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Foto 1 – Prédio onde funciona o INES desde 1915, em Laranjeiras

2. HISTÓRICO SOBRE A SURDEZ NO BRASIL

2.3. A Escola Inclusiva

Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. (Mantoan,2005)

As reivindicações nas décadas de 60 e 70 para que as ditas minorias fossem reconhecidas, amparadas e protegidas pela lei, respeitando sua diversidade e cultura, impulsionaram uma abertura na sociedade para discussões dos direitos desses movimentos.

A partir das décadas de 80 e 90, começa a se configurar um novo cenário nacional e internacional que viabiliza a garantia dos direitos dos historicamente excluídos, entre eles, os surdos, que ganham força e visibilidade social.

O Brasil, saindo de um período ditatorial, começa um processo de abertura democrática e surgem diversos movimentos pelo direito de todos à educação e discussões sobre o sistema de ensino. Em 1988 é aprovada a atual Constituição da República Federativa do Brasil que garante em seu artigo 208, inciso III, “o atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino”.

Baseada na Declaração dos Direitos Humanos, a Organização das Nações Unidas (ONU), publica a Declaração de Salamanca16 em 1994, sobre princípios, políticas e práticas em educação especial. É nesse cenário político e social que o termo Educação Inclusiva ganha força e é colocado como meta dos países signatários da Declaração, entre eles, o Brasil.

Na década de 90, reformas estruturais e educacionais ocorreram no Brasil, inspiradas e direcionadas por organismos internacionais17 e pelo discurso de Educação para Todos (UNESCO). Obedecendo ao paradigma da educação inclusiva, o Brasil aumenta o número de matrículas de crianças com deficiências na rede regular de ensino.

Contudo, a nova proposta de educação inclusiva procura romper com a ideia de inclusão apenas como inserção física dos alunos com deficiência na rede regular de ensino, uma vez que esta era a realidade que tínhamos com a Integração.

Nessa concepção, não é mais o aluno que deve se integrar à escola, mas a escola é que deve se adaptar às necessidades do aluno. A escola deve assumir o compromisso de educar cada criança na sua diversidade.

Pacheco (2007) estabelece o que se entende por educação inclusiva a partir da experiência de escolas europeias:

A educação inclusiva tem sido discutida em termos de justiça social, pedagogia, reforma escolar e melhorias nos programas. No que tange à justiça social, ela se relaciona aos valores de igualdade e de aceitação. [...] A inclusão pressupõe que a escola se ajuste a todas as crianças que desejam matricular-se em sua localidade, em vez de esperar que uma determinada criança com necessidades especiais se ajuste à escola (integração)” (2007, p. 15)

Embora a proposta de integração citasse que o atendimento aos surdos dar-se- ia, preferencialmente por professores que soubessem a LIBRAS, tal fato raramente ocorria e nem era exigido entre as atribuições que eram demandadas dos professores da classe especial ou comum. O importante, nessa concepção, era preparar os surdos para se integrarem à escola regular.

      

16 Aprofundaremos mais nossas reflexões sobre este e outros documentos aqui apresentados no próximo capítulo.

17 Informações extraídas do site http://www.artigonal.com/educacao-artigos/pressupostos-da- educacao-inclusiva-1080600.html. Acessado em 08/01/2011

Apesar de semanticamente as expressões integração e inclusão terem significados parecidos e ambos constituírem formas de inserção social das pessoas com deficiência, as suas práticas são diferenciadas. Esses termos são comumente utilizados por algumas pessoas como se tivessem o mesmo significado. No entanto, em termos educacionais representam grandes diferenças em nível de filosofia a qual cada uma se vincula.

Vergamini (2010)18 estabelece que a prática da integração tem como base o “modelo médico”, segundo o qual é necessário reabilitar e educar o surdo para superar suas dificuldades e torná-lo apto a satisfazer os padrões aceitos no meio social, nesta prática, quem se adapta é o surdo.

Na prática da inclusão segue o “modelo sócio-antropológico”, a tarefa de adaptação é da sociedade que precisa modificar-se para tornar-se capaz de acolher a todas as pessoas, ou seja, não falamos apenas de uma escola, mas de uma sociedade inclusiva.

As escolas regulares, seguindo esta orientação inclusiva, constituem os meios mais capazes para combater atitudes discriminatórias, criando comunidades abertas e solidárias, construindo uma sociedade inclusiva e atingindo a educação para todos; além disso, proporcionam uma educação adequada à maioria das crianças e promovem a eficiência, numa ótima relação custo-qualidade, de todo o sistema educativo. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.IX)

Ao ampliar-se esta perspectiva para uma sociedade inclusiva, não estão inseridos neste grupo somente alunos com algum tipo de deficiência, mas todos que naquele momento foram considerados à margem da sociedade: ciganos, moradores de rua, crianças com dificuldades de aprendizagem, etc.

Vergamini (2010) reproduz um quadro elaborado por Claudia Werneck no primeiro volume do Manual de Mídia Legal que diferencia as duas abordagens. Podemos dizer, a partir desse quadro, que a Integração foi o processo de transição para a Inclusão.

      

18 Texto disponível em http://www.editora-arara-azul.com.br/revista/02/pontodevista.php. Acessado em dezembro de 2010.

INTEGRAÇÃO INCLUSÃO A inserção é parcial e condicional (crianças

"se preparam" em escolas ou classes especiais para estar em escolas ou classes regulares).

A inserção é total e incondicional (crianças com deficiência não precisam "se preparar" para ir à escola regular. É a escola que tem que se preparar para recebê-las).

Pede concessões aos sistemas. Exige rupturas nos sistemas. Mudanças visando prioritariamente a pessoas

com deficiência (consolida a ideia de que elas "ganham" mais).

Mudanças que beneficiam toda e qualquer pessoa (não se sabe quem "ganha" mais; TODAS ganham);

Pessoas com deficiência se adaptam às necessidades dos modelos que já existem na sociedade, que faz apenas ajustes.

Sociedade se adapta para atender às necessidades das pessoas com deficiência e, com isso, se torna mais atenta às necessidades de TODOS.

Defende o direito de pessoas com deficiência Defende o direito de TODAS as pessoas, com e sem deficiência.

Insere nos sistemas os grupos de "excluídos que provarem estar aptos".

Traz para dentro dos sistemas os grupos de "excluídos" e, paralelamente, transforma esses sistemas para que se tornem de qualidade para TODOS.

Quadro 1: Diferenças entre Integração e Inclusão. Fonte: Vergamini (2010)

Retomando a escola inclusiva, compreende-se por fundamentos desta escola: O princípio fundamental das escolas inclusivas consiste em todos os alunos aprenderem juntos, sempre que possível, independentemente das dificuldades e das diferenças que apresentem. Estas escolas devem reconhecer e satisfazer as necessidades diversas dos seus alunos, adaptando-se aos vários estilos e ritmos de aprendizagem, de modo a garantir um bom nível de educação para todos, através de currículos adequados, de uma boa organização escolar, de estratégicas pedagógicas, de utilização de recursos e de uma cooperação com as respectivas comunidades. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p.11-12)

Quanto a alunos com algum tipo de deficiência 19, o documento prevê:

A colocação de crianças com deficiência nas classes regulares deve constituir parte integrante dos planos nacionais que visam à educação para todos. Mesmo nos casos excepcionais, em que as crianças são postas em escolas especiais, a sua educação não deve ser inteiramente segregada, encorajando-se a frequência de escolas regulares a meio tempo. [...]

      

As crianças com necessidades educacionais especiais devem receber apoio pedagógico suplementar no contexto do currículo regular e não um currículo diferente. O princípio orientador será o de fornecer a todas, a mesma educação, proporcionando assistência e os apoios suplementares aos que deles necessitem. (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994, p. 18 e 22)

Para tanto, a escola deve se preparar antecipadamente para receber o aluno com necessidades educacionais especiais adequando-se às suas necessidades com uma equipe de profissionais da área da educação e saúde em um trabalho conjunto com os pais, com a comunidade e com toda a escola.

No caso específico dos surdos, uma escola dentro da proposta inclusiva, deve levar em consideração suas necessidades linguísticas proporcionando-lhes uma educação com bilinguismo, discussão entre os surdos desde o século XVIII.

Desta forma, uma escola inclusiva e bilíngue, considera a questão bicultural (surdos e ouvintes), revê adaptações curriculares onde sejam inseridas a LIBRAS e o português como segunda língua, tem uma sala de recursos com profissional que conheça LIBRAS, tem intérpretes e/ou professores que dominem a LIBRAS, além de um instrutor surdo.

Como a proposta inclusiva traz certas particularidades quanto à educação de surdos, como a educação com bilinguismo, tratamos desse tema no próximo capítulo, uma vez que sua compreensão torna-se necessária para o entendimento das articulações políticas que criam disciplinas no Ensino Superior visando atender a educação com bilinguismo.