Caraterização da Instituição
2.3 A Equipa do Centro de Inovação e Desenvolvimento [CI&D]
Ferreira (1996) aponta três aspetos importantes na descrição de uma organização: quem, porquê e como – por quem é composta, que orientação e objetivos persegue e, finalmente, como é o comportamento dos indivíduos. Antes de respondermos a estas três questões a respeito do CI&D, vamos compreender a sua génese.
Origem
O e‐learning começou a ser desenvolvido na Cegoc a partir de 2002. Nesse ano, formou‐se uma equipa constituída por formadores e designers gráficos. Os entrevistados E2 e E1 indicam algumas caraterísticas do grupo:
“A missão dessa equipa de e‐learning era fazer guiões de curso e‐ learning, faziam tutoria das pessoas que estavam a fazer os cursos e
havia duas pessoas que faziam a conceção gráfica do curso” (cit. 2.1, A, E2).
“Até há dois anos era uma equipa apenas de e‐learning” (cit. 3.1, A, E1)
Esta equipa foi recebendo mais recursos, o que possibilitou a montagem de uma fábrica de conteúdos9. O trabalho e‐learning foi sofrendo uma reestruturação, de forma que a conceção de guiões passou a ser feita pela Direção de Desenvolvimento, em França, sendo que a conceção gráfica e a fábrica de conteúdos manteve‐se em Portugal.
A equipa do e‐learning também veio a sofrer mudanças. A maior parte das pessoas envolvidas no grupo inicial, passaram para área da formação, ficando esta reduzida a três pessoas. A criação do CI&D deu‐se de forma progressiva, como o refere E2:
“As pessoas vão se juntando e vão recebendo as funções e as tarefas um bocadinho de forma gradual. Até que chega um ponto que dizemos “Isto está diferente”, então reestrutura‐se. Foi assim que nasceu o CI&D e agora é a equipa do elearning em Portugal” (cit. 4.3, A, E2)
Atualmente existem dois grupos de e‐learning na Cegoc; o inter e o intra. Na entrevista, E2 indica que a primeira equipa trabalha a nível internacional para o grupo Cegos e, portanto, para todas as filiais:
“Eles desenvolvem os cursos para o grupo todo (…) estão integrados numa equipa em França que se chama Centro de Recursos e
funcionam como Centro de Recursos para todas as filiais.” (cit. 20.2, B, E2)
“Quem vai desenvolver o gráfico, as animações, as ilustrações, são eles, porque nós na nossa equipa não temos as competências para fazer isso” (cit. 20.3, B, E2)
9 A expressão “fábrica de conteúdos” é utilizada no meio das equipas de e‐learning inter e intra para
designar um espaço partilhado e acessível através da rede por qualquer colaborador da área, na qual se reúnem todos os recursos gráficos, guiões em produção, objetos de aprendizagem, módulos que podem ser reutilizados para outros cursos, etc.
Quem?
A equipa intra, nada mais é do que o próprio CI&D constituída por três pessoas formadas em psicologia e mais uma consultora que presta apoio em projetos especiais. E1 esclarece‐o bem:
“O CI&D não somos só nós as três, quer dizer, somos nós as três a tempo inteiro (…) foi anunciado um reforço de época (…) é uma consultora que tem bastante experiência nesta área (…) colaborar connosco em part‐time para projetos específicos para nos apoiar e até porque existe também necessidade de algumas competências que nós ainda não temos tão desenvolvidas e daí haver este reforço de uma pessoa que tem vindo a colaborar connosco.” (cit. 8.1, A, E1)
O responsável direto do CI&D é o vice‐presidente, informa‐nos E1: “agora estamos sobre a alçada da direção” (cit. 5.1, A, E1).
Dentro do grupo não existe uma estrutura formal com um líder formal e posições definidas quanto a autoridade e responsabilidade e sujeitas a controle minucioso. Nos oito meses de convivência no CI&D, como observadora participante, facilmente pude perceber que a estrutura dispõem‐se de modo informal e instável, isto é, com uma autoridade tipicamente horizontal, baseada em relações também elas espontâneas, sem um controle aparente – a não ser pelas exigências do trabalho e prazos com clientes. Quando as exigências não são prementes, as próprias componentes do grupo podem escolher que tarefas realizar e como organizar o seu tempo diário. Algumas atividades estão tradicionalmente atribuídas a um dos membros – por exemplo, realizar tutoria com um grupo de clientes ou de forma individual, mas nem mesmo esta tarefa está isenta de ser partilhada.
Porquê?
A missão do CI&D está em “Promover as boas práticas ao nível técnico‐ pedagógico com o objetivo de aumentar a eficácia da formação” (cit. 6.1, A, E1). Informalmente,em entrevista, são partilhados alguns objetivos:
“Somos vistos como uma equipa transversal que dá apoio às várias áreas cá dentro da empresa. O nosso grande objetivo é promover as boas práticas e a relação técnico‐pedagógica” (cit. 7.1, A, E1)
“Nós gostávamos de caminhar para fazer mais coisas, porque consideramos que há espaço para isso.” (cit. 7.2, A, E1)
O CI&D desenvolve dois tipos de trabalho:
1) Gestão e acompanhamento de projetos e‐learning e blended learning – que inclui adjudicar propostas, trabalho de conceção, costumização10, montagem de percursos na plataforma, inscrição de formandos, tutoria e acompanhamento de forma individual ou em grupo, avaliação da satisfação e das aprendizagens11, desenvolver novos produtos, entre outros (cit. 11.2, 11.3, 11.4, 11.5, 11.6, A, E1) 2) Apoio em várias áreas da empresa (cit. 11.1, A, E1) Como?
Para completar esta descrição é necessário indicar a forma de trabalho do grupo. Da perspetiva da própria equipa, existe um trabalho evidentemente colaborativo e partilhado, como referido em entrevista:
10 Costumização é o termo utilizado internamente para designar uma adaptação de conteúdos
existentes. Na Cegoc, os cursos e/ou módulos podem compreender três configurações: em “catálogo”, costumização e à medida (neste último caso, são produzidos novos objetos de aprendizagem).
11 Segundo o modelo de Donald Kirkpatrick (1959), a avaliação pode considerar quatro níveis: avaliação
do grau de satisfação dos participantes na formação, avaliação das aprendizagens, avaliação da transferência dos saberes para o contexto de trabalho e avaliação do impacto da formação no contexto organizacional. Nos projetos que acompanha, o CI&D trabalha nos dois primeiros níveis.
“Nós trabalhamos muito em equipa. Inicialmente nós temos um projeto, alguém fica mais responsável com a gestão desse projeto” (cit. 16.1, A, E1) “O nosso trabalho é bastante colaborativo e sempre que uma de nós precisa de ajuda, nós ajudamo‐nos mutuamente. E esse é um aspeto muito importante na nossa equipa.” (cit. 16.2, A, E1) “É partilhar a informação toda (…) regra geral, cada uma de nós sabe o que é que as outras estão a fazer (…) a informação está sempre partilhada, documentação está sempre na rede” (cit. 16.3, A, E2)
“É preciso tomar uma decisão qualquer. Entre nós as três é fácil chegar a acordo.” (cit. 16.4, A, E2)
Enquanto presente na equipa, pude observar, de facto, que o trabalho diário não era meramente distribuído. Algumas tarefas tinham um responsável determinado logo de início (a gestão de um projeto, a tutoria de um curso, a conceção de um módulo). Porém, continuamente, havia partilha do que vinha a ser feito – geralmente de forma verbal – como também pedidos de sugestão, conversas sobre a melhor forma de colocar um conteúdo, comunicação de um caso especial de tutoria, entre outros pontos. O CI&D funciona, portanto, como uma unidade da Cegoc que, por sua vez, permanece como uma dependência do grupo Cegos.