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T V. H PRATE S III RUA

AQUISIÇÃO DO LOTE ASSENTAMENTOS

AQUISIÇÃO DO LOTE ASSENTAMENTOS % OCUPAÇÕES % TOTAL GERAL % Cadastramento no PMHP 50 0 32 Compra de Terceiros 25 44 31,7 Ocupação 18 41 26 Outros 4,5 12 7 Não sabe 2 3 3 Não respondeu 0,5 0 0,3 TOTAL 100 100 100

1 - Doação, Troca, Cedidos, Recebeu da Associação e Herança. Fonte: Pesquisa de Campo, Dezembro de 2004.

Dos lotes ocupados nas áreas de assentamentos e ocupações, 31,7% foram adquiridos por meio da compra de terceiros. Esta comercialização é feita não

apenas com a benfeitoria, mas também, com o lote como mostrou os recibos de compra e venda43 exibidos por moradores e assinados, em alguns casos, por antigos líderes e presidentes de associações de moradores na década de 1980. Fato curioso é que nas áreas de assentamentos, em que se espera maior controle do poder público, a compra de lotes e imóveis é ligeiramente superior à das áreas de ocupação.

O depoimento de Neri (1998, apud FERRAZ, 2001, p.72), ex-coordenador da Habitação Popular sobre uma das primeiras ocupações no espaço urbano e a intervenção da Prefeitura Municipal evidencia o comportamento dos assentados após o recebimento do lote: “é muito comum ele receber, vender e comprar em um outro lugar onde a família se adapta mais a nível de raízes, de relacionamento familiar, de bairro”. (NERI, 1998, apud FERRAZ 2001, p.72).

Até o momento, não se tem conhecimento de denúncias formais junto aos órgãos jurídicos nem de ações do poder público municipal que coíbam o comércio ilegal de lotes em terras públicas. Todavia, este comportamento nos faz refletir sobre o conflito entre a apropriação e propriedade da moradia, principalmente, nos assentamentos urbanos em que os moradores já possuem o termo de cessão especial de uso concedido pela Prefeitura. O desejo demonstrado por muitos assentados durante a realização da pesquisa de campo, em efetuar a quitação do Imposto Predial e territorial Urbano (IPTU), somente para se ter um documento que reconheça a posse, mesmo não tendo rendimentos suficientes para isto ou mesmo sendo considerados pela Prefeitura como isentos, nos faz indagar sobre a verdadeira intenção deste gesto: seria o desejo pela apropriação (uso) ou pela propriedade (troca)? Muitos declararam canalizar recursos provenientes, até mesmo de

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Muitos destes moradores, pela desinformação, consideram estes recibos como escritura de posse do lote.

programas governamentais como a Bolsa Escola ou a Bolsa Família apenas com o intuito de obter um papel em que esteja registrado o seu nome e endereço.

Na compreensão de Carlos (2004, p.118) isto pode ser justificado pelo fato de que o “homem habita e se percebe no mundo a partir de sua casa”. No entanto, esta realidade aponta a imperatividade da reprodução do capital na condição humana em que transforma direta ou indiretamente cidadãos em consumidores e, portanto, ávidos pela cidade do consumo.

Ao focar a intensidade das transformações urbanas analisando o espaço e o tempo sociais no cotidiano, Carlos (2004) conclui que,

A separação entre homem e natureza, valor de uso e valor de troca sinaliza a extensão do processo de desenvolvimento do mundo da mercadoria que embasa o processo de produção do espaço urbano transformando-o em mercadoria valorizada pelo processo de urbanização da sociedade, e, com ele, eliminando referenciais, volatizando relações sociais. Neste processo, a explosão da cidade produz o desabamento das referências pois as relações perdem sua base. A cidade está alienada como o próprio homem. O espectro de cidade sobrevive ao que antes era a urbanidade. A função da habitação modifica-se profundamente, de ato social gerador de poesia, resume-se a mercadoria e nesta dimensão, uma coisa funcional, objeto de status. (CARLOS, 2004, p. 60)

O panorama esboçado exige pensar a cidade para além da reprodução do capital e da dominação do Estado que constrói a “cidade do espetáculo do consumo”, para buscar construir a cidade da vida humana, da existência, do espaço social ou, como propõe Souza, a cidade em que a melhoria da qualidade de vida e o aumento da justiça social sejam os princípios orientadores das intervenções humanas na produção da habitação popular.

Na atualidade, vê-se uma tentativa de garantir a função social ao solo urbano, como visto em páginas anteriores, por meio da Lei nº. 10.257/01, denominada Estatuto da Cidade, que regulamenta o capítulo da política urbana da Constituição Federal, estabelecendo diretrizes gerais da Política Urbana, propondo normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental, a exemplo dos mecanismos que estão previstos, dentre eles, o IPTU progressivo no tempo podem vir a ajudar no controle da especulação imobiliária e na garantia da função social do espaço urbano evitando ou reduzindo a segregação socioespacial.

Contudo, o Estatuto da Cidade não elimina o direito da propriedade privada instituído pela Constituição Brasileira, fato que gera controvérsias quanto à sua aplicação e exeqüibilidade, no sentido de minorar os efeitos do capital na produção desigual do espaço urbano.

O capítulo seguinte analisa a produção dos assentamentos e ocupações em Vitória da Conquista pelos sujeitos aqui tratados, evidenciando a materialização sócio-espacial das políticas e ações implementadas.

Capítulo 3

3 A MATERIALIZAÇÃO DAS POLÍTICAS DE HABITAÇÃO POPULAR NAS ÁREAS DE ASSENTAMENTOS E OCUPAÇÕES

Como vimos no capítulo anterior, a habitação popular na cidade de Vitória da Conquista é produzida por diferentes sujeitos que formam um conjunto de forças cuja atuação engendra processos políticos e espaciais heterogêneos e conflitantes ao longo do tempo. Essa heterogeneidade evidencia o jogo de interesses entre o capital e os trabalhadores e promove uma “valorização” diferencial do espaço urbano em função da desigual distribuição de recursos e da renda e, consequentemente, dos equipamentos e serviços urbanos coletivos.

Os assentamentos e ocupações são exemplos da produção desigual do espaço urbano, portanto, conhecer as características sociais, econômicas e espaciais dessas áreas nos permite aprofundar na análise da produção sócio- espacial que aí se realiza e que se constitui na base empírica desta pesquisa.

Nessa perspectiva e com o objetivo de atender a pressupostos metodológicos propostos por Souza (2002) que subsidiam a análise do planejamento e da gestão voltados para a melhoria da qualidade de vida e aumento da justiça social (e, aqui, em particular, na produção da habitação popular na cidade em foco), serão analisadas as condições sociais, econômicas e espaciais tanto no espaço interno das moradias, quanto no espaço exterior à moradia a exemplos das ruas, praças e entorno. Para tal, procura-se observar o nível de segregação residencial e o grau de desigualdade sócio-econômica, em que os moradores dos assentamentos e ocupações em estudo, estão submetidos. O mapeamento do conjunto dos dados coletados evidencia a preocupação em mostrar a espacialidade dos fenômenos abordados.

3.1 Perfil dos moradores

Os moradores das áreas de assentamentos e ocupações são originados em sua grande maioria, 73% do próprio município de Vitória da Conquista, sendo 16% desses vindos da zona rural e 84% de vários bairros da cidade. Os outros 27% se originam de alguns municípios baianos, ou, em menor número, de outros Estados.

Para uma análise mais detalhada dos deslocamentos internos com destino aos assentamentos e ocupações, foram identificados os fluxos e apresentados nos mapas de 5 a 12. Adverte-se que os fluxos internos foram divididos num conjunto de oito mapas, os quatro primeiros são específicos dos assentamentos e os demais das ocupações. Esta separação objetiva a facilitação da leitura das informações neles contidas.

MAPA 8 VITÓRIA DA CONQUISTA - BA

U

RUA HRUA GRU A F

RUA C R UA A R UA 9 R UA 8 RU A 7 R UA 7 R U A 6 R UA 6 RU A 5 RUA 42 RUA 41 RUA 40 R UA 4 RUA 39 RUA 39 RUA 38 RUA 37 RUA 37 RUA 37 RUA 36 R UA 3 4 R UA 3 3 RU A 32 R UA 3 1 R U A 3 0 R UA 3 R UA 2 9RU A 28RU A 27RU A 27 RU A 26 RUA 26 R UA 2 5 R UA 2 4 RU A 2 3 RU A 23 R UA 22 RU A 22 R UA 2 1 R U A 2 0 RUA 2 R UA 1 9 RU A 18 R U A 1 7 RU A 16 R U A 1 5R UA 1 4 RU A 14R UA 13 RUA 12 RU A 1 1 R UA 10 R UA 1 R UA R U A R UA R UAR U ARU AR UA R U A T G 1 4 R U A A R PLANTA URBANA MEIO FIO C

BOCA DE LOBOBOCA DE LOBO ASSENTAMENTOS E OCUPAÇÕES POPULARES - 2005

ARE A VER DE

A

8 97.97 m2

10-

0 800 1600 2400m

TRABALHO DE CAMPO - DEZEMBRO DE 2004 ORGANIZAÇÃO: MIRIAM CLÉA COELHO ALMEIDA FONTES: BASE CARTOGRÁFICA DIGITAL - DESENCOP - 2005

OCUPAÇÕES ASSENTAMENTOS RECONHECIDOS PELA PMVC ASSENTAMENTOS - PMHP ANEL VIÁRIO PRIMAVERA AIRTON SENNA JATOBÁ CAMPINHOS PATAGÔ NIA

FELÍCIA BOA VISTA

SÃO PEDRO BATEIAS ZABELÊ APARECIDA NOSSA SENHORA INDUSTRIAL DISTRITO IBIRAPUERA CENTRO CRUZEIRO ALTO MARON J UR E MA BRASIL RECREIO

LAGOA DAS FLORES

CANDEIAS PRIMAVERA ESPÍRITO SANTO UNIVERSIDADE GU AR ANI ANEL VIÁRIO AN EL VIÁRIO ANEL VIÁ RIO 294000 300000 306000 310000 8348000 8348000 8354000 8354000 8360000 8360000 ZONA RURAL O R ESPON DEU ZONA RURAL ZONA RURAL NÃO RESPONDEU FLUXOS MIGRATÓRIOS INTERNOS - 2004

SANTA HELENA E VILA AMÉRICA.