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CAPÍTULO I – Internet, redes e Sociedade da Informação

1.3 A estruturação das redes sociais digitais

A configuração em rede da internet pode ser analisada em dois aspectos; quanto à sua morfologia, e como suas características alteram a sociabilidade, a territorialidade e a temporalidade criando o que foi chamado de cibercultura. Nesse momento, vamos discorrer sobre a estrutura da rede baseados principalmente em Recuero (2009) e Primo (2008), depois, a partir de Di Felici e Lemos (2014), Castells (2008) e outros autores discutiremos como essa rede modificou as relações sociais e possibilitou outras esferas de participação.

O conceito de rede não surgiu com a internet, esse fenômeno social já era estudado por matemáticos e sociólogos que tentavam compreender suas estruturas e conexões. O que a digitalização dessas redes permitiu – falando estritamente de características estruturais – foi o registro das atividades de seus membros, das interações possibilitadas pelas conexões (RECUERO, 2009).

O registro das atividades é uma importante fonte de dados para os estudos das redes, principalmente no campo da Comunicação. A comunicação interpessoal, que muitas vezes

13 Fonte: www.votenaweb. com.br.

ocorria no âmbito privado, passou a ser mediada e midiatizada; em fóruns na internet, indivíduos que talvez não se conheçam pessoalmente, dialogam pela materialidade do computador e pela “digitalidade” da rede.

Com a migração para a internet, os próprios meios de comunicação passaram a criar uma rede em torno de si, a audiência não é mais uma massa, cada nó da rede pode ser identificado e caracterizado a partir de suas ações e interações na web. Esse fenômeno gerou dois aspectos: do ponto de vista comunicacional, cresce a segmentação da mídia, e do ponto de vista social, perde-se a privacidade e aumenta o controle sobre as ações dos indivíduos.

Receuro (2009) indica como elementos das redes sociais na internet os atores e as conexões que os ligam; os atores são os nós, dos quais partem as ações, e as conexões são os laços sociais gerados por elas. Os atores utilizam a rede para se representarem no ciberespaço, eles apropriam-se das tecnologias para se comunicarem, e para criarem um perfil a partir do qual possam ser definidos. “Essa individualização dessa expressão, de alguém „que fala através desse espaço é que permite que as redes sociais sejam expressas na Internet” (RECUERO, 2009, p. 27).

As conexões revelam os laços sociais que são constituídos por interações mediadas por computador, por isso, tem aspectos quantitativos e qualitativos. Quando imaginamos a estruturação de uma rede, quantitativamente ela pode ser grande por seus números de atores e de laços, qualitativamente pode-se avaliar a força entre seus laços se essas conexões geram capital social. As comunidades virtuais têm a ideia de criar laços fortes que são a condição da sua própria existência, as redes sociais têm como ideia a circulação e informação por laços fracos (BONFILS; PARRINI-ALAMANNO, 2012).

Essas conexões, em grande parte, são estabelecidas pela comunicação mediada por computador. Para Recuero (2012) essas interações estabelecidas na internet estruturam, conectam a rede e geram uma nova conversação, que é mais pública e coletiva, a qual a autora chama de conversação em rede.

Receuro (2012) percebe o ciberespaço como um ambiente conversacional, constituído de um ambiente social, que se apropriou de um meio técnico. Recuero (2012) situa duas dimensões de análise; uma referente à estrutura e ferramentas possibilitadas pelo ciberespaço; e outra, o contexto criado pela apropriação dos usuários e por suas experiências.

Além da apropriação das ferramentas, a conversação em rede é a apropriação da língua para se estabelecer um fluxo de comunicação na web. Para Recuero, a Comunicação Mediada pelo Computador (CMC) possui forma escrita, pois a digitação se assemelha a esse processo, todavia, sua feição é primordialmente oral. “Embora a separação entre fala e escrita

seja secular em termos linguísticos, é característica dessa apropriação do ciberespaço o estabelecimento de uma „escrita falada‟ ou „oralizada” (RECUERO, 2012, p. 45).

A autora enfatiza que os usuários estabeleceram convenções linguísticas na conversação em rede para ultrapassar as barreiras impostas pelo meio técnico da internet, como, por exemplo, a falta dos gestos e expressões faciais. Uma dessas primeiras convenções foi o uso de emoticons, “o uso dos caracteres simbólicos de que dispunham para, justamente, criar formar de simular esses elementos não verbais” (RECUERO, 2012, p. 46).

Recuero (2012) esclarece que as estruturas conversacionais também seguem a mesma dinâmica que um diálogo falado; estabelecem-se os turnos de fala dentro de um determinado contexto. Os turnos de fala são negociados entre os participantes da conversa, porém possuem na CMC um campo temporal mais elástico, já que a conversa pode ser instantânea ou não. A duração dessa conversa dependerá da persistência dos interlocutores em fazê-la.

A clarificação do contexto torna-se mais difícil no ambiente on-line, uma vez em que o fluxo de informações muita vezes é desconexo, ou um participante da conversação já perdeu parte dela. Recuero (2012) pontua três elementos que perpassam a construção do contexto na conversação mediada: a negociação entre participantes; a constituição de conversas assíncronas – de temporalidades diferentes, são construídas em diferentes macrocontextos; e as limitações e possibilidades das ferramentas do espaço digital utilizado.

A construção de um contexto sólido na conversação mediada por computador depende de fatores do macro e do microcontexto. Segundo Recuero (2012), o microcontexto é constituído pelas interações divididas, e influenciado pelas interações anteriores, que é moldado pelos participantes e pelas possibilidades oferecidas pela ferramenta utilizada, como o uso de imagens e vídeos. O macrocontexto firma-se pelas referências externas, como, por exemplo, o uso de hyperlinks, recurso muito utilizado em blogs.

A estruturação da comunicação interpessoal medida por computador é basicamente a mesma que a comunicação interpessoal mediada por telecomunicações, duas pessoas – ou mais – em um contexto específico comunicam-se pela linguagem e por turnos de falas alternados. As alterações no modelo, que foram introduzidas pela lógica de rede foram de territorialidade, temporalidade, anonimato e aspectos de emotividade.

As alterações de territorialidade ligam pessoas distantes geograficamente. A mudança no aspecto da temporalidade está na recuperação de diálogos e na perpetuação dos mesmos. O anonimato protege o usuário no caso de denúncias e depoimentos, mas também esconde o indivíduo mal-intencionado. E o fato dos indivíduos não estarem frente a frente ou não ouvirem a voz um do outro – no caso de comunicação textual – esconde aspectos emocionais

que são fisicamente representados como expressão facial e corporal (LESSA, 2009). Esse aspecto da perda emocional é em parte recuperado por ferramentas e hábitos comunicacionais desenvolvidos pelos próprios usuários (como por exemplo, o uso de caixa alta para expressar o grito).

A lógica de redes vai remodelar o que entendíamos por comunicação midiática; a internet permite um processo comunicacional e de produção de conteúdo mais difuso, pois “são os diversos atores que passam a produzir conteúdos, distribuí-los, e ao mesmo tempo, ter acesso a todos eles. Não refiro-me apenas a conteúdo informativo, mas podemos falar propriamente de um ecossistema de construção de informações” (DI FELICI; LEMOS 2014, p. 7).

Quando os meios de comunicação começaram a migrar para o formato digital, muito se falou em interatividade. Primo (2008, p. 57) definiu que a interatividade mediada por computador pode ocorrer de duas maneiras: reativa e mútua. Enquanto a interação reativa é determinada por estímulos e resposta, “a interação mútua é aquela caracterizada por relações interdependentes e processos de negociação, em que cada integrante participa da construção inventiva e cooperada do relacionamento, afetando-se mutuamente”.

O autor esclarece que chamou um dos tipos de interação de mútua, pois a alteração é dinâmica e ocorre em cada uma das pontas do processo, numa relação de mutualidade. Deve- se olhar não somente para a estrutura da ação da interativa, mas para os relacionamentos que podem emergir dela.

Essas constantes interações fazem com que as redes sejam dinâmicas e que nelas se estabeleçam relações de cooperação, de competição e de conflito (RECURO, 2009). A cooperação dá-se num sentido de agir organizado e pode provir de interesse individual; Ela também pode não carecer de competição e de conflito. Essas relações não surgiram com as redes sociais digitais, mas quando esses processos ocorrem pela materialidade dos computadores, eles deixam rastros, e esses rastros são informativos e comunicacionais.

O que a internet faz é tornar visível e rastreável um fenômeno que se perdia na oralidade, na privacidade das comunicações interpessoais e na sagacidade da comunicação impressa. O ponto de virada foi a midiatização desses processos, que ganharam visibilidade gradativa, publicidade e capacidade agregadora de atores, ocorrendo nos espaços que Cardon (2010) chamou de internet claro e escuro.

Discutir as estruturas das redes é somente o primeiro passo em um estudo mais aprofundado de suas dinâmicas e possibilidades. Destacar a tecnologia é reconhecer sua capacidade de tonar visível um processo de socialização e comunicação, que já existia e foi

ampliado pela máquina. Como suporte midiático a internet abriga meios comerciais, públicos e estatais, permitindo o acesso simultâneo desses conteúdos. O acesso e a busca mais fácil às informações do governo, juntamente com as ferramentas de criação coletiva e blogs, permitem que o cidadão também atue como um “guardião da democracia e da sociedade”.

Inúmeras potencialidades são atribuídas à internet e suas características mais representativas para o processo de participação, que compreendem “a possibilidade de autoexpressão e estabelecimento da comunicação sem coerções, passando pela sua enorme capacidade interativa e de instantaneidade, ate a memória e a capacidade de armazenamento de informação” (SAMPAIO; BARROS; MORAIS, 2012, p. 474).

Compreendemos a internet como um ambiente comunicativo, seja por comunicação interpessoal, pelo consumo de material jornalístico ou de entretenimento, na web as pessoas se comunicam, estabelecem laços, constroem relações e se informam pela comunicação. Esses processos iniciam no que Primo (2008) chamou de interação reativa, interação entre máquina e humano, momento muito influenciado pela habilidade do usuário com ferramentas digitais e com elementos e Arquitetura de Informação, que facilitam e guiam a navegabilidade e a acessibilidade podendo determinar o entusiasmo com que o usuário acessa e interage com o conteúdo e com outros nós na rede.