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3. Transição e adaptação ao primeiro ano da Universidade

3.2. A especificidade das vivências académicas

Na opinião de Chickering (1969, cit. in Pinheiro, 2003), a preparação científica e os programas de educação ajustados às problemáticas sociais e pessoais dos alunos, não têm que ser necessariamente mutuamente exclusivos. Assim, toda a formação pode ser mais que apenas o exercitar dos alunos numa linguagem, conjunto de aptidões e noções específicas. A inserção de novas metas e experiências na educação dos indivíduos pode alterar o processo de desenvolvimento que pode ser melhorado e acelerado para que o conjunto desses aspectos exponha um estilo de vida coerente, agradável e com sentido para o aluno.

A questão da adaptação ao ensino superior tem sido objecto de grande investigação em função de variadas perspectivas. A literatura tem sido extremamente elucidativa relativamente às condições justificativas do fenómeno enquanto processo multidimensional de cariz educativo, intrapessoal e institucional (Pinheiro, 2003).

Como já foi referido anteriormente, o primeiro ano de frequência no ensino superior tem sido abordado como um período crítico (Chickering & Schlossberg, 1995, cit. in Pinheiro, 2003), marcado por grandes desafios de foro emocional, social e académico (Chickering, 1969, cit. in Pinheiro, 2003), propício à ocorrência de conflitos e oportunidades decisivas para o desenvolvimento e formação dos estudantes que frequentam a universidade. Existem estudos que apontam para que mais de metade dos alunos que frequentam o ensino superior manifestam dificuldades nesta transição (Herr & Cramer, 1992).

A grande maioria dos alunos ingressa no ensino superior com o intuito de que aconteça alguma coisa especialmente boa com eles. Uns desejam que isso suceda logo no início, possuem expectativas mais elevadas e são os que se desiludem mais facilmente. Outros, porém, anseiam que o curso lhes proporcione aceso ao mundo profissional, a um melhor nível de vida e a elevados níveis de competência profissional (Pinheiro, 2003). Astin (1997) refere que da incompatibilidade entre estas pretensões e as respostas do sistema educacional, social e económico, obtém-se o facto de a transição para a universidade ser vivenciada, hoje em dia, com mais altos níveis de stress e de desilusão.

29 Quanto às variáveis que influenciam o sucesso dos estudantes do primeiro ano do ensino superior, Upcraft e Gardner (1989, cit. in Pinheiro, 2003) apontam três grupos: características pessoais, demográficas e culturais, características institucionais (e.g. tamanho da instituição, forma de selecção, organização curricular, localização, organização, objectivos, iniciativas, serviços de apoio ao estudante) e clima institucional (e.g. tipo e frequência de interacção entre os estudantes, contacto alunos-professores, ambiente e organização do contexto universitário e das modalidades de residências dos estudantes, oferta de actividades extracurriculares na instituição).

Baker e Syrik (1989, cit. in Pinheiro, 2003) referem que o conceito de adaptação ao ensino superior ultrapassa o rendimento académico dos alunos, tendo em consideração aspectos como a manutenção da motivação para a aprendizagem, elaboração de metas relativamente ao curso e vida profissional, adoptar compromissos relativamente aos requisitos académicos e satisfação com a atmosfera académica.

Dentro da temática da adaptação também têm sido estudadas as características psicológicas dos estudantes, mais especificamente os aspectos emocionais, os problemas de identidade e as crises pessoais (Henton, Lamke, Murphy & Haynes, 1980, cit. in Pinheiro, 2003). A dimensão pessoal tem sido investigada mais em termos dos níveis de saúde vs doença, do bem-estar físico e psicológico, da auto- estima, da solidão, da depressão e da ansiedade. Os problemas pessoais usualmente manifestados passam sobretudo por problemas relacionados com ansiedade, associados ao abandono do curso por falta às avaliações escolares (Pappas & Loring, 1985, cit. in Pinheiro, 2003), e problemas de depressão (Gerdes & Mallinckrodt, 1994, cit. in Pinheiro, 2003).

A literatura tem relatado aspectos da integração no contexto social dos alunos da universidade como factores essenciais no que se refere ao assumir compromissos relativos ao curso e à instituição (Spady, 1970, cit. in Pinheiro, 2003). Gerdes e Mallinckrodt (1994) apontam como relevantes constituintes dessa integração fazer parte da vida social da instituição, participar nas actividades, formar um grupo de colegas de curso e gerir a nova autonomia, de modo a orientar os novos indicadores de liberdade em simultâneo com os sentimentos das saudades de casa, da família e dos amigos e da própria solidão (cit. in Pinheiro, 2003).

30 O grupo de amigos é entendido como uma relevante fonte de suporte social que contribui em grande escala para o apoio do estudante no processo de autonomização relativamente à família, sendo um grande apoio ao nível da conquista dos objectivos académicos, no desenvolvimento e no treino de aptidões de cariz social, na diversão e actividades culturais, no reforço e orientação de valores e mesmo na tomada de decisão de carreira (Upcraft & Gardner, 1989, cit. in Pinheiro, 2003). O grupo de pares pode funcionar tanto como facilitador como como inibidor face ao sucesso na transição e adaptação, dependendo de pertencer ou não à mesma instituição e de ter ou não um estilo de vida compatível com as metas e as exigências de sucesso (Cabrera, Nora & Castaneda, 1993, cit. in Pinheiro, 2003).

De acordo com Pinheiro (2003) a abordagem das relações interpessoais do ponto de vista do suporte social, distinguindo o suporte familiar do dos amigos, dos relacionamentos íntimos e de outros pode instituir uma forma de melhor compreender a relevância que terá para cada aluno perceber que pode receber suporte de alguém no caso de necessitar. A partir do momento em que é consensual que a transição para o ensino superior envolve, para muitos, alterações nos padrões de relacionamento interpessoal e que é destes que obtêm os benefícios essenciais em termos de equilíbrio emocional e bem-estar psicológico, indispensáveis aos processos de adaptação, é de esperar que a avaliação de determinados semblantes do suporte social possa acarretar um maior entendimento acerca dos processos de adaptação ao contexto universitário.