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3. O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DO PROJETO REDE

3.2 A Emenda Coletiva como espaço de compromisso

Desde os primeiros contatos entre o Deputado Edison Andrino e a Coordenadora do projeto, ficou clara a possibilidade de solicitação ao Fórum Parlamentar Catarinense em Brasília de destinação de recursos do Orçamento Geral da União ao projeto, através de uma Emenda Coletiva da Bancada:

Visando à obtenção dos recursos foi feita a solicitação, em 2005, ao Fórum Parlamentar Catarinense, de uma emenda coletiva, no valor de R$ 12.000.000,00. Com a firme participação do Coordenador do Fórum, o Deputado Fernando

Coruja, e do Deputado Edison Andrino, inspirador e apoiador de primeira hora do projeto, a emenda foi aprovada pela unanimidade dos parlamentares catarinenses e colocada no Orçamento Geral da União para o ano de 2006, com o valor de R$ 8.000.000,00. Neste momento, foi decisivo o apoio/acompanhamento da FUNJAB com a participação do prof. Dr. José Isaac Pilati, conhecido e respeitado pesquisador da Universidade Federal de Santa Catarina, que (a pedido da Professora Fátima) apresentou o projeto ao Fórum juntamente com o Professor Orides, em Brasília, (WOLKMER et al., 2011a:378-379). Foi importante, também, a intervenção do Presidente da FAPESC e a manifestação escrita de todos os Reitores das Universidades já então envolvidas com o Projeto.

Conforme ainda Wolkmer et al., (2011a) e Depoimento (2010- 2012), foi intenso durante todo o ano de 2006 o trabalho pelo empenho/liberação desses recursos, destacando-se nesse período o acompanhamento praticamente diário do Processo em Brasília, via telefone, da Coordenadora e sua assessora a Psicóloga Adriana (pesquisadora da FUNJAB), com o apoio dos Gabinetes do Deputado Claudio Vignati e da Senadora Ideli Salvatti, e da FAPESC através da Secretaria de Articulação Política do Governo do Estado, em Brasília. Foram também realizadas diversas viagens da Coordenadora a Brasília, várias delas com a participação do então presidente da FAPESC, Wladimir Piacentini, e do Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe, então Coordenador Técnico do Projeto

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Tendo em vista que os recursos da Emenda Parlamentar foram integralmente gravados na rubrica Recursos de Capital, sendo portanto destinados exclusivamente para equipamentos e material permanente, a principal finalidade desses recursos seria a de dotar as universidades com laboratórios, equipamentos, livros, estrutura para execução da pesquisa visando a sua continuidade e, principalmente, formação de competências locais vinculadas às universidades. O objetivo seria a formação de pesquisadores atuando em Rede em toda a área de

16 Em uma dessas viagens, com a intermediação do Deputado Claudio Vignatti,

foi feita visita à própria Casa Civil da Presidência da República, no Palácio do Planalto, para obter apoio na liberação da Emenda.

ocorrência do SAIG/SG em Santas Catarina, numa visão interdisciplinar e interinstitucional sobre os usos da água superficial e subterrânea. Assim, ao contrario do Projeto SAG, que tinha como foco a escala transnacional, e que fez licitações internacionais que implicaram na participação de consultorias de outros países (cujos pesquisadores, como se sabe, apresentam os resultados dos projetos e retornam a seus países de origem)

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o Projeto RGSG tem como objetivo a continuidade da participação dos pesquisadores na busca da sustentabilidade na escala estadual.

Neste relato podemos observar a construção de um dos espaços de compromisso do projeto, quando fica evidente a busca da participação de outras instituições como a Bancada Federal Catarinense no Congresso Nacional, responsável direta pela Emenda Coletiva, numa escala mais ampla, visando garantir a consolidação do Projeto RGSG.

Esses recursos da emenda coletiva da Bancada Federal Catarinense é que viriam dar origem ao Projeto depois denominado de

“REDE GUARANI/SERRA GERAL Santa Catarina:

Infraestrutura, Capacitação e Intervenção (RGSG-SC/ICI)” cuja estruturação ficou a cargo do Prof. Dr. Luiz Fernando Scheibe. O Professor trabalhou com a colaboração da coordenadoria de pesquisa da FAPESC, e sua estruturação envolveu tanto os gestores, como todos os pesquisadores responsáveis pela coordenação técnica local de cada uma das instituições que integram o projeto. O valor final de R$ 4.250.000,00 foi repassado à Caixa Econômica Federal (CEF), por nova interferência direta do Deputado Federal Cláudio Vignatti no último dia útil do ano de 2006. A liberação dar-se-ia via FAPESC, o que implicou na imediata obtenção da assinatura do Governador do Estado, viabilizada pelo acesso direto do Presidente da FAPESC junto ao mesmo (WOLKMER et al., 2011a).

No contexto da Geografia Política, essa sucessão de eventos pode

17 De certa forma, o mesmo viria a ocorrer, mais tarde, com o Programa para o

Desenvolvimento Sustentável da Bacia Hidrográfica do Rio Uruguai (Pró-Rio Uruguai - Aquífero Guarani), que contou com recursos do Fundo Fiduciario Japonês e dos estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, sendo implementado através do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

(SANTA CATARINA, s/d. Disponível em:

http://www.sds.sc.gov.br/index.php?option=com_content&task=vie w&id=309&Itemid=1&lang=, acesso em 19/02/2013.

significar um exemplo muito adequado de construção social de um projeto, num ambiente envolvendo diversas escalas de ação e processos de conflito e de cooperação.

Tanto na aprovação da Emenda Coletiva pelo Fórum Parlamentar como na liberação final dos recursos, foram enfrentados diversos tipos de desafios no sentido de que o projeto fosse preferido, em relação a outros projetos conflitantes, pela disputa de recursos que são, como todos sabemos, limitados. O sucesso nestas duas etapas do processo deveu-se à montagem de fortes esquemas de cooperação, envolvendo pesquisadores dedicados a demonstrar a viabilidade do projeto, dirigentes universitários dispostos a assumir o ônus das contrapartidas, parlamentares convencidos do apoio de seus eleitores a este tipo de projeto, e membros dos poderes executivos estadual e federal assumindo a responsabilidade pela liberação dos recursos: Tudo isso configura a montagem de um típico espaço de compromisso, no entender de Cox (1998), que mesmo sem configurar um espaço material, pode ser considerado como uma metáfora do espaço, no dizer de Neil Smith:

O material e o metafórico estão, por definição, mutuamente relacionados e não há fronteira clara entre os dois. As metáforas aumentam muito nossa compreensão do espaço material – espaço físico – território -, da mesma forma que nossas práticas espaciais e concepções do espaço material são matéria prima fecunda para metáforas. (SMITH, 2000:140).

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3.3 Recursos de Custeio: ANA – Agência Nacional de Águas e