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2 CONTEXTO DA PESQUISA: IMIGRAÇÃO, ORGANIZAÇÃO

2.1 A IMIGRAÇÃO ITALIANA E O CONTEXTO ESCOLAR

2.1.1 A Emigração: A Itália em Crise e o Projeto de Nova Vida

O ano de 1888 foi o ano da abolição da escravatura no Brasil, mas, também, o ano da crise econômica italiana, responsável pelo êxodo de milhões de agricultores. O crescimento da imigração, no Brasil, nos fins do século XIX, foi o resultado dessa crise, que fez com que mais de um milhão de italianos procurassem, no Brasil, o que a Itália não tinha: condição de lhes oferecer um trabalho ou uma terra. (MANFROI, 2001, p. 48)

Inicio com as palavras de Manfroi, que destaca o principal motivo da vinda dos italianos para o Brasil. Nesse sentido, Zanini (2006) afirma que a emigração pode ter sido uma solução necessária, já que o governo da Itália lucrou com a exportação da mão de obra e

os embaixadores e cônsules, instruídos pelo governo italiano, deveriam rever sua atitude diante da emigração, procurando tirar proveito da mesma para os interesses da Itália. Os emigrantes precisavam deixar de ser vistos com indiferença, ou como um problema, eles agora representavam uma possibilidade de solução para as dificuldades econômicas que o país atravessava. (IOTTI, 2010, p. 29)

Aos italianos, restava a emigração, pois, de acordo com Dall‘Alba, Tomiello, Rech e Susin (1987), estas dificuldades enfrentadas pelo país, foram resultados da industrialização, que tirou muita mão de obra da agricultura, de onde provia o sustento da família e, por isso, fez com que eles optassem pela saída do país. A emigração era vista pelos italianos como uma forma de sobreviver e de ―crescer‖, tendo em vista que enxergavam no seu destino a possibilidade de serem donos de suas próprias terras.

Além da abolição da escravatura, que fez com que o Brasil precisasse de mão de obra, e das dificuldades que a Itália enfrentava, a emigração não representava vantagem apenas para os dois países em questão. Era vista como solução e a realização de um sonho para os próprios emigrados, que viam na emigração ―a possibilidade de ser proprietário de terra ou de montar um pequeno negócio, através do trabalho em família‖ (MOCELLIN, 1996, p. 84). A autora ainda defende que esse propósito fazia parte da idealização desses descendentes de imigrantes italianos, que viam ―na América, o sonho do novo mundo8‖ (1996, p. 84). Ela

também afirma que,

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este é o momento de ruptura com a Itália, pois o ato de imigrar representava um novo projeto, uma nova vida que a mãe-pátria não proporcionava mais.

[...]. Nesse momento a Itália representava o velho mundo. A saudade dos familiares e da vida no outro lado do Atlântico vai sendo substituída por um novo projeto que agora se prende ao Brasil.

A vida iniciada em novas terras deixa para trás a velha Itália. A partir da imigração começa uma nova história, que traz consigo algumas lembranças fragmentadas da Itália. Esta nova história está presente na memória coletiva do grupo; à medida que evocam o seu passado, deixam transparecer um espaço vazio em relação ao tempo anterior à imigração. (MOCELLIN, 1996, p. 84)

Nesse sentido, Manfroi (1987) acredita que a emigração é decorrência da capacidade de mobilidade dos italianos que estavam sempre em busca das terras novas, o desejo constante de ser proprietário e a disposição de aventurar-se para alcançar o que almejavam. Além disso, a emigração, segundo o autor, tinha como motor o próprio sistema de colonização, que se associava à diminuição do trabalho agrícola e ao crescimento demográfico das antigas colônias.

Nesse sentido, os imigrantes que para cá vieram, demonstraram muitas vezes essa mobilidade, de acordo com Bergamaschi (2007), eles eram acostumados a poupar e trabalhar desde cedo; para eles, essa era a receita do enriquecimento. Eles tinham o costume de trabalhar sem ganhar remuneração e de desenvolver outras atividades visando maior renda para a família, como por exemplo, as tranças de palha de milho ou de trigo. ―O trabalho na propriedade é uma necessidade para os colonos e suas famílias e, assim, desde cedo, as crianças aprendem na colônia os afazeres não só da casa e da agricultura, mas também do artesanato, para aumentar a renda familiar‖ (BERGAMASCHI, 2007, p. 35).

Na Itália, o século XIX foi o que apresentou o índice mais elevado de emigração, de acordo com Herédia (2010, p. 215) os emigrantes ―viam a emigração como um meio de fazer fortuna e ter acesso à terra; representava estabilidade econômica, uma vez que a terra sempre foi um elemento promotor de mobilidade social‖. Reiterando tais afirmações, Santos (2010, p. 156) defende que

além dessa função estratégica e geopolítica, a imigração foi planejada como um processo de substituição não só do trabalho escravo pelo trabalho livre, mas, principalmente, como uma substituição do negro escravo pelo branco europeu em um processo de colonização baseado na pequena propriedade. Nessa perspectiva, a escravidão era vista como uma forma arcaica de produção que não se coadunava com a modernidade, enquanto a colonização era vista como um processo civilizatório.

A terra, tão almejada pelos imigrantes que aqui chegavam, representava, de acordo com Bergamaschi (2007), poder e segurança. A terra era mais importante que o próprio dinheiro, pois o consideravam resultado dela, além de que ela era vista como garantia de sustento, representando assim, também, a liberdade. A terra garantia uma vida diferente daquela tida na Itália, ser proprietário era visto como um meio de enriquecimento. No entanto, Herédia (2010) afirma que a imigração foi incentivada antes da Lei de Terras e do impedimento do tráfico de escravos para o Brasil. Ela diz que, mais uma vez, o desejo de ser proprietário e formador de núcleos coloniais invadia os discursos e pensamentos dos emigrantes, mas que de fato, as duas leis estimularam ainda mais a saída do país. De acordo com a autora (2010, p. 215), os ―italianos provenientes do Vêneto e Friuli, bem como da Calábria e da Campânia‖ foram predominantes nos primeiros anos da emigração para o Brasil, já Belluno, Udine, Cuneo, Vicenza, Treviso, Lucca, Massa e Parma foram as províncias com maiores taxas de emigração temporária, e que Rovig, Campobasso, Benevento, Cosenza, Salerno, Potenza, Catanzaro, Verona, Massa, Mantova, Padova, Avellino, Macerata, Treviso e Venezia foram as províncias com maiores taxas de emigração permanente.

Chegando aqui, no Rio Grande do Sul, nem tudo acontecia como o imaginado, pois, de acordo com Santos (2010), os imigrantes sofriam privações, o governo provincial pagava menos aos transportadores do que o governo central, os imigrantes preferiam ficar em áreas já colonizadas, no entanto, o que encontraram aqui foram terras consideradas inóspitas. Ainda, de acordo com Herédia (2010, p. 218-219), ―os que permaneceram em São Paulo tiveram, no primeiro momento, o papel de substituir o trabalho escravo nas fazendas de café, e os que se instalaram no Rio Grande do Sul, vieram com a finalidade de implantar os núcleos coloniais agrícolas‖, planos diferentes do que os emigrados tinham como meta.

2.1.2 A Organização Comunitária dos Italianos na Itália: de Onde Vieram os Imigrantes