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4. ESTUDO DE CASO

4.2 A Escolha e Apresentação dos Setores Estudados

Após prévia análise da empresa foi estabelecido um primeiro contato com a fisioterapeuta da empresa responsável pelo setor de Ergonomia, que indicou dois locais da empresa, que apresentaram no passado um grande número de trabalhadores acometidos por LER/DORT e que atualmente têm uma incidência pequena ou quase nula, sendo que um dos locais passou por modificações mais completas que envolveram desde mudanças nos maquinários, na organização da tarefa e até no treinamento dos trabalhadores. E o outro sofreu apenas pequenas modificações organizacionais sem haver mudanças físicas do posto de trabalho ou treinamentos.

Os dois setores são responsáveis pela etapa de acabamento externo do principal produto da empresa, cuja produção é de cerca de um bilhão e meio de unidades ano7, além de realizarem outras etapas deste processo, mas que não foram alvo de intervenções integrais e por isso não foram analisadas.

O setor que recebeu pouca intervenção do projeto de ergonomia realiza o acabamento de alguns tipos padronizados do produto e que possuem menor demanda do consumidor. Este setor está sendo utilizado na pesquisa como um setor controle da situação estudada, ou seja, ele representa o setor modificado antes do processo de mudanças decorrentes do projeto de intervenção ergonômica, sendo uma forma de avaliar o impacto das mudanças do outro setor, uma vez que seria necessária a comparação da situação antes da intervenção, o que no setor modificado já não é mais possível, pois as mudanças já aconteceram e conforme informações dos relatórios

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iniciais do projeto e da fisioterapeuta, o setor controle possui seu processo produtivo muito semelhante ao do setor modificado antes da intervenção.

O setor da intervenção mais complexa apresenta uma alta variabilidade de acabamentos do produto, sendo que a principal característica é a variação das cores do produto.

O processo de acabamento externo do produto, em ambos os setores, envolve várias etapas e estão representadas na figura 4.1.

FIGURA 4.1: Fluxograma do processo de acabamento externo do produto.

Para facilitar a compreensão do texto, o setor que recebeu intervenção mais complexa foi denominado de Setor A e o setor com poucas mudanças, de Setor B, como já mencionado no capítulo 3.

Os dois itens subseqüentes deste capítulo apresentam brevemente os dois setores estudados. A descrição detalhada das tarefas com as exigências físicas e cognitivas destes setores encontra-se no apêndice C.

2 Início Fim 1 4 5 6 7 8 tinta tinta verniz fita 1a pintura 2a pintura Envernizamento Carimbo Acabamento da extremidade inferior Acabamento da extremidade superior

Inspeção da pintura e extremidades

Armazenamento em caixas 3 2 Início Fim Fim 1 4 5 6 7 8 tinta tinta verniz fita 1a pintura 2a pintura Envernizamento Carimbo Acabamento da extremidade inferior Acabamento da extremidade superior

Inspeção da pintura e extremidades

Armazenamento em caixas

4.2.1 Apresentação do setor A

Os tipos de produto que recebem acabamento neste local podem ter algumas variações em seu formato e também na qualidade da matéria prima utilizada, por exemplo, os produtos exportados são de qualidade superior e de maior tamanho.

O processo produtivo está dividido em células, sendo que o setor possui 9 células de acabamento, havendo em cada uma quatro postos de trabalho, ocupados por 4 trabalhadores.

O período de maior demanda produtiva acontece por volta de agosto a dezembro pela proximidade do próximo ano letivo.

Existem dois turnos de trabalho, um diurno, das 07:00 às 17:00 hs, com pausa para o trabalho, das 11:00 às 12:00 hs, e um turno noturno, das 17:00 às 02:30 hs. Nos períodos de aumento excessivo da produção (outubro a dezembro), pode haver o terceiro turno, que ocasiona um remanejamento no horário dos demais turnos, que reduzem em uma hora sua jornada de trabalho de segunda a sexta-feira, mas trabalham em sábados alternados, e passando a ser das 07:00 às 16:00 hs, das 16:00 às 0:00 hs e das 0:00 às 7:00 hs.

Os trabalhadores realizam 4 pausas de 5 minutos durante a jornada de trabalho para a realização de exercícios (ginástica laboral). Além disso, existe um rodízio dos postos de trabalho dentro das células a cada hora trabalhada e as demais pausas são organizadas de acordo com o funcionamento da célula.

As células possuem uma prescrição sobre as divisões das tarefas para cada posto de trabalho, transcrita abaixo:

Posto 1: máquina de pintura (primeira demão) - abastece o posto com o produto;

- providencia a tinta da próxima cor antes do final da pintura da cor anterior; - troca a tinta do posto 1 e acerta a cobertura da primeira demão;

- desenrosca posto 1 e suas esteiras de entrada; - responsável pela qualidade da primeira demão; - ajuda os demais colegas quando necessário.

Posto 2: máquina de pintura (segunda demão)

- providencia a tinta da próxima cor antes do final da pintura da cor anterior; - troca a tinta do posto 2 e acerta a cobertura da segunda demão e do verniz; - desenrosca posto 2, envernizadeira e suas esteiras de entrada;

- responsável pela qualidade da segunda demão e pelo brilho; - ajuda os demais colegas quando necessário.

Posto 3: máquinas de carimbar e acabamento da extremidade inferior - providencia o próximo carimbo antes do final do carimbo anterior; - troca o carimbo, acerta o carimbo e o topo do produto;

- desenrosca as duas máquinas de carimbar, a máquina de acabamento da extremidade inferior e suas esteiras de entrada;

- responsável pela qualidade do carimbo e topo do produto; - providencia a troca dos dispositivos das máquinas;

- ajuda os demais colegas quando necessário;

Posto 4: Escolha do produto

- faz a escolha final, avisando os colegas sobre as falhas a serem corrigidas; - preenche diário de bordo, anotando a produção e as paradas das máquinas;

- providencia a troca dos dispositivos das máquinas de acabamento da extremidade inferior e superior do produto quando gastos (deve ser feita quando o funil da máquina estiver enchendo);

- responsável pela qualidade das extremidades do produto; - ajuda os demais colegas quando necessário.

A demanda da produção é controlada pelo sistema Kanban, através de um quadro com o número de todas as células e embaixo de cada um encontram-se cartões com os códigos dos próximos produtos que passarão pelo acabamento, sendo que a responsabilidade é de cada equipe de trabalhadores das células verificarem o que devem produzir.

Além, disso existe um controle direto dos líderes e encarregados do setor, que acabam verificando o andamento da produção.

4.2.2 Apresentação do setor B

Neste setor, a organização dos horários dos turnos acontece da mesma forma que o anterior, havendo uma pequena diferença no horário de pausa para almoço, para não sobrecarregar o restaurante.

O processo produtivo tem algumas máquinas com arranjo físico em célula, mas a maior parte do setor possui suas máquinas agrupadas por processos, que funcionam de forma isolada, sendo que esta parte foi o alvo desse estudo.

Assim, o processo tem início com as máquinas de pintura, sendo que em cada máquina há um operador, que é o responsável pela retirada e abastecimento do produto na máquina, pela preparação das tintas, e pelo número correto de demão de pintura de cada produto.

Depois, os produtos seguem para as envernizadeiras; nesta etapa, um trabalhador é responsável por operar duas máquinas e existe também uma envernizadeira tripla.

A próxima operação corresponde à escolha, na qual é analisada a qualidade da pintura e do envernizamento, e depois avalia as extremidades do produto. Esta operação é realizada sobre uma mesa de escolha, na qual trabalham quatro pessoas.

Os produtos escolhidos seguem para a carimbadeira (existem 4 máquinas avulsas no setor), na qual um trabalhador é responsável pelo abastecimento dos produtos na máquina e retirada dos mesmos, analisar a qualidade da impressão e chamar a equipe técnica para resolver problemas ou trocar os códigos quando existe mudança do produto; além disso, este trabalhador também controla simultaneamente a máquina que faz o acabamento da extremidade inferior do produto.

Por fim, é realizado o acabamento da extremidade superior em uma máquina, que opera com dois trabalhadores e realizam a avaliação da qualidade da extremidade superior no próprio posto. Os produtos são armazenados em caixas e seguem para o empacotamento.

Embora haja algumas diferenças de produtos e de organização de equipes, o processo de trabalho, a tecnologia e a organização do trabalho são semelhantes ao setor A.

Todo transporte de produtos de um posto a outro deste setor é realizado manualmente por trabalhadores específicos para esta função.

A demanda de produção para cada posto é controlada pelo líder de produção que determina lotes e os encaminha para os postos correspondentes. Existe o sistema Kanban, mas neste setor os operadores não tem acesso à seqüência da produção (não há um quadro).

Não existem rodízios entre os postos, havendo apenas as pausas de 5 minutos para a realização de exercícios preventivos.