carreira-sociedade, propostas interventivas, entre outros.

Começaram também a aparecer, nesse período, as primeiras políticas públicas de apoio ao campo. Embora o movimento da Educação para a Carreira na Espanha tenha tido esses ricos desdobramentos, Rodríguez Moreno (1997) apontou que está longe de ser popular e integralizado nos projetos curriculares; isso exigiria um grande profissionalismo, trabalho em

equipe dos docentes e uma força política impulsionadora nos Departamentos de Orientação Escolar. Somadas a isso, as mais recentes alterações partidárias desfavorecem muito quando prezam pela descontinuidade das políticas empregadas pelo governo anterior.

Watts (2001) comentou que a Educação para a Carreira passou a fazer parte dos currículos escolares na Grã-Bretanha ainda nos anos 70. Com o surgimento do currículo nacional na Inglaterra e País de Gales na década de 90, a mesma foi incorporada como um dos cinco temas transversais, junto com a Educação para a Saúde, Compreensão Econômica e Industrial, Educação Ambiental e Cidadania e passou a ser oferecida desvinculada dos conteúdos curriculares principais.

Como os temas transversais não tinham uma força legal e não eram formalmente avaliados, a tendência foi a marginalização dos mesmos nas escolas. Com a revisão do currículo nacional em 1999 (House of Commons, 2009), a educação para a carreira passou a fazer parte do Programa Integrado de Saúde Educacional, Social e Pessoal (Integrated Personal, Social and Health Education Programme – PSHE) e por ter se aproximado da questão da cidadania, se tornou obrigatório o seu oferecimento aos alunos. Entretanto, a natureza desse oferecimento não fica especificada, mantendo-se a parte do currículo escolar.

Prideaux, Patton e Creed (2002), analisando a situação da Educação para a Carreira na Austrália, perceberam que a maioria dos programas não se encontra integrada ao currículo escolar e é caracterizada por uma abordagem imediatista, do tipo “band-aid”, acrítica e periférica, o que traz grandes transtornos ao campo. Acrescentaram que é mais fácil argumentar sobre a importância da Educação para a Carreira do que colocá-la na prática: as escolas são locais extremamente movimentados, os professores estão constantemente se esforçando para lidarem com mais funções e deveres, o currículo já está comprimido, os alunos precisam responder aos desafios da nova realidade das carreiras e os pesquisadores da área ficam engessados frente às possibilidades de experimentação de projetos na escola devido à necessidade de seguirem o protocolo do rigor metodológico (tempo para desenvolver o estudo, consentimento dos pais, entre outras limitações práticas).

O relatório da Organization for Economic Co-operation and Development (OCDE, 2004) sobre orientação profissional e políticas públicas trouxe um anexo com a situação mais atualizada da Educação para a Carreira em outros quatorze países.

Na Áustria há um programa de trinta e duas horas que é desenvolvido com alunos de 7ª e 8ª séries. Entretanto, tal conteúdo pode ser integrado junto a outras disciplinas.

No Canadá há formas diversas de oferecimento da educação para a carreira, dependendo do estado. Na Colúmbia Britânica, por exemplo, é oferecido um programa desde as séries iniciais (infantis); já em Alberta, há um curso obrigatório na 11ª série apenas.

Na República Tcheca, a educação para a carreira está incluída no currículo para alunos da 7ª à 12ª série. A escola pode decidir como ministrá-la, se separadamente ou junto a outras disciplinas. Cerca de 25% das escolas a oferece como disciplina em separado.

Na Dinamarca, a educação para a carreira é obrigatória da 1ª à 9ª série. Na Finlândia, as novas mudanças curriculares obrigaram a inclusão da educação da carreira na educação básica. Além disso, os municípios são responsáveis por apresentar um plano sobre o serviço e como ele é disponibilizado, descrevendo ainda a ação dos diferentes atores envolvidos numa perspectiva intersetorial e multiprofissional.

Na Alemanha, as escolas incorporaram o aprendizado sobre o mundo do trabalho (Arbeitslehre) ao currículo. As aulas são complementadas por visitas ou experiências de trabalho, tendo um foco menor sobre o autoconhecimento e planejamento de carreira.

Na Irlanda, a educação para a carreira não é obrigatória. Há módulos que são oferecidos na educação secundária para cerca de 24% dos alunos.

Na Coréia, a educação para a carreira está sendo incluída no currículo e não é obrigatória. As escolas e os estados ficam responsáveis para decidirem como vão oferecê-la.

Em Luxemburgo, a educação para a carreira não é obrigatória; entretanto as escolas começaram a implantar projetos pilotos para alunos da 7ª à 9ª série.

Na Holanda, há disciplinas que trabalham o conteúdo, mas não fica claro se todas são obrigatórias ou não.

Na Noruega, a educação para a carreira é um princípio norteador do currículo nacional para a educação básica. Entretanto, na prática, é exercida para alunos da 8ª à 10ª série.

Watts (2001) mencionou que o oferecimento de programas de educação para a carreira tem crescido. Geralmente são oferecidos a indivíduos que se encontram mais próximos da transição escola-trabalho, mas há um movimento no sentido de oferecer programas a estudantes de séries iniciais, conforme alguns estudos que sugerem a inserção dessa temática desde a infância (Arrington, 2000; Hartung, Porfeli & Vondracek, 2005; Watson & McMahon, 2005). Assim como Prideaux, Patton e Creed (2002), argumentou que a educação para a carreira integrada ao currículo escolar seria mais interessante, porém de difícil aplicação.

A partir destes achados, a questão que passou a nos instigar, enquanto orientadoras profissionais, foi se os princípios da Educação para a Carreira defendidos por Kenneth Hoyt e Marland Jr. ainda seriam aplicáveis à educação brasileira contemporânea. Pensando nisso, retomamos alguns pontos importantes sobre a história do campo da orientação profissional no Brasil e seus desdobramentos, a fim de melhor compreendermos de onde estávamos partindo e quais as perspectivas que poderiam se desenhar à frente.