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A Organização Comunitária dos Italianos na Itália: de Onde Vieram os

2 CONTEXTO DA PESQUISA: IMIGRAÇÃO, ORGANIZAÇÃO

2.1 A IMIGRAÇÃO ITALIANA E O CONTEXTO ESCOLAR

2.1.2 A Organização Comunitária dos Italianos na Itália: de Onde Vieram os

De acordo com De Boni e Costa (1979, p. 91), ―a zona de colonização italiana do Rio Grande do Sul teve como povoadores, quase que de modo exclusivo, indivíduos e grupos provenientes do norte da Itália, a região mais atingida pela crise econômica no momento da unificação‖. Os autores afirmam que a região do Vêneto contribuiu para um maior número de

imigrantes, tendo em vista ser a região de maior crise em 1875, época em que veio um considerável número de imigrantes italianos para o Brasil. Eles afirmam (1979, p. 91), também, que a maioria eram ―provenientes sobretudo das províncias de características mistas de Vicenza, Treviso e Verona, e da província montanhosa de Beluno, enquanto as províncias de planície, graças à industrialização incipiente, tiveram uma menor participação‖. Para facilitar a compreensão das regiões e províncias, disponibilizo o quadro abaixo:

Região Províncias

Vêneto Beluno, Pádua, Rovigo, Treviso, Veneza, Verona, Vicenza

Lombardia Bérgamo, Bréscia, Como, Cremona, Mântua, Milão, Pavia, Sôndrio, Varese

Trentino-Alto Ádige Bolzano, Trento

Fríuli-Venécia Júlia Gorízia, Trieste, Údine (e Pordenone) Piemonte Alessandria, Novara, Vercelli

Emília-Romanha Ferrara, Módena, Parma, Placência, ―Reggio nell‘Emilia‖, Piacenzia Toscana Livorno, Lucca, Massa-Carrara, Pisa

Ligúria Gênova, La Spézia

Quadro 03 – Proveniência dos imigrantes. Fonte: Frosi e Mioranza (2009, p. 35).

De acordo com Frosi e Mioranza (2009), pesquisas realizadas na década de 1970, mais precisamente nos anos de 1973 e 1974, apontam que os imigrantes italianos vindos para a Região de Colonização Italiana do Rio Grande do Sul, vieram das regiões italianas do Vêneto, Lombardia, Trentino-Alto Ádige, Fríuli-Venécia Júlia, Piemonte, Emília-Romanha, Toscana e Ligúria, sendo considerados do maior ao menor, em relação ao número de emigrantes. No entanto, as mais consideráveis em emigrações são as quatro primeiras regiões, elas que ―contribuíram de modo determinante para o povoamento da Região de Colonização Italiana no Nordeste do Rio Grande do Sul‖ (2009, p.29), sendo que as outras quatro representam apenas ―1,5% do total dos imigrantes italianos que se instalaram nessa área do Rio Grande do Sul‖, (Frosi e Mioranza 2009, p. 29). Os autores também abordam os milaneses que para cá vieram e defendem que os mesmos vieram de cidades periféricas. Sabendo de onde veio a

maioria dos imigrantes, passo a detalhar a vinda deles para o RS, segundo De Boni e Costa (1979, p. 66)

O início da emigração permanente não esteve isento também dos sonhos colonialistas por parte de muitas autoridades italianas. Não havendo mais terras a conquistar para países europeus, pensou-se em enviar colonos para a América do Sul a fim de preparar o caminho para modificações políticas posteriores. Afora isso, a emigração atuou como instrumento de pesquisa diplomática, além de servir como portadora de valores culturais e de abrir mercado para os mais diversos produtos do país de origem.

Estes motivos imediatos explicam como é possível que um país tenha visto partir grande parte de sua força de trabalho – geralmente homens com mão-de-obra não qualificada, no auge de sua idade produtiva. A emigração possibilitou à classe dirigente conservar e mesmo aumentar seus privilégios.

Então, mesmo com a dor da despedida de muitos familiares, que lá na Itália ficaram, os sonhos e objetivos de serem alcançados aqui eram maiores. Dentre os imigrantes alemães, Kreutz (2004) afirma que no país de origem viviam em aldeias e que a moradia ficava desvinculada da roça já aqui no Rio Grande do Sul o lote era maior e não fracionado, a organização deveria ser diferente, precisando os alemães estabelecerem-se nas próprias terras. ―E só ao redor da igreja, da escola, da venda, pouco a pouco, se constituíram os centros frouxos da povoação, que, em casos favoráveis, conduziriam à formação de vilas e cidades‖ (KREUTZ, 2004, p. 97). Com os imigrantes italianos, a formação comunitária não foi muito diferente.

A colônia destinada aos primeiros imigrantes italianos, denominada Fundos de Nova Palmira, situa-se, hoje, no distrito de Nova Milano, município de Farroupilha. Eram milaneses os integrantes desse pequeno grupo e estabeleceram-se, em 1875, em terras próximas das habitadas por imigrantes alemães.

O crescimento do número de italianos que ingressavam no Rio Grande do Sul foi se intensificando e exigiu uma distribuição rápida e eficiente dos imigrantes; adotou-se, por isso, um esquema simples: à medida que chegavam, iam ocupando as terras situadas além dos lotes já destinados a imigrantes italianos e assim sucessivamente. Com a criação das Colônias Caxias, Dona Isabel e Conde D‘Eu, foram estabelecidas três frentes de ocupação de terras. A destinação para uma ou outra dessas colônias não obedecia a nenhum critério rigidamente estabelecido. Por essa razão, não se formaram núcleos específicos de uma ou de outra região da Itália. O que acontece, porém, é que grupos vindos da mesma região ou província italiana e egressos na mesma data, podem ser encontrados em determinados pontos do território, dando origem a pequenas comunidades típicas, ou seja, grupos étnico-linguísticos afins. (FROSI, MIORANZA, 2009, p. 55).

Além disso, em outras pesquisas, relata-se que houve troca de lotes, buscando assim ficarem próximos de seus conhecidos. Já estando os imigrantes aqui no Brasil,

O processo de formação das novas comunidades, excetuando-se os núcleos de irradiação, desenvolvia-se dentro dos aspectos socioeconômicos de sobrevivência de um grupo social. Surgem assim núcleos espalhados em toda a região. As bases para a formação dos aglomerados obedecia, entretanto, a razões de ordem: geográfica (encontro de picadas, proximidade de rios com possibilidade de aproveitamento para a pequena indústria); geodemográfica (maior ou menor extensão da Linha ou Travessão e maior ou menor número de lotes coloniais e correspondente número de famílias e habitantes); econômica (diversidade de interesses do elemento humano e consequente diversificação de atividades); religiosa (existência de capela ou igreja e presença de sacerdotes); étnica (proveniência de mesma região italiana ou região limítrofe, o que desencadeava o processo psicossocial que levava os imigrantes a acreditarem na possível criação de grandes centros urbanos; e, dentro disso, eram motivados pelo estímulo de orgulho regional, provincial e mesmo municipal italiano); e social (maior ou menor entendimento e afinidade dos habitantes da mesma Linha ou Travessão). (FROSI, MIORANZA, 2009, p. 60).

A formação das comunidades, inicialmente, não estabeleceu critérios rígidos. Com o passar do tempo, o governo começou a buscar estratégias para evitar a formação de comunidades tipicamente italianas, mas isso não teve êxito, já que os italianos conseguiram achar um meio de ficarem próximos de seus conterrâneos. Em seguida, o governo passa a contribuir para a formação das comunidades, visando atingir objetivos já descritos. Frosi e Mioranza (2009, p. 80) também defendem que as comunidades não ficavam isoladas umas das outras, que os laços étnico-sociorreligiosos permitiam a união destes grupos através de encontros, como ―festas dos padroeiros das capelas e atos de culto congregavam os habitantes de diferentes comunidades; batizados, casamentos, óbitos e comemorações‖. Interessante saber que,

Ainda, como premissa, o número de comunidades é igual ou superior ao número de Linhas ou Travessões. Com efeito, em cada Linha ou Travessão, conta-se pelo menos uma comunidade que se agrega em torno de uma capela. Este centro socioreligioso da comunidade rural, precede, ás vezes, a atividade sócio econômica; outras vezes, forma-se como decorrência dessa atividade, de modo especial quando o comércio se estabeleceu em áreas propícias. Nas Linhas ou Travessões em que há uma só capela, a comunidade corresponde ao total de famílias que habitam os lotes da Linha ou Travessão em que se encontra a capela. Nas Linhas ou Travessões onde há duas ou mais capelas, o critério de divisão das comunidades que se agrupam em torno de cada uma das capelas será o de levar em conta os acidentes geográficos da área.

Quando a Linha for muito extensa, torna-se difícil a um único centro socioreligioso servir a todos os habitantes dessa linha. A distância existente entre os pontos extremos da Linha ou Travessão cria, pois, a necessidade de uma nova capela. Não raro os acidentes geográficos, como montanhas, rios ou riachos, também provocam o estabelecimento de novas sedes de caráter social e cultural (FROSI, MIORANZA, 2009, p. 79).

Interessante analisar a formação dessas comunidades. A cada linha se formava uma nova comunidade ou, ainda, dentro de uma linha poderiam se formar mais de uma comunidade, sendo à distância e/ou a localização responsável, na maioria das vezes, por essa divisão.