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CAPÍTULO 3 – A EDUCAÇÃO MILITAR PÓS-

3.2 A Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME)

O Estado-Maior do Exército (EME) brasileiro foi instituído em 24 de outubro de 1896, sete anos após a instauração da República. Todavia, antes da “revolução institucional” trazida pela Missão Militar Francesa, não havia noção exata a respeito da sua real função conforme registra um documento escrito pelo general Jose Caetano de Faria,

13 Conforme veremos no capítulo 4, houve um tempo em que a educação militar privilegiava a formação de

então chefe do EME em 1912:

Possuíamos um Estado-Maior, assoberbado pelas questões de serviço corrente, de caracter puramente administrativo, tinha todo seo tempo occupado com transferências de officiaes e praças, licencas, monte-pio (...) nem ao menos há uniformidade no modo de comprehender a nocao de Estado-Maior, entre nos (sic). (ESTEVES, 1996:46)

A Escola de Estado-Maior do Exército foi criada em 1905, tendo mudado sua denominação para Escola de Comando e Estado-Maior do Exército (ECEME) em 1955. No ano de 2005, por ocasião de seu centenário, recebeu a denominação histórica de “Escola Marechal Castello Branco”, em homenagem a seu ex-comandante. A Escola, comandada por um general-de-brigada, está localizada na encosta do Morro do Pão de Açúcar, em frente à Praia Vermelha, cidade do Rio de Janeiro.

No âmbito do Exército, a ECEME é considerada o instituto formativo do oficialato de mais alto nível da Força, pré-requisito para o generalato. Sua tarefa consiste em preparar oficiais superiores (a partir do posto de major) para o exercício de funções de estado-maior (planejamento e coordenação das atividades da Força), bem como para o comando, chefia, direção e assessoramento à alta hierarquia do Exército. A organização considera que nas salas da Escola estão alguns dos seus futuros líderes14, sendo assim é tratada como o "centro de excelência e cartão de visita" do Exército.

A ECEME também coopera com os órgãos de direção-geral e setorial no desenvolvimento da doutrina e emprego terrestres. Ou seja, na transformação das análises de conjuntura e das experiências de combate obtidas pelo Exército, em princípios de comando. Assim o oficial QEMA (do Quadro de Estado-Maior) é preparado para comandar: apoiado em análises prévias da conjuntura em que se encontra a instituição.

14 Brincadeira corrente entre os oficiais quando algum deles é aprovado no concurso da Escola: a partir

daquele momento o referido oficial não é mais apenas "um membro" da instituição, mas "sócio". É uma maneira espirituosa de mostrar que futuramente ele terá poder de decisão sobre os rumos da Força.

"Não é pouco dizer que a ECEME é um ponto de inflexão na carreira dos oficiais do Exército e, talvez por isso, seja um estabelecimento de ensino muito importante para a estrutura organizacional da força terrestre" (LEIRNER, 2006: 150).

3.2.1 O Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM)

O Curso de Comando e Estado-Maior (CCEM), foco de nossa investigação, habilita e capacita os oficiais das Armas (Infantaria, Cavalaria, Artilharia, Engenharia e Comunicação) ao exercício de cargos e funções de estado-maior em grandes unidades (brigadas) e em grandes comandos. São os especialistas na administração da violência.

Para ingressar no CCEM, os candidatos devem preencher os seguintes requisitos: possuir patente de major ou tenente-coronel (ou estar no último ano no posto de capitão); ser aprovado no concurso de admissão15; possuir habilitação no idioma inglês ou espanhol; e passar pelo “filtro institucional” que analisa, principalmente, o histórico profissional do futuro aluno, privilegiando, portanto, o mecanismo do mérito. Uma vez aprovado, o oficial é retirado de suas atividades regulares e fica à disposição da Escola por dois anos, tempo de duração do curso.

Praticamente todos os instrutores do Curso de Comando e Estado-Maior são militares (oficiais superiores), sendo reservadas apenas duas disciplinas para professores civis16: Metodologia da Pesquisa em Ciências Militares e Metodologia do Ensino Superior – ou seja, matérias sem maiores implicações institucionais. Esse processo de recrutamento direcionado para a busca de membros que partilham dos valores institucionais pré-

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Considerado de alta complexidade em decorrência da profundidade em que são tratados temas nas áreas de História e Geografia, inter-relacionados aos assuntos mais relevantes da atualidade. Os candidatos devem responder as perguntas rigorosamente dentro de um método especifico desenvolvido pela Escola.

estabelecidos, incrementa o chamado "processo de aprofundamento vertical" das instituições.

O aprofundamento vertical refere-se à extensão na qual a estrutura institucional define as identidades dos atores individuais. Tal aprofundamento depende da capacidade de socialização que determinada instituição tem sobre os indivíduos, o que, por sua vez, vai depender dos recursos materiais e simbólicos. Ele também irá variar de acordo com a forma como a identidade dos indivíduos é afetada ou determinada pela posição que estes ocupam dentro da estrutura organizacional (COSTA, 2004:71).

Quando se trata de educação militar, tal processo é aceito e muito bem sucedido entre os membros da organização, como mostra minha pesquisa com oficiais-alunos da ECEME. Um total de 100% dos entrevistados acham que os critérios de promoção de carreira e a educação militar devem ser reduto exclusivamente militar. Embora 87% concordem que civis participem de cursos disponibilizados pelas escolas militares.

O Curso de Altos Estudos Militares, que inclui o curso de estado-maior, está organizado em seções (com instrutores, funcionários civis e militares exclusivos), responsáveis por pesquisar, aplicar a doutrina, controlar, supervisionar, conduzir o ensino e participar da avaliação referente à disciplina que lhe for atribuída.

As seções são as seguintes: Seção Corpo Discente, Seção de Estratégia e Administração, Seção de Operações Defensivas, Seção de Operações Ofensivas, Seção de Operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) e Seção de Logística e Mobilização. Observe-se que cada seção é voltada para um assunto específico, o que denota alta especialização profissional.

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