• Nenhum resultado encontrado

A modernização do ensino: nova política educacional do Exército

CAPÍTULO 3 – A EDUCAÇÃO MILITAR PÓS-

3.1.1 A modernização do ensino: nova política educacional do Exército

DEP de 2007 para todas as escolas militares destaca que:

Os estabelecimentos de ensino (Estb Ens) são as vigas mestres da

instituição, em que se assentam a evolução e a eficiência do Exército,

devendo buscar o revigoramento da vontade, a homogeneização de procedimentos, a atualização de conhecimentos, a uniformização da doutrina e o disciplinamento da conduta dos docentes e discentes (BRASIL,Comando do Exército, 2006) [grifo do autor].

A Política de Ensino do Exército (BRASIL, Comando do Exército, 2002a) considera o ensino como "atividade prioritária capaz de manter atualizados os recursos humanos, consoante a evolução e o progresso em todos os campos do conhecimento".

3.1.1 A modernização do Ensino: nova política educacional do

Exército

Em 1994 o Exército Brasileiro deu início a um processo de mudanças no seu sistema de ensino, com o intuito de adaptar pedagogia e currículos aos novos contextos sociais, políticos e organizacionais, em âmbito nacional e internacional. O primeiro passo

foi a realização de um simpósio promovido pelo Estado-Maior do Exército em Brasília, onde as mais importantes conclusões foram publicadas no documento "Política Educacional do Exército para o ano 2000 – Fundamentos", numa alusão ao prazo estabelecido pelo SIPLEX para a primeira avaliação organizacional. Estas conclusões também serviram de base para as reformas organizacionais iniciadas partir de 1996, apoiadas em uma espécie de "radiografia" do sistema realizada pelo denominado Grupo de Trabalho para o Estudo da Modernização do Exército (GTEME), integrado por instrutores, pedagogos, sociólogos e psicólogos da própria instituição.

O documento destaca que a sobrevivência das organizações, na nova realidade, depende da capacidade destas se tornarem "mais abertas e flexíveis" – questão problemática para organizações extremamente herméticas e conservadoras como as Forças Armadas. Interessante notar que, no documento, o Exército é orientado a "buscar uma maior interação com a sociedade, promovendo os ajustes necessários para projetar a permanência e a evolução institucional, mantendo, contudo, sua identidade e seus valores". Nessa perspectiva, fica claro que enquanto a organização pode e deve ser flexível às mudanças, redefinindo políticas e estratégias, conceitos como identidade e valor devem ser mantidos e assegurados através do tempo.

Assim, a nova educação militar projetada pela Força Terrestre deve propiciar recursos humanos adaptados ao novo ambiente organizacional – providos com conhecimento técnico e interdisciplinar, capacidade de adaptação, de iniciativa, de expor opiniões, de agir no contexto de grupo e de utilizar modernas tecnologias. Inclusive, passou a ser obrigatório o domínio de pelo menos um idioma estrangeiro pelo oficialato. Exigência bem definida na diretriz do DEP para o ano de 2007:

O ensino-aprendizagem de idiomas estrangeiros deverá receber atenção especial por parte dos responsáveis pelo planejamento do ensino. A habilitação nos idiomas espanhol e inglês é obrigatória para os oficiais. É dever de todos os oficiais o domínio de pelo menos um dos dois idiomas e desejável para subtenentes e sargentos (BRASIL, Comando do Exército,2006) [grifo do documento].

A diretriz do DEP editada em 1994 também orienta para a necessidade de mudança organizacional, mas fundamentada nos valores centrais da instituição descritos como patriotismo, hierarquia, disciplina, lealdade e responsabilidade. A solução para tal reforma veio por meio da norma para que fossem intensificados os estudos da História Militar, com o objetivo de "oferecer referências de comportamento e pensamento que caracterizam o militar". De acordo com Costa (2004:73), "as instituições não apenas condicionam o comportamento e moldam as identidades individuais, como também selecionam e distribuem informações. Ao fazerem isso, privilegiam determinadas opções de mudanças e de alocação de recursos".

A Diretriz do DEP de 2006 também denota essa preocupação com atitudes e valores ao orientar as escolas militares nos seguintes termos:

O corpo docente e os integrantes da administração dos Estb Ens deverão conduzir, rotineira e enfaticamente, as atividades de formação e desenvolvimento das atitudes dos discentes, de acordo com os padrões adotados pelo Exército, objetivando os valores éticos e morais, previsto no Vade-Mécum de Cerimonial Militar do Exército (...) Todas as oportunidades deverão ser aproveitadas para arraigar a disciplina, a

hierarquia e a disciplina consciente, no sentido de estruturar a coesão

dos integrantes do Exército e, principalmente, favorecer o trabalho em

equipe (...) As atividades educacionais deverão criar condições

necessárias para desenvolver o sentimento de cumprimento de missão em detrimento dos interesses pessoais e das situações adversas (...) O sistema de ensino militar deverá mobilizar os conceitos e teorias educacionais a fim de que o discente estabeleça comportamentos de

autocontrole para superar as situações de crise e os estados psicológicos

Pode-se notar que a modernização da educação no Exército visa profissionalizar e atualizar seus quadros, mas o comportamento dos membros deve apoiar-se em modelos morais e cognitivos (crenças e percepções) que privilegiam os valores, as tradições e a trajetória histórica da organização. Constatação que fica ainda mais evidente a partir da entrevista concedida pelo general Gleuber Vieira em 1997, quando era o então chefe do DEP e gestor do processo inicial de modernização:

Orientei o GTEME para que, em nenhum momento, perdesse de vista a finalidade precípua do sistema de ensino: entregar à Força recursos humanos que lhe permitam cumprir, nas melhores condições, sua missão constitucional. Isto significa, formar soldados. Soldados proficientes, compromissados com a Instituição, praticantes de seus valores centrais, orgulhosos de suas tradições e história, remota e recente, e confiantes no futuro do Exército (ENTREVISTA com o chefe do DEP, 1995) [grifo da publicação e sublinhado nosso].

O sistema de ensino militar pós-1985, portanto, deverá formar soldados13 preparados para cumprir suas missões, com perfis adequados às exigências profissionais do mundo moderno, sem abrir mão, porém, dos valores centrais da instituição. O Exército possui e deve perseguir objetivos bem definidos, mas dentro de um limitado conjunto de instituições. Feita estas observações, partirei para a análise dos currículos da Escola de Comando e Estado-Maior, antes descrevendo esse espaço formativo.

Documentos relacionados