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A EMEIF Herbert de Souza: parafraseando Paulo Freire e Fre

4 A ESCOLA DOS MEUS SONHOS RECHEADA DE REALIDADE

4.2 A EMEIF Herbert de Souza: parafraseando Paulo Freire e Fre

A EMEIF Herbert de Souza é “o lugar onde se faz amigos” não se trata só de um prédio de muro verde, com 12 salas de aula, biblioteca, refeitório, laboratório de informática, com quadros, projetos pedagógicos, “horários, conceitos...”.

A EMEIF Herbert de Souza é, sobretudo, gente. Gente que: trabalha, tal a Elena, a Patrícia, o Mardônio, a Graça, a Nicinha, a Lourdes, a Neusa, o Júlio César, a Dona Raimunda, a Dona Maria, a Marilene; estuda, como a Luana, a Éricka, o Gabriel, a Joice, o André; se alegra, que nem o Walisson, a Jovana, a Ana Kécia; se conhece como a Gercina; se estima, como a Amenáide e a Leudinha.

A diretora Ana Cristina é gente. As coordenadoras Gracy, Cícera, Mirlena, Mazé e Rosa são gente, o professor João, o professor Lúcio, o professor Wellington são gente, a professora Jesus, a professora Elaine, a professora Aurileide, a professora Arlene, a professora Angela, a professora Iranir, a professora Elenice, a professora Marinete, a professora Iolanda, a professora Rafaela, a professora Daniele, a professora Jaqueline, a professora Lídia são gente, os estudantes Mateus, Danilo, Geovane, Natalia, Jenifer, Lara Fábia são gente, cada funcionário como o Souza, o Salomi, a Renata, a Roberta, a Zuleide, a Salete são gente.

Na escola dos meus sonhos recheada de realidade, os estudantes tiveram a oportunidade de aprender a cozinhar e aprender a ter uma alimentação mais saudável. Aprenderam como fazer compras no mercantil da esquina economizando e aplicando melhor o dinheiro, a tirar leite da vaca lá na vacaria do

13Inicialmente me propus a preservar o formato original dos textos, mas esteticamente não pareceu

adequado, por isso como forma de destaque, iniciei e conclui com a releitura do texto de Paulo Freire.

bairro e, ao dono do lugar, pedir esterco para servir de adubo para a horta da escola. Eles plantaram e colheram verduras para a merenda escolar, sabiam as propriedades medicinais de ervas e plantas, recolhiam resíduos orgânicos para colocar na composteira e ainda “caçavam” minhocas para arejar a terra dos canteiros. Eles cantaram no coral, tocaram na bandinha, entoaram melodias em suas flautas, dançaram e se divertiram muito. Durante todos os meses do ano, eles se transformavam e coloriam todo o ambiente com seus sorrisos e fantasias. Eles eram médicos, professores, engenheiros, policiais, veterinários. Eram banhistas de chuva e de chuveiro. Eram fadas, reis, príncipes e princesas, bruxas e vilões terríveis. Eram atletas e escritores literatos, leões, cachorros, sapos e ratos, bonecas de pano e sabugo de milho. Eram árvores, nuvens e muros. Eram imortais sanfoneiros, eram bailarinas. Eram cangaceiros, crianças, adolescentes, homens e mulheres. Aprenderam, portanto, que, se olhassem pela lente da vida-escola- caleidoscópio, perceberiam que lá fora há outras cores além das tristes e escuras tintas que alguém usou para pintar a vida-morte, a vida-drogas, a vida-fome, a vida- violência, a vida-dor.

“Não há temas tabus. Todas as situações-limite da vida são tratadas com abertura e profundidade: dor, perda, falência, parto, morte, enfermidade, sexualidade e espiritualidade.” (BETTO, 2013). Na maioria das vezes, os estudantes aprendem o texto dentro do contexto: a Matemática buscava exemplos nas contas do supermercado montado no refeitório da escola e nos pedaços do bolo que todo mundo ajudou a fazer; o Português estava na escrita de premiados textos sobre o trabalho infantil, na fala dos pequenos apresentadores de TV, de atrizes e atores que criavam situações do mundo fantástico e encenavam o cotidiano de um bairro da periferia da cidade de Fortaleza; a História foi contada quando ouvimos sobre as lembranças dos mais antigos moradores do bairro, que descreviam o riacho que passava em frente à escola e o casarão do velho coronel quando ainda não abrigava as vozes dos estudantes correndo e brincando de carimba no pátio na hora do recreio; a Ciência foi medida, pesada, acompanhada pelo Dr. Eugênio14, pela Dra.

Sinhara15, pelos profissionais do NASF 5516 e pelos agentes do Centro de Saúde da

14Pediatra da Unidade de Saúde da Família Argeu Herbster. 15Dentista da Unidade de Saúde da Família Argeu Herbster.

16Núcleo de Atendimento a Saúde da Família que atendia na Unidade de Saúde da Família Argeu

Família Argeu Herbster que ensinavam cuidados com a saúde, com os dentes, com a alimentação e com o danado do mosquito da Dengue!

Na escola dos meus sonhos recheada de realidade, a interdisciplinaridade permitiu que a Geografia e a Literatura se complementassem quando estudamos sobre a vida do sertanejo na obra de Patativa do Assaré; “[...] a multidisciplinaridade faz com que a História do livro seja estudada a partir da análise de textos bíblicos” (BETTO, 2013); a transdisciplinaridade introduz a dança e associa a história da cultura de vários povos, às expressões do corpo, da mente e do coração.

Na escola dos meus sonhos recheada de realidade, a maioria dos professores participavam periodicamente de encontros de estudo e de capacitação, partilhavam entre si a alegria, a criatividade, o compromisso, a corresponsabilidade, a competência e comungavam os princípios fundamentais da proposta pedagógica e didática da escola. “Porque era uma escola com ideologia, visão de mundo e perfil definido do que seja democracia” (BETTO, 2013) e o valor do outro. Essa escola sempre se prontificou a formar cidadãos.

Havia uma integração entre escola, família e comunidade. Os pais eram companheiros no dia a dia da escola, ajudavam a fazer a merenda dos seus filhos, opinaram sobre como a escola estava caminhando e participaram das decisões, além de contribuírem com sugestões para a melhoria da aprendizagem de suas crianças. A política era construída quando os estudantes definiam sobre o que queriam aprender no PME, quando escolheram o nome da Biblioteca e quando tomavam atitudes para a melhoria do clima escolar e das relações interpessoais.

Algumas das provas ainda eram baseadas no prodígio da memória e na

sorte da múltipla escolha, mas, como fazia minha amiga J. S., professora do 5º Ano,

no dia da prova sobre a Independência do Brasil, os estudantes traziam para a classe a bibliografia pertinente e, dadas as questões, consultavam os textos, aprendendo a pesquisar. Não há coincidência entre o calendário gregoriano e o curricular, nem aquelas “festinhas” sem propósito “pro povo ver”.

Para aqueles que estavam na EMEIF Herbert de Souza era mais importante educar, mas também era importante instruir; apresentar outras possibilidades às crianças que quisessem ensinar a mudar o mundo que está ao redor deles e para além deles. “Dentro de uma concepção holística, ali a ecologia ia do meio ambiente aos cuidados com nossa unidade corpo-espírito e o enfoque curricular estabelecia conexões com o noticiário da mídia” (BETTO, 2013).

Na escola dos meus sonhos recheada de realidade, a maioria dos professores passava o dia inteiro lá. Eles riam, brincavam e conversavam bastante na hora do almoço, não precisavam pular de colégio em colégio, pois se sentiam bem trabalhando ali. Era a escola de uma comunidade sofrida pelos algozes sociais da impiedade e da violência, mas fazia a diferença na vida daqueles que passaram por ela.

Importante na EMEIF Herbert de Souza “[...] não era só estudar, não era só trabalhar, era também criar laços de amizade, era criar ambiente de camaradagem, era conviver, era se ‘amarrar nela’!” (FREIRE, 2013). Ora, é lógico... numa escola assim é fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, é fácil ser feliz.

Depois de uma descrição repleta de memórias meio que ainda enganchadas com o presente, proponho-me nesse capítulo introdutório à pesquisa, situar a EMEIF Herbert de Souza histórica, social e pedagogicamente.