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Ano I – setembro de 2008 a fevereiro de 2009

4 A ESCOLA DOS MEUS SONHOS RECHEADA DE REALIDADE

4.7 O Programa Mais Educação na EMEIF Herbert de Souza

4.7.1 Ano I – setembro de 2008 a fevereiro de 2009

Em 2008, recebemos o desafio de implantar o PME em nossa escola sob os olhares e as expectativas de ressignificar o tempo, o espaço e o fazer pedagógico frente essa nova proposta de Educação Integral. A EMEIF Herbert de Souza e mais 99 (noventa e nove) outras unidades escolares, distribuídas nas 06 (seis) Regionais da Rede Municipal de Ensino de Fortaleza, tinham a prerrogativa de fazer mais, para que o Programa desse os seus primeiros passos de credibilidade na sua efetivação enquanto política indutora e não, como simplesmente uma política de governo.

Assim, aderimos ao Programa contemplando no primeiro Plano de Atendimento29 o total de 150 (cento e cinquenta) estudantes de 2º ao 5º ano,

optando pelas atividades de letramento, judô, horta escolar, teatro, recreação e canto coral. A escolha das atividades do Programa foi feita de maneira compartilhada com a comunidade escolar por meio de consulta ao conselho escolar, aos professores e aos estudantes, estes alvo maior das ações.

Durante o primeiro ano de construção da proposta, os conceitos fundamentais da Educação Integral ainda não estavam bem estabelecidos em nossa vivência. A construção da proposta e a compreensão dos fundamentos do Programa requereram de nós mudança de visão, estudos e além de maleabilidade pedagógica na quebra de paradigmas, a fim de nos apropriarmos dos novos conceitos: a elaboração de uma proposta de currículo integral, a superação da ideia de turno e

contra-turno; a compreensão de Fortaleza e da comunidade circunvizinha como espaços educadores, o reordenamento dos espaços escolares, a valorização dos saberes comunitários; a necessidade de parcerias e diálogos com outros setores a

fim de promover a intersetorialidade somando esforços para o fortalecimento desses

29Plano de atendimento registrado na plataforma do Sistema de Monitoramento e Controle (SIMEC)

diálogos e ações em prol da novo modelo de educação. Importa destacar que o acompanhamento da Secretaria Municipal de Educação de Fortaleza (SME) nesse período e as publicações do Governo Federal foram essenciais nessa construção.

As primeiras ações desenvolvidas eram, em sua maioria, dissociadas da rotina e do currículo regular. Não entendíamos a necessidade desse diálogo que deveria permear a proposta de um “macro” currículo, por isso iniciamos cada oficina com um currículo próprio, sem qualquer perspectiva de um trabalho interdisciplinar. Somente na oficina de letramento, conseguimos estreitar o diálogo com o que estava

acontecendo na sala de aula e essa nova abordagem sugerida para as atividades da oficina.

O trabalho desenvolvido a partir da proposta de projetos de Leitura e Escrita, integrando as ações do PME, os conteúdos da sala de aula e as ações do PDE Escola que estavam sendo efetivadas no mesmo ano. Dentre as ações, destaco o Projeto Contos de Fadas, que integrou os espaços da sala de aula com os das oficinas de letramento, de teatro e de música.

O Projeto não permeou somente os espaços educativos da escola como biblioteca, pátio, laboratório, refeitório que se ressignificavam pela necessidade da realização das atividades, mas interligou outros tempos que se estendiam para além do horário de aula, envolvendo as crianças, professores e monitores nos ensaios, na construção dos cenários e das fantasias, na leitura, construção dos textos e da trilha sonora das peças.

Foi nascendo a partir daí um sentimento diferente, algo que juntava estudantes, professores e funcionários em um fazer mais significativo. Esse sentimento era materializado pelas mãos daqueles que estavam envolvidos no projeto construindo uma proposta que era palpável e continuava até mesmo depois de tocar o sino. Era a aprendizagem pela experiência, tão proclamada por Dewey, conforme descreve Lorieri (2010, p. 46):

Conhecimentos e o domínio do processo de produzi-los não se adquirem por transmissão linguística diretamente de uma pessoa que o sabe realizar para outra que não o sabe bem. Conhecimentos somente são aprendidos ou desenvolvidos quando fazem parte da totalidade significativa de uma experiência qualquer e quando a pessoa que está envolvida na referida experiência. Isto é, só se aprendem significações ou conceitos no interior da prática e com vistas à prática.

A partir dessa iniciativa, foram ampliados os Projetos de Leitura e Escrita, agregando a oficina de teatro que trabalhava os textos estudados na oficina de letramento adaptando-os para o desenvolvimento das habilidades cênicas, da aplicação de jogos teatrais e das vivências.

Durante esse ano, estava sendo concluída a reforma e a construção das novas salas de aula da Educação Infantil e das turmas de 1º e 2º anos do Ensino Fundamental. Tivemos muitas dificuldades para organizar as atividades nos poucos espaços que estavam disponíveis. Utilizávamos o pátio (que não era coberto) para as atividades de judô e recreação, reordenamos os horários do laboratório de informática educativa (LIE) e da biblioteca para que as oficinas de teatro, música e letramento acontecessem nesses espaços, adaptamos um espaço na lateral do prédio para a construção dos canteiros da horta e utilizávamos a quadra nos horários mais agradáveis, pois ela não era coberta. Essa dificuldade também se agravava no período de chuvas, os estudantes ocupavam os corredores, o refeitório e qualquer lugar que fosse coberto.

Foi realizado um mapeamento dos espaços ao redor da comunidade que poderiam ser utilizados para as atividades, principalmente no período da tarde, mas os poucos espaços que se encontravam disponíveis eram muito distantes, impossibilitando a caminhada. Mesmo assim, esse mapeamento nos proporcionou outras descobertas, como uma vacaria que ficava bem próximo à escola e que nos cedia o adubo natural para a manutenção dos canteiros e para o minhocário.

Reconheço que não fácil operacionalizar esse ideal do Programa em motivar a escola no desbravamento de sua comunidade na descoberta de outros espaços para a realização das atividades, de ir além dos muros vivenciando o conceito de territorialidade, da sensibilização para a realização de parceiras, tudo isso, principalmente, na comunidade como a que nossa escola está inserida. Tivemos avanços consideráveis nas relações sociais com outros segmentos públicos (saúde, cultura, assistência social), ONG e com a vizinhança.

Foram avanços que fortaleceram as relações de confiança no trabalho da escola, na qualidade da educação que estava sendo oferecida às crianças da comunidade, mas, ainda assim, alguns territórios não nos eram permitidos. Como exemplo disso é uma pracinha bem próxima à escola, um lugar que poderia ser utilizado para as atividades esportivas do Programa, mas que infelizmente era uma

zona de risco por causa dos confrontos entre interesses rivais dentro da comunidade.

Outro fato sobre o acesso a esses territórios é que as crianças só poderiam andar pela comunidade se acompanhadas por determinados funcionários da escola que já conheciam os caminhos certos. Não era qualquer pessoa que podia transitar livremente pelas ruas.

Na adesão dos monitores ao Programa, o baixo valor do ressarcimento era (e ainda é) um condicionante sensível para a permanência deles na escola e para a qualidade do trabalho dos voluntários. Mesmo com essas condições, alguns voluntários do PBNA aceitaram iniciar as atividades conosco.

Acostumados à experiência de uma modalidade de Educação Integral, eles nos ofereceram grande suporte para os primeiros passos na construção de uma proposta que desenhasse, em um futuro próximo, o perfil da nossa escola. Importa destacar também a parceria entre a SME e a UFC no suporte à construção das hortas escolares. Esse apoio técnico foi fundamental para a escolha e as orientações na adaptação do espaço, como também nas informações para a manutenção da horta pelo monitor e pelos estudantes, e no aproveitamento de resíduos orgânicos.

Figura 1 – Estudantes da EMEIF Herbert de Souza na Oficina de Horta Escolar