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A entrada em funcionamento da Central Eléctrica do Ouro

2. Os investimentos no sector energético na região do Porto

2.2. A entrada em funcionamento da Central Eléctrica do Ouro

A Central do Ouro, projecto do Engenheiro Electrotécnico parisiense Lucien Neu94, foi construída entre Abril de 1907 e Julho de 190895 junto à fábrica do Gás. A sua localização nas margens do rio Douro, em Lordelo do Ouro, facilitava o transporte

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CORDEIRO, Bruno – O Fiat Lux dos anos 1880.Este texto baseia-se num texto de “ Ciência,

Tecnologia e Industria nos Primórdios da Electricidade em Portugal, de Bruno Cordeiro, Ana Cardoso

Matos de e Silva , Álvaro Ferreira d inserto no livro A Engenharia em Portugal no século XX (no prelo). Disponível em- http://www.historia-energia.com/imagens/conteudos/OP1BC.pdf .Data de consulta: 28 de Setembro 2008, p. 4.

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MATOS, Ana Cardoso de (Coord.) – O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP/Museu da Electricidade, 2003, p.75

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CORDEIRO, Bruno – O Fiat Lux dos anos 1880. Este texto baseia-se num texto de “ Ciência,

Tecnologia e Industria nos Primórdios da Electricidade em Portugal , de Bruno Cordeiro, Ana Cardoso

Matos de e Silva , Álvaro Ferreira d inserto no livro A Engenharia em Portugal no século XX (no prelo) disponível http://www.historia-energia.com/imagens/conteudos/OP1BC.pdf .Data de consulta: 28 de Setembro 2008, p. 4

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MATOS, Ana Cardoso (Coord.) – O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP /Museu de Electricidade, 2003, p. 150, 151.

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SANTOS, António Maria - A “Arquitectura da Electricidade” em Portugal (1906-1911) - in Revista

do carvão (coque) para aquecimento das suas caldeiras desde as embarcações até ao interior da central.

A empresa que está na base do lançamento deste empreendimento é a Companhia do Gás, tendo mais tarde nascido a Sociedade Energia Eléctrica para a qual transitaram vários engenheiros e técnicos oriundos da primitiva empresa, a Companhia do Gás. Será esta Sociedade que explorará a Central do Ouro, desenvolvendo um conjunto de acções nos anos que se seguem para proceder ao cumprimento do contrato de fornecimento de energia eléctrica à cidade.

Sob a orientação dos técnicos e com o aval do município esta realiza obras na Central e procede à instalação dos condutores subterrâneos com o objectivo de criar uma rede de distribuição.

“Para a construção da Central Eléctrica, a Sociedade Gás do Porto adquiriu uma superfície de dois mil e oitocentos metros quadrados, demoliu as construções aí existentes e “rompeu com a montanha de granito que em grande parte os afrontava, de maneira a obter uma plataforma nivelada em que assentou o edifício da estação da central.”96 Para equipar a Central foi necessário recorrer a tecnologia estrangeira e estabeleceram-se contratos de fornecimento de material eléctrico com as seguintes empresas: Felten & Guilherme; Société Alsacienne de Constructions Mécaniques;

Farcot, Fréres & Cª Baerlien & Cª; Moreira de Sá Malavez, Siemens & Shuckert; Compangie pour la fabrication des compteurs et Materiel d’ Usines à Gás, Sucesseurs, Societé Leahmeyer, Jacques Guggenheim, Societé appareillage Eléctrique et Industrielle, Societé des Telephones.97 Poucos foram os materiais e equipamentos produzidos na indústria portuguesa usados na montagem da Central, pois a indústria portuguesa não detinha ainda capacidade de produção nesta área tão especifica, tendo-se

“limitado a fornecer caixas de fusíveis e de tubos de ferro oriundos da Companhia Aliança, proprietária da Fundição de Massarelos, em Lordelo do Ouro”98.

Durante a Primeira Guerra Mundial a dificuldade em obter carvão estrangeiro teve como consequência um interesse renovado pelo carvão nacional que, apesar do seu fraco valor calórico, era o que existia no mercado. Foi neste período que se assistiu a

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MATOS, Ana Cardoso de (Coord.) - O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP /Museu de Electricidade, 2003 , p.151

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MATOS, Ana Cardoso de (Coord.) - O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP /Museu da Electricidade, 2003, p.153

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MATOS, Ana Cardoso de (Coord.) - O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP /Museu da Electricidade, Lisboa 2003, p.152

uma intensa exploração das minas de S. Pedro da Cova e do Pejão. Face a este contexto, a Companhia de Gás debate-se com graves problemas de abastecimento de carvão, realizando sucessivos ofícios ao município para justificar a sua falta de cumprimento do contrato e para procurar apoios e colmatar a situação em que se encontrava.

A situação de guerra que se vivia dificultava a aquisição dos materiais necessários para a reparação dos maquinismos da Central. Esta ficou ainda mais agravada quando a Companhia das Águas do Porto suspendeu o fornecimento de água potável para alimentar as caldeiras. A este problema “…a Central respondeu, captando

e canalizando a água da Quinta do Olho Marinho, situada a norte da Avenida da Boavista, obra que foi realizada, aliás num curto espaço de tempo”99. Nos anos seguintes, a falta de qualidade da água com que trabalhava a Central afectou duramente as suas caldeiras.

Nos primeiros dias que se sucedem à declaração da guerra, a Companhia pediu à Câmara medidas e providências para reduzirem a iluminação pública e, desde logo que solicita auxílio à Câmara perante a escalada dos preços do coke. Nos seus ofícios, a Companhia escreve que “...a prudência mais elementar aconselha à máxima economia

possível no consumo do carvão, sob pena de chegarmos rapidamente à situação em que se acham algumas cidades francesas, privadas por completo da iluminação a gás”.100

Em Abril de 1916 a chuva de ofícios enviados à Câmara, sugere que a Companhia abrirá falência, pois já não consegue assumir os compromissos para com a Câmara, confessando que, apenas, tinha carvão para vinte e cinco dias, e que mesmo recebendo o encomendado não podia continuar a exploração. Por fim, expunha ainda a sua situação financeira referindo que não tinha disponibilidade de fundos e via recusado o crédito bancário.

O conflito que a Europa vivia tinha repercussões no abastecimento de carvão, particularmente em Inglaterra onde «em vista das necessidades do Governo Inglês de

importância nacional, as minas de Newcastle declinam toda a responsabilidade da

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MATOS, Ana Cardoso de (Coord.) - O Porto e a Electricidade. Lisboa: EDP /Museu da Electricidade, 2003, p. 153.

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Oficio da Companhia in GUEDES, Armando Marques – A Câmara Municipal do Porto na questão do Gás e Electricidade - Exposição feita no Comício de 21 de Novembro do ano corrente no Éden Teatro desta cidade pelo Vereador do Pelouro dos contratos, membro das Comissões Municipais, Porto, 1917, p.10.

execução incompleta ou da supressão do fornecimento de carvão, que nos são destinados».101

Os ofícios da Companhia para o Município iam no sentido de pedir apoio aos fretes e ao fornecimento de carvão a um preço mais baixo. Solicitavam, ainda, o consentimento para que a Companhia aumentasse o preço do metro cúbico do gás. A Companhia, no seu diálogo com a Câmara traça ainda um acórdão para renegociar a situação existente, criando regimes compensatórios entre as partes até terminar a guerra. Nestes acordos, a Câmara deveria manter a redução de pelo menos um terço da iluminação pública e substituir grande parte dela por iluminação eléctrica.

A Câmara durante este período foi atendendo aos pedidos da Companhia, porém a cessação da exploração nos termos estipulados acabou por levar a Câmara a tomar conta da exploração dos Serviços Gás e Electricidade a 17 de Novembro de 1917. Esta data marca o início de um período de municipalização dos serviços no Porto.