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CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS

B. As recomendações e indicações para a elaboração da proposta LBE

No que concerne às recomendações e indicações, ao perguntarmos ao técnico da redação da proposta da LBE se já havia outra proposta antes da que estava a ser elaborada pelo IV Governo Constitucional, obtivemos a resposta de que

“Não, o que existia eram várias reflexões sobre esse assunto, feitas ao longo dos anos, e algumas propostas, nomeadamente... penso que no I Congresso da Educação, ainda realizado no domínio do, ou melhor, durante a governação do governo anterior chefiado pelo então primeiro-ministro Mari Alkatiri.” (Entrevista 2).

No entanto referiu mais tarde que

“Eu pelo menos via nalguns desses documentos no Ministério uma proposta de Lei de Bases da Educação, mas era uma proposta que não tinha pernas para andar. Tinha muitas falhas, não havia ligação entre diversas partes, quer dizer, desfasada no topo, ou melhor não havia articulação.” (Entrevista 2).

As recomendações feitas no I Congresso Nacional da Educação, realizado em 2003, durante o I Governo Constitucional (2002-2006) serviam como bases da proposta da LBE. Uma das recomendações do grupo de trabalho nesse congresso prendia-se com a necessidade da “elaboração de políticas, legislação básica e regulamentos” (MECJD, 2003, p. 194).

O mesmo documento revela que o Diretor-geral referiu que o MECJD já possuía um esboço da Lei Básica do Sistema Educativo Nacional, trabalho efetuado com ajuda da assessoria portuguesa e da equipa técnica brasileira (MECJD, 2003, p. 158), que esta disposição ainda aguardava a aprovação do Conselho de Ministros e do Parlamento Nacional (MECJD, 2003, p. 120). Porém, segundo Prazeto (2007), essa proposta da Lei de Bases do Sistema Educativo [LBSE] - Timorense (MECJD, 2005), ou seja, o referido esboço da Lei Básica do Sistema Educativo Nacional, efetuada com a adaptação da LBSE de Portugal, Lei n.º 46/86 de 14 de Outubro, foi debatida durante dois anos, ficou concluída apenas em 2005 e ficou então a aguardar a aprovação do governo e do Parlamento Nacional. Entretanto, Prazeto (2007) realça que a proposta dessa lei não recebeu a atenção e prioridade devidas do governo em mandato, o I Governo Constitucional (2002-2006). Sendo Timor-Leste um país que saiu de um conflito violento

96 e sofreu com a destruição massiva no território em 1999, a focalização das prioridades do governo timorense durante os primeiros cinco anos para a área da educação assentava na normalização e na recuperação do sistema educativo, com atenção na área da reconstrução das infraestruturas escolares destruídas, recrutamento de professores, na reintrodução da língua portuguesa como língua de ensino e aprendizagem e na tentativa de desenvolver o currículo timorense (Pacheco, Morgado, Flores & Castro, 2009; Ramos & Teles, 2012), portanto na normalização e na criação das condições para assegurar o processo do ensino e aprendizagem.

A referida proposta da lei de bases da educação, supracitada pelo técnico responsável pela redação (entrevista 2), sendo desarticulada quanto às ligações das diversas partes, era a proposta da LBSE - Timorense, elaborada pelo MECJD do I Governo Constitucional (2002-2006) (MECJD, 2005). Na sua última revisão, em 2005, foi constatada essa desarticulação, como, por exemplo no Capitulo II – Âmbito e Organização do Sistema Educativo, particularmente no art.º 4.º – Âmbito – que, na alínea 1 tratava de âmbito da organização do sistema educativo, e na alínea 2 abordava o tema do Conselho Nacional da Educação, descrevendo como segue:

“Artigo 4.º - Âmbito:

1. O sistema educativo é formado pela organização sistematizada dos níveis de educação escolar, pelas escolas e cursos da rede escolar pública e privada e pelos conteúdos dos respetivos currículos académicos ou profissionais.

2. O Conselho Nacional de Educação, subordinado ao Ministério da Educação, Cultura, Juventude e Desporto é o órgão de carácter consultivo e de assessoramento do Ministério, e de acreditação dos estabelecimentos de educação escolar e extraescolar do sistema educativo.” (MECJD, 2005, p. 2).

Contudo, foi-nos referido que a organização das estruturas substanciais da proposta da LBE levada a cabo pelo IV Governo Constitucional (2007-2012) foi novamente desenhada. Assim descreveu o mesmo entrevistado:

“[…] o Ministro da Educação em 2007, Doutor João Câncio Freitas, tinha apresentado em concreto já uns esqueletos, uns traços, uns desenhos do que se pretendia para a educação de Timor-Leste. // […], redigi o anteprojeto da lei de acordo com o desenho que tinha sido feito pelo ministro, sendo que durante o processo algumas coisas foram alteradas em função de alguma discussão que fomos fazendo sobre o assunto. // O ministro deu-me orientações, isto é, disse-me oralmente aquilo que pretendia para o sistema educativo timorense e forneceu-me alguns documentos que tinham a ver com intervenções feitas anteriormente sobre o assunto, […] que foram apresentadas no I Congresso da Educação de Timor-Leste.” (Entrevista 2).

Ao perguntarmos se foi o técnico que desenhou a estrutura dos capítulos da LBE, obtivemos a reposta de confirmação de que “Sim, sim.” (entrevista 2). Assim sendo, o que nos foi indicado diz respeito ao trabalho da elaboração da proposta da LBE, a qual foi traçada novamente com base nas orientações do Ministro da Educação.

97 A opção pela designação de «bases da educação», em vez de «bases do sistema educativo» tem a ver com a ideia de abranger a educação de forma mais ampla, que engloba a pluridimensionalidade do ato de ensino, incluindo nele a ação formativa e educativa que serviam como bases de orientação do funcionamento do sistema educativo numa lógica de valores e de finalidades essenciais. Ficava de parte uma lógica rígida de estrutura e de funcionamento (RDTL, 2008).

Síntese B

A proposta da LBSE – Timorense (MECJD, 2005) para a educação timorense elaborada no período de mandato do I Governo Constitucional (2002-2006) não foi levada até ao fim, ou seja, até à sua promulgação como Lei, devido, entre outros aspetos, à cessação antecipada de funções desse Governo na sequência da crise do Estado Timorense em 2006. Essa interrupção contribuiu para que a proposta de lei não fosse debatida e decretada pelo Parlamento Nacional. Segundo os informadores privilegiados, a proposta da LBE, então a Lei n.º 14/2008 – LBE, foi elaborada novamente pelo IV Governo Constitucional (2007-2012) tendo em conta a ação e orientação do Ministro da Educação e ainda tomou em consideração as recomendações feitas do I Congresso Nacional da Educação, realizado em 2003.