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Em Santa Catarina, o primeiro hospital a ser criado, em 01 de janeiro de 1789, foi o atual Hospital de Caridade, em Florianópolis, pela Irmandade do Senhor Jesus dos Passos, com auxílio financeiro da Corte Portuguesa. Este hospital foi organizado segundo os moldes da Santa Casa de Lisboa. Desde o início de seu funcionamento, o Hospital, a exemplo de outros hospitais criados no Brasil e no exterior, no século XVIII, desempenhou um papel social bastante significativo. A assistência era prestada aos pobres, desvalidos, indivíduos desprovidos de qualquer posse, seguindo os preceitos da fé cristã e da caridade. Com o tempo, o hospital foi passando por melhorias e novas construções, procurando adaptar-se as exigências dos novos tempos e preocupando-se com o aprimoramento científico e técnico de seus recursos humanos e materiais (BORENSTEIN, 2000).

Outros hospitais foram criados em Santa Catarina, porém já no século XX, de acordo com a política do Governo de Getúlio Vargas, que era da eugenia da raça, seguindo modelos de alguns países desenvolvidos. Foram denominados por Borenstein; Ribeiro; Padilha (2004) os hospitais-exclusão: Hospital Colônia Santa Tereza (1940), destinado ao tratamento de pacientes acometidos pela hanseníase e Hospital Colônia Sant’Ana (1941), destinado aos doentes mentais. E em 1943 foi criado o Hospital Nereu Ramos, destinado à população acometida pelas doenças infectocontagiosas.

As décadas de 1940 a 1960 também foram caracterizadas pelo início da pediatria geral em Santa Catarina. Em 1955 foi fundada a Maternidade Carmela Dutra, serviço especializado para prematuros e em 1964 foi inaugurado o primeiro hospital infantil de Florianópolis, o

Hospital Infantil Edith Gama Ramos (COSTA et al., 2011). A construção destas instituições de saúde trouxe muitos benefícios à sociedade Catarinense, mas também algumas preocupações, como por exemplo, a necessidade de enfermeiras para atuarem nos serviços existentes, visto que a capital, o Estado e até mesmo o país, passava por dificuldades de pessoal de enfermagem qualificado (BORENSTEIN; PADILHA, 2011).

As autoras relataram que o início da trajetória profissional da Enfermagem em Santa Catarina, mais especificamente em Florianópolis, a partir da década de 1940, se deu com a vinda de enfermeiras formadas em outros Estados para trabalharem tanto nos hospitais, quanto nos serviços de saúde pública. Estas enfermeiras, comprometidas com a enfermagem, muito fizeram pela saúde do Estado, incluindo a capacitação dos profissionais de enfermagem, a organização e implantação de serviços de enfermagem nas instituições, criação da primeira Escola de Auxiliares de Enfermagem e após lutas e reinvindicações em favor de melhorias na formação das enfermeiras frente ao poder político da época, conseguiram a criação da Associação Brasileira de Enfermagem de Santa Catarina (ABEn-SC), em 1926. (BORENSTEIN; PADILHA, 2011).

Com a criação da ABEn-SC, as enfermeiras associadas, além de conseguirem enquadrar a Enfermagem na categoria técnico-científico, garantindo um salário mais alto do que as demais categorias de enfermagem, foram responsáveis pela criação e implantação do Curso de Graduação em Enfermagem na UFSC. Esse curso foi criado em 1969, através da Resolução 02/69 de 24 de janeiro de 1969, assinada pelo Reitor professor João David Ferreira Lima (UFSC, 1969), foi fruto da motivação das enfermeiras integrantes da ABEn-SC. A professora Eloíta Pereira Neves – Presidente da ABEn-SC na época, juntamente com as demais enfermeiras associadas, elaboraram um memorial justificando a necessidade da criação deste curso, com o objetivo de promover o pleno desenvolvimento da Enfermagem em Santa Catarina. O reconhecimento do Curso de Enfermagem se deu através do Decreto n° 76.853, de 17 de dezembro de 1975, do então Presidente da República Ernesto Geisel (BORENSTEIN; ALTHOFF, 1999).

O Curso de Enfermagem era vinculado à Faculdade de Medicina, criada em 1957, as disciplinas básicas, aulas teóricas e de laboratório eram ministradas por docentes e nas instalações desta faculdade. Para as disciplinas profissionalizantes foram contratados enfermeiros docentes e as atividades práticas de estágios supervisionados eram realizadas em instituições de saúde conveniadas com a UFSC, os Hospitais: de

Caridade, Governador Celso Ramos, Nereu Ramos, Colônia Santa Teresa, Colônia Sant´Ana, Maternidade Carmela Dutra, Infantil Edith Gama Ramos, entre outras instituições de saúde (BUB; MENDES, 1999). Estes foram os primeiros hospitais de ensino, utilizados pela enfermagem, que serviram de suporte para suas aulas práticas.

Apesar da enfermagem, desde sua criação, ter assegurada a sua autonomia e regimento próprio, é com a implantação da Reforma Universitária Lei 5.540/68, que há a dissolução das faculdades, criação dos departamentos e centros, entre outras modificações, e a Enfermagem passou a ter um Departamento de Enfermagem, comprometido com a formação e qualificação profissional dos enfermeiros (BRISTOT, 2010).

Após a utilização dos hospitais da cidade como campo de ensino para a prática, por iniciativa da Faculdade de Medicina em acordo com a enfermagem, odontologia, farmácia, reitoria, docentes e discentes da UFSC, entre lutas e reivindicações, construções e paralisações, enfim, o HU-UFSC foi inaugurado em 1980. E no presente estudo, a história deste hospital é contada por alguns dos sujeitos que fizeram parte dessa história. E mais especificamente, pelas enfermeiras docentes e assistenciais que organizaram e implantaram o Serviço de Enfermagem no HU-UFSC.

3 REFERENCIAL TEÓRICO

Estudar Foucault é um grande desafio, pois ultrapassa o simples modo de codificar ou de compreender seus conceitos, é necessário que se trabalhe com eles. “Saber e poder para o autor não se confrontam, mas se articulam”. Michel Foucault foi um pensador movido pela vontade de conhecer, de compreender os fatos tais como são. “Revisou e expandiu suas investigações através da autocrítica e da autorreflexão. Acreditou em formas novas e criativas para olhar a história, as práticas sociais, as redes de poder-saber, lutando sempre pelo direito de mudá- las” (EIZIRIK, 2005, p.21).

Foucault propõe que a análise crítica do mundo em que se vive seja feita através da construção dos diferentes modos que os sujeitos desenvolvem um saber sobre si em sua cultura, em diferentes ciências, analisando esses saberes com o intuito de compreender a si mesmo. Desta maneira, ao buscar historicizar a atuação das enfermeiras no Serviço de Enfermagem HU-UFSC, pretendeu-se desvelar como este saber vem sendo produzido, relacionando-o ao exercício do poder e as práticas estabelecidas no cotidiano do hospital.

É importante investigar no Hospital Universitário as relações de saber-poder estabelecidas no exercício profissional da enfermagem. Os diferentes modos de fazer e de se constituir saberes e poderes, passam a ser objeto de estudo desta dissertação à luz do referencial teórico de Foucault.