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PARTE I Enquadramento Teórico

1.3 A motivação e a inteligência emocional no desenvolvimento profissional do professor

1.3.3 A Escola motivadora

A ESCOLA "Escola é...

o lugar onde se faz amigos

não se trata só de prédios, salas, quadros, programas, horários, conceitos...

Escola é, sobretudo, gente, gente que trabalha, que estuda, que se alegra, se conhece, se estima. O Diretor é gente,

o Coordenador é gente, o professor é gente, o aluno é gente,

cada funcionário é gente. E a Escola será cada vez melhor na medida em que cada um

se comporte como colega, amigo, irmão.

Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem amizade a ninguém

nada de ser como o tijolo que forma a parede, indiferente, frio, só.

Importante na Escola não é só estudar, não é só trabalhar, é também criar laços de amizade,

é criar ambiente de camaradagem, é conviver, é se „amarrar nela‟! Ora, é lógico...

numa Escola assim vai ser fácil estudar, trabalhar, crescer, fazer amigos, educar-se, ser feliz.".

Paulo Freire

As Escola são as pessoas. A Escola é a vida que a habita. As Escola são as histórias de vida das pessoas que a habitam. A Escola motivadora é onde as histórias de vida das pessoas contam. Porque são histórias que aí ganham significado, que adquirem capacidade de reciclagem, que se transformam de fragilidades em resiliências.

Transversal a toda a obra de Paulo Freire, a sua conceção filosófica de Escola traduz uma visão humanista e humanizadora de uma Escola que se assume como um espaço privilegiado de saber, reflexão, diálogo e formação para a cidadania e intervenção cívica.

No seu livro “Pedagogia do Oprimido”, Paulo Freire critica a conceção de Escola que funciona apenas como veículo institucional de transmissão de uma educação “bancária” que guarda como depósito inerte os valores cristalizados pela sociedade, que se limita a transferir de geração em geração. Esta Escola não motiva, não se constitui como um espaço de

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acolhimento, e, consequentemente, não contribui para o desenvolvimento integral da pessoa (professores, funcionários e alunos) que é a verdadeira missão da Escola.

A Escola, como também afirma Freire (op. cit. p.57) não pode ser vista:

“ como algo parado, estático, compartimentado e bem comportado, quando não falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta educação. Nela, o educador aparece como seu indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é “encher” os educandos dos conteúdos da sua narração. Conteúdos que são retalhos da realidade, desconectados da totalidade em que se engendram e em cuja visão perderam significado.

A palavra, ponte das relações de aprendizagem, se esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra oca, em verbosidade alienada e alienante. Por isto mesmo é que uma das características desta educação transmissora é a “sonoridade” da palavra e não sua força transformadora”.

Esta Escola não motiva à superação, à valorização do indivíduo no grupo, não estimula a capacidade crítica. É uma Escola incapaz de desenvolver na “ sua gente” vontade de criar lugares “ onde seja permitido sair da fila”. É uma Escola a não tem qualquer poder transformador, nem de renovação ideológica. Pelo contrário é uma Escola que destrói quem mostra dinamismo critico, quem procura novas formas para o sucesso, num processo a que, por analogia com o fenómeno biológico, Guerra (2003 pp. 128-131) chama de Fagocitose.16

Este tipo de Escola não motiva, pelo contrário incentiva o desempenho funcionário e desvaloriza o professor profissional e socialmente.

A Escola que motiva é um espaço de diálogo interpelante como aprece defendido por Nóvoa (2009) que evocando Hutchings e Huber (2008) que afirma:

“a importância de reforçar as comunidades de prática, isto é, um espaço conceptual construído por grupos de educadores comprometidos com a pesquisa e a inovação, no qual se discutem ideias sobre o ensino e aprendizagem e se elaboram perspetivas comuns sobre os desafios da formação pessoal, profissional e cívica dos alunos.”

A Escola motivadora é a Escola que atrai, que justifica a alegria da demanda e a satisfação do encontro ou como ilustram, de novo, as palavras de Nóvoa (2009 p.8), é aquela que:

“através dos movimentos pedagógicos ou das comunidades de prática, reforça um sentimento de pertença e de identidade profissional que é essencial para que os professores se apropriem dos

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processos de mudança e os transformem em práticas concretas de intervenção. É esta reflexão coletiva que dá sentido ao desenvolvimento profissional dos professores. “

É a mobilização para a busca do conhecimento , do saber fazer melhor, que transforma a Escola numa comunidade aprendente que Canário, retomando o título de um texto, de Lawrence Ingvarson (1990), “Schools, places where teachers learn,”17

defendeu na sua comunicação no I Congresso Nacional de Supervisão (2002).

Trabalhar numa Escola onde os professores (re) aprendem a sua profissão todos os dias, além de motivador é uma forma de impedir a inépcia e a rotina. A Escola tem de ser um local onde todas ou quase todas as pessoas se sintam felizes aprendendo. Alves (2010) num artigo intitulado “A Escola e a Caixa de Mil Espelhos‖ publicado numa revista de educação18 escreve:

“Precisamos de ver, na Escola, pequenos oásis que (re) confortam. Gestos que nos animam. Oportunidades que nos encantam e alentam. Poderes que nos gratificam. Precisamos de tempos de encontros e de celebração. Precisamos de nos felicitar uns aos outros. Porque estes motivos também existem. E são eles que nos podem animar e ampliar uma disposição gerada por estes mil espelhos de alegria.

Precisamos destas imagens de alegria. Precisamos de as ver. Precisamos de construir e reconhecer. Porque a nossa felicidade – e a nossa realização profissional - passa por aí. Isto não significa, obviamente, distorcer a realidade, ignorar o que nos avilta e oprime, desvalorizar o peso do

sistema. Não! Essa face da realidade tem de merecer a nossa contestação. Mas precisamos de nos

situar na construção das margens da alegria. Sobretudo nestes tempos críticos e de ameaça.”

A Escola motivadora é aquela em que trabalhar é uma ideia estimulante e onde o trabalho constitui um mar agitado de oportunidades de construção de conhecimento e não um local de águas paradas onde aluno e professores se consomem na espuma dos dias.