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CAPÍTULO III – OPÇÃO E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS: O ESTUDO

3.2. Método e técnicas de recolha de informação

3.2.2. A entrevista semiestruturada

A entrevista constitui uma técnica pertinente de recolha de informação no estudo qualitativo. A entrevista é uma comunicação interativa e direta, direcionada intencionalmente com o desígnio de obter informação sobre um assunto a ser estudado e aplicado pelo entrevistador ao(s) entrevistado(s). Através da linguagem verbal e não- verbal, na mensagem transmitida durante a entrevista “o interlocutor exprime as suas

80 perceções de um acontecimento ou de uma situação, as suas interpretações ou as suas experiências […] a um grau máximo de autenticidade e de profundidade” (Quivy & Campenhoudt, 2008, p. 192). Isso permite ao pesquisador recolher informação e “desenvolver intuitivamente uma ideia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspetos do mundo” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 134).

A entrevista possui vantagens e desvantagens. As vantagens proporcionam a obtenção de uma informação mais rica sendo os próprios atores sociais quem faculta a informação sobre as suas perspetivas, desejos, atitudes e expectativas, enquanto que as desvantagens se prendem com a fraca possibilidade de expandir a generalização e com a limitação de recolha de informação sobre assuntos delicados (Pardal & Lopes, 2011; Vilelas, 2009).

A entrevista apresenta três tipos: a entrevista estruturada, a entrevista semiestruturada e a entrevista não estruturada ou aberta. A entrevista estruturada segue de forma a mais rigorosa o guião de entrevista, ao qual o entrevistado responde exclusivamente às perguntas que lhe são dirigidas, preservando a espontaneidade da interação da resposta. A entrevista não estrutura ou aberta permite maior liberdade de conversação, fundamentada em uma guia geral não específico e o pesquisador possui a flexibilidade de dirigi-las em torno do assunto preciso. O tipo de entrevista seguido na nossa pesquisa corresponde à forma da entrevista semiestruturada. Nessa forma de entrevista semiestruturada, o entrevistador baseia-se no guião na entrevista, que é flexível permitindo introduzir mais questões para a precisão de conceitos ou obter maior informação sobre os temas desejados e conduz para a centralidade da conversa inicial quando o assunto está sendo desviado, assim, possibilita o esclarecimento para melhorar a compressão (Pardal & Lopes, 2011; Quivy & Campenhoudt, 2008; Sampieri, Collado & Lucio, 2006).

Pardal e Lopes (2011) esclarecem que a entrevista semiestruturada é importante porque

“o entrevistador possui um referencial de perguntas guias, suficientemente abertas, que serão lançadas à medida do desenrolar da conversa, não necessariamente pela ordem estabelecida no guião, mas antes, à medida de oportunidade, nem, tão pouco, tal e qual foram previamente concebidas e formuladas: deseja-se que o discurso do entrevistado vá fluindo livremente – exprimindo-se com abertura, informa sobre as suas perceções e interpretações que faz de um acontecimento; sobre as suas experiências e memórias, sobre o sentido que dá às suas práticas; revela as suas representações e referências normativas; fornece indícios sobre o seu sistema de valores, emotividade e atitudes; reconstitui processos de ação ou mudança e denuncia os elementos em jogo e suas relações, ajudando à compreensão dos fenómenos” (p. 87).

81 As mensagens dadas nas entrevistas serão transcritas e analisadas através do processo de análise do conteúdo destinado à melhor compreensão do nosso objeto de estudo.

3.2.2.1. Informadores privilegiados

Os informadores privilegiados escolhidos para a entrevista são selecionados através do juízo do pesquisador, com a convicção de que os sujeitos selecionados possuem conhecimentos relevantes e informações pertinentes para ajudar a compreender o objeto de estudo que está a ser investigado (Pardal & Lopes, 2011; Sampieri, Collado & Lucio, 1996). Este processo de seleção de informadores privilegiados é designado por amostra de conveniência, por teoria ou amostra por critérios (Sampieri, Collado & Lucio, 1996), ou por amostra não probabilística, de carácter intencional que constituiu um recurso de investigação de cariz qualitativo (Pardal & Lopes, 2011).

Os informadores privilegiados a que recorremos para obter a informação do nosso objeto de estudo foram as quatro testemunhas privilegiadas. Trata-se de pessoas que, pela sua posição, ação ou responsabilidade, se envolveram diretamente no processo de elaboração da LBE timorense até à sua promulgação. Designadamente, um representante máximo do Ministério da Educação; um representante máximo da Comissão de Saúde, Educação e Cultura (CSEC) do Parlamento Nacional; um dos representantes da Igreja Católica na Comissão Nacional da Educação (CNE), sendo então também membro da mesma comissão quando a LBE estava a ser elaborada, e por último, o técnico responsável pela redação da LBE. Os três primeiros são de nacionalidade timorense e o último, o técnico da redação, é português. As primeiras três entrevistas realizaram-se em Timor-Leste, no local de trabalho dessas pessoas, entre Fevereiro e Abril de 2012. A última entrevista concretizou-se em Portugal em 2013.

A solicitação da entrevista foi efetuada por requerimento em carta de solicitação e por contacto direto. Com esta solicitação esclareceu-se previamente o objetivo da entrevista, a disponibilidade, a permissão para gravar a entrevista e a garantia de confidencialidade da entrevista. A opção de não revelação da identificação dos sujeitos privilegiados visava dar-lhes mais a flexibilidade para exporem as suas opiniões e perspetivas quanto a informações sensíveis ou contraditórias. Posteriormente realizaram- se as entrevistas a esses informadores privilegiados, com recurso a guiões de entrevistas e a gravação áudio usando gravador.

82 3.2.2.2. Caracterização do guião utilizado

No primeiro momento fez-se a legitimação da entrevista dando a conhecer ao entrevistado o tema e o objetivo do trabalho, despertando a atenção do entrevistado para a importância da sua contribuição para o estudo, assegurando o carácter confidencial das suas respostas e dar oportunidade ao entrevistado de esclarecer das suas dúvidas. Para cada entrevistador optou-se por um guião diferente, segundo a função que cada um ocupava no período da elaboração da LBE.

A seguir, descrevemos os conteúdos e os respetivos objetivos de cada informador privilegiado, transmitido como segue:

Entrevista 1 – (anexo 1 )

Ao representante máximo do Ministério da Educação (entrevista 1), enquanto autoridade legítima da política e decisor na elaboração da LBE, foram apresentadas, como questões da entrevista, quatro blocos temáticos, tendo como linha de orientação geral do procedimento da elaboração da LBE a que seguidamente descrevemos:

a) Bloco temático A - Processo antecedente da elaboração da LBE

A questão central inserida neste bloco temático direcionou-se para compreender a razão que estava por detrás da elaboração da LBE. Os objetivos subjacentes nos sub-blocos temáticos orientaram-se para:

1) Compreender a política subjacente à elaboração da LBE, orientar a obtenção de informação sobre os princípios básicos ou ideologias da elaboração da LBE e sobre as reformas mais importantes para o sistema educativo timorense;

2) Compreender os objetivos e as expectativas em elação à elaboração da LBE;

3) Direcionar para obter informação sobre a planificação da organização do trabalho da LBE, para conhecer os processos da definição da sua proposta e averiguar sobre a organização do trabalho;

4) Recolher a informação sobre as dificuldades encontradas em elaborar a LBE que permitiu entender a eficácia e eficiência do trabalho da elaboração da proposta da LBE e identificar as limitações encontradas durante o processo da elaboração.

b) Bloco temático B – O caminho percorrido para a promulgação da LBE

Nesse bloco temático referem-se os caminhos percorridos, desde a proposta de LBE até à sua promulgação como Lei. Os seus sub-blocos temáticos relacionam-se com a

83 descrição dos caminhos percorridos na execução da proposta da LBE e com o inquirir sobre a informação relativa às convergências e divergências de opiniões quanto à proposta da LBE durante o período em que foi apresentada:

1) No Conselho de Ministros; 2) No Parlamento Nacional.

c) Bloco Temático C – As influências das regulações transnacionais na elaboração da LBE.

Este bloco temático tem como objetivo recolher informação referente às contribuições dos parceiros internacionais para o desenvolvimento na elaboração da proposta da LBE, conhecer as suas opiniões ou perspetivas quanto a essa elaboração e considerar as possibilidades de adotar ou de referenciar os modelos da LBE de outros países.

d) Bloco Temático D – As influências das regulações nacionais na elaboração da LBE Os objetivos postos neste bloco temático pretendem analisar as contribuições dos parceiros nacional para o desenvolvimento, como a igreja católica, os partidos políticos e a sociedade civil na comunidade timorense relacionada diretamente com o Ministério da Educação no processo da elaboração da LBE.

Entrevista 2 – (anexo 2)

As questões de entrevista dirigidas ao técnico da redação (entrevista 2) relacionavam-se com a sua função como técnico da redação da proposta da LBE. O guião da entrevista organizou-se em dois blocos temáticos:

1) Caracterização pessoal, com o objetivo de ter informação sobre a contratação e o papel desempenhado na elaboração da proposta da LBE.

2) Recolher informação sobre os modelos da LBE, com o intuito de obter informação sobre a estrutura de trabalho, conhecer os modelos que foram referenciados para elaborar e redigir a proposta da LBE e adquirir informação sobre sugestões propostas na elaboração da LBE e as dificuldades encontradas durante o processo da elaboração dessa proposta da LBE.

84 Entrevista 3 – (anexo 3)

Ao representante máximo da CSEC do Parlamento Nacional (entrevista 3), as questões desenhadas no guião da entrevista procuraram compreender como é que decorreu o processo da proposta da LBE no Parlamento Nacional. Indagar sobre a função desempenhada pela CSEC quanto à proposta da LBE, as consultas efetuadas aos representantes da sociedade civil timorense e os temas que sugeriram mais debates quanto à proposta da LBE. De seguida, analisar e adquirir informação sobre o debate no plenário do Parlamento Nacional.

Entrevista 4 – (anexo 4)

A entrevista 4 foi dirigida a um dos representantes da Igreja Católica na CNE, sendo então também membro da mesma comissão quando a LBE estava a ser elaborada. Com o objetivo de averiguar as contribuições da comunidade timorense quanto à LBE, as questões da entrevista foram especialmente orientadas para compreender as perspetivas da Igreja Católica, instituição que deu o maior contributo para o desenvolvimento da educação, e também porque era indispensável olhar para a perspetiva da CNE, já que esse representante da Igreja Católica era um dos seus membros.