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T V. T IRA-DENTES

A ESPACIALIDADE DO TRANSPORTE COLETIVO URBANO.

públicas tornam esses deslocamentos, no turno noturno, perigosos. Na pesquisa de campo, 32% dos moradores entrevistados reclamaram da qualidade do serviço de transporte coletivo urbano.

Destaca-se ainda que o custo do transporte coletivo se referencia na lógica do mercado e, portanto, é considerado muito elevado pelos trabalhadores desempregados ou subempregados, fato que impossibilita o seu acesso a este serviço. Para muitos moradores, os deslocamentos à pé ou de bicicleta representam as únicas alternativas de mobilidade urbana. Contudo, o desenho urbano das vias de circulação revela que, ao longo dos anos, não se preocupou com a criação ou melhoria das condições estruturais para este tipo de deslocamento na cidade, como estacionamento para bicicletas ou pistas especiais para ciclistas ou pedestres. A análise dos fluxos da estrutura viária mostra claramente a prioridade dada ao deslocamento dos veículos automotores e, consequentemente, a disputa do espaço pelos pedestres e ciclistas com esses veículos em que, quase sempre, vence o automóvel, provocando acidentes fatais no trânsito.

Com esta realidade é mister a elaboração de projetos de trânsito e tráfego que invertam esta lógica de mobilidade urbana praticada na cidade, ao longo dos anos.

Ao estabelecer um contraponto entre o transporte urbano coletivo e a pavimentação urbana, embora se observe um esforço da Prefeitura Municipal para realizar a pavimentação asfáltica nos corredores do transporte coletivo, os assentamentos e ocupações, em sua grande maioria, não possuem nenhum tipo de pavimentação o que tem sido utilizado como uma das justificativas para a dificuldade do acesso do transporte coletivo urbano a estas áreas. A pavimentação das ruas é apontada com 78%, como o segundo maior problema enfrentado pelos moradores, perdendo apenas para a falta de segurança. Os moradores reclamam das péssimas

condições das vias públicas produzindo com as chuvas e os esgotos que correm na superfície, muita lama e mau cheiro, e, em outros períodos, é a poeira que incomoda as famílias.

A falta de informações na Secretaria de Obras e Serviços Públicos sobre as condições gerais da pavimentação urbana em Vitória da Conquista impede uma maior precisão da pavimentação na área urbana e, consequentemente, uma análise mais aprofundada dessa questão.

3.3.7 Limpeza Urbana e Coleta de Lixo

O serviço de limpeza urbana e coleta de lixo são realizados na sede municipal por empresa terceirizada que, conforme informações da Divisão de Limpeza Pública é responsável por 70% do total do serviço e 30% de responsabilidade da Prefeitura que realiza a varrição de vias públicas e coleta de lixo em locais de difícil acesso. A coleta de lixo em locais de difícil acesso conta com a participação de uma cooperativa de carroceiros que recolhe o lixo em carroças de tração animal. Todo o lixo coletado é depositado no lixão, localizado a 9 Km do centro da cidade, sob a forma de vazadouro à céu aberto.

No conjunto da cidade o serviço de limpeza urbana e coleta de lixo são considerados satisfatórios. Todavia, as áreas em estudo estão situadas exatamente onde esse serviço é realizado, em sua grande maioria, de forma precária por carroças de tração animal que depositam o lixo em containeres distribuídos em

pontos estratégicos e são, posteriormente, esvaziados pelos carros compactadores da empresa terceirizada.

Desse modo, com diferentes intensidades, a presença de lixo e entulho é constante nos assentamentos e ocupações. Os pontos considerados mais críticos são: Santa Helena, Cidade Modelo, Renato Magalhães, Alto da Boa Vista, Conjunto da Vitória, Kadija (ao lado do cemitério), Jurema, Paulo Rocha e Santa Cruz. Nesses locais, a irregularidade na freqüência e a demora na coleta do lixo depositado nos containeres fazem com que o lixo seja espalhado pelo local, produzindo mau cheiro, expondo os moradores a riscos de saúde e degradando o ambiente, sobretudo, em áreas de menor altitude e sob influência do Rio Verruga.

O mapa 19 ajuda numa avaliação mais geral da estratégia utilizada pelo serviço de limpeza para a coleta dos resíduos sólidos em toda malha urbana.

Esses problemas, somados aos hábitos culturais inadequados dos moradores tais como: depósito de entulhos em terrenos baldios e vias públicas, forma inadequada do acondicionamento do lixo, descarte do lixo fora dos horários estabelecidos entre outros, agravam os problemas com a limpeza urbana e coleta.

Esse cenário motiva a realização de políticas públicas voltadas para a educação ambiental da população e das empresas produtoras de mercadorias de consumo doméstico e industrial, objetivando melhorar não apenas o serviço de limpeza, da coleta de lixo e do destino final dos resíduos sólidos, mas, também controlar a produção do lixo na cidade de Vitória da Conquista.

As condições gerais dos equipamentos e serviços urbanos coletivos aqui demonstradas, embora apresentem diferenças espaciais sutis, fortalece a idéia de que estejam de fato relacionados com o processo geral da acumulação capitalista e, portanto, expressam a divisão territorial do trabalho. Por se tratar de áreas em que as condições e relações de trabalho possuem um alto grau de precariedade, apresentam, também, uma intensa precariedade de acesso aos equipamentos e serviços urbanos coletivos. Para IKUTA (2003) isto revela uma superposição sócio- territorial das precariedades45, em que, “todo o conjunto de sub-condições de existência, estão “confinados” nas áreas mais precárias da cidade” (IKUTA, 2003, p. 39).

Mas, o que a realidade do conjunto dos equipamentos e serviços coletivos significa? Quais os rebatimentos sócio-espaciais produzidos? Que tipo de planejamento e gestão orienta a produção da habitação popular? É possível falar em melhoria da qualidade de vida e aumento da justiça social? É possível falar em urbanização e urbanidade? Estas e outras questões serão discutidas no próximo capítulo.

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Para IKUTA (2003), a superposição sócio-territorial do conjunto das precariedades acontece tendo em vista que, “as tendências do desemprego estrutural e a precarização das condições das relações de trabalho são fenômenos [...] que influem diretamente, objetiva e subjetivamente, em todos os demais aspectos da vida dos trabalhadores, que são ao mesmo tempo, moradores, usuários de transporte coletivo, consumidores de água, luz, esgoto, asfalto, serviços de saúde, educação, lazer, etc.” (IKUTA, 2003,p.39)

Capítulo 4

4 PRODUÇÃO SÓCIO-ESPACIAL DOS ASSENTAMENTOS E OCUPAÇÕES: MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA E AUMENTO DA JUSTIÇA

SOCIAL?

Com base na realidade social, econômica e espacial dos assentamentos e ocupações demonstrada até aqui é possível falar em melhoria da qualidade de vida e aumento da justiça social?

Para responder a este questionamento prioriza-se o planejamento e a gestão como instrumentos que subsidiaram ou subsidiam a produção sócio-espacial da habitação popular na cidade de Vitória da Conquista, bem como os rebatimentos sócio-espaciais por eles produzidos. Todavia, embora se reconheça que essa produção se realiza tanto pelo planejamento e gestão do Estado quanto da sociedade civil, dado ao caráter mais sistemático das ações do Estado e aos

objetivos a elas inerentes46, para responder ao questionamento acima, privilegiou-se a análise do planejamento e da gestão desenvolvidos pela Prefeitura Municipal para a produção dos assentamentos, desde 1991.

A estruturação desta resposta exige também a observação dos parâmetros balizadores da qualidade de vida e da justiça social: o nível de segregação sócio- espacial, a desigualdade sócio-econômica e o grau de oportunidade para a participação cidadã direta em processos decisórios importantes a que os moradores estão submetidos.

4.1 Planejamento e gestão dos assentamentos e ocupações.

Os assentamentos se constituem desde a aprovação da Lei nº. 570/91, na alternativa de acesso à moradia, apresentada pelo Programa Municipal de Habitação Popular, para o conjunto da população sem nenhuma ou com renda mensal de até dois salários mínimos e, a partir de 2003, até três salários mínimos.

A urbanização das áreas destinadas ao PMHP foi estabelecida (mas não definida) no Art. 8º inciso III da Lei nº. 570/91 como competência do município, e, mais tarde com a aprovação da Lei nº. 1.186/03, assim definida:

[...] o sub-programa de Infra-estrutura, Saneamento Básico e Urbanização tem como objetivo viabilizar a implantação de redes de infra-estrutura compreendendo guias, sarjetas, pavimentação, drenagem e serviços de água e esgoto, iluminação pública e coleta de lixo, e de urbanização,

compreendendo os padrões urbanísticos e construtivos, nos Projetos Habitacionais do Programa Municipal de Habitação Popular. (Lei nº.

1.186/2003, Sub-seção V, Art. 22º., grifo nosso).

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GRÁFICO 8 - PROBLEMAS ENFRENTADOS NO LOCAL DE MORADIA.