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CAPÍTULO I: AS NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS E A ESCOLA

6. O processo de avaliação das NEE por referência à Classificação

6.2. A estrutura da Classificação Internacional de Funcionalidade,

O quadro que se segue representa uma visão geral do documento:

Parte 1: Funcionalidade e Incapacidade Parte 2: Factores Contextuais Componentes Funções e Estruturas do Corpo Actividades e Participação Factores Ambientais Factores Pessoais

Domínios . Funções do Corpo . Estruturas do Corpo Áreas Vitais (tarefas, acções) Influências externas sobre a funcionalidade e a incapacidade Influências internas sobre a funcionalidade e a incapacidade Constructos . Mudanças nas

funções do corpo (fisiológicas) . Mudanças nas estruturas do corpo (anatómicas) . Capacidade . Execução de tarefas num ambiente padrão . Desempenho/Execu ção de tarefas no ambiente habitual . Impacto facilitador ou limitador das características do mundo físico, social e atitudinal . Impacto dos atributos de uma pessoa Aspectos positivos Integridade funcional e estrutural Actividades Participação

Facilitadores Não aplicável

Funcionalidade Aspectos negativos Deficiência Limitação da Actividade Restrição da participação

Barreiras Não aplicável

Incapacidade

Figura 1 - Visão geral da CIF (OMS, 2004, p. 14)

Como podemos ver, a CIF está organizada em duas partes que, por sua vez, também se subdividem em dois componentes: (i) Funcionalidade e Incapacidade - (a) Funções e Estruturas do Corpo e (b) Actividades e Participação e (ii) Factores Contextuais – (c) Factores Ambientais e (d) Factores Pessoais. Cada um destes componentes apresenta diversos domínios e, cada domínio, várias categorias. São também utilizados os qualificadores, ou seja, “códigos numéricos que especificam a

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extensão ou magnitude da funcionalidade ou da incapacidade” numa determinada categoria ou “em que medida um factor ambiental facilita ou constitui um obstáculo” (OMS, 2004, p. 14).

Para a sua operacionalização é preciso conhecer alguns conceitos, tal como aparecem definidos no próprio documento (OMS, 2004):

- Funções do Corpo – “funções fisiológicas dos sistemas orgânicos (incluindo as funções psicológicas); ” (p. 13)

- Estruturas do Corpo – “partes anatómicas do corpo, tais como órgãos, membros e seus componentes;” (p. 13)

- Deficiências – “problemas nas funções ou nas estruturas do corpo, tais como um desvio importante ou uma perda;” (p. 13)

- Actividade – “execução de uma tarefa ou acção por um indivíduo;” (p. 13)

- Participação – “envolvimento de um indivíduo numa situação de vida real;” (p. 13) - Limitações da Actividade – “dificuldades que um indivíduo pode ter na execução de actividades;” (p. 13)

- Restrições na participação – “problemas que um indivíduo pode enfrentar quando está envolvido em situações de vida real;” (p. 13)

- Factores Ambientais – “ambiente físico, social e atitudinal em que as pessoas vivem e conduzem a sua vida;” (p. 13)

- Funcionalidade – “termo genérico (“chapéu”) para as funções do corpo, actividades e participação. Ele indica os aspectos positivos da interacção entre um indivíduo, (com uma condição de saúde) e os seus factores contextuais (ambientais e pessoais); ” (p. 186)

- Incapacidade – “termo genérico (“chapéu”) para deficiências, limitações da actividade e restrições na participação. Ele indica os aspectos negativos da interacção entre um indivíduo (com uma condição de saúde) e os seus factores contextuais (ambientais e pessoais);” (p. 186)

- Facilitadores – “factores ambientais que, através da sua ausência ou presença, melhoram a funcionalidade e reduzem a incapacidade de uma pessoa;” (p.187)

- Barreiras – “factores ambientais que, através da sua ausência ou presença, limitam a funcionalidade e provocam incapacidade;” (p.188)

- Capacidade – qualificador que indica “a aptidão de um indivíduo para executar uma tarefa ou uma acção;” (p. 17)

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- Desempenho – qualificador que indica “o que o indivíduo faz no seu ambiente de vida habitual;” (p. 17)

Estes dois qualificadores podem ser aplicados com ou sem dispositivos de auxílio ou assistência pessoal, isto é, ainda que um dispositivo ou a assistência pessoal não eliminem a deficiência, podem suprimir as limitações da funcionalidade em determinados domínios.

De referir que os Factores Pessoais (integrados nos Factores Ambientais) não são classificados na CIF já que são o histórico de vida e estilo de vida de cada pessoa (ex: sexo, raça, idade, hábitos, nível de instrução, características psicológicas, etc.). Contudo, são importantes na medida em que podem determinar os resultados de várias intervenções (OMS, 2004).

A CIF procura explicar a incapacidade e a funcionalidade através de uma abordagem “biopsicossocial” integrando alguns dos aspectos do tradicional modelo médico e do modelo social. Como referido no próprio documento, o modelo médico vê a incapacidade como “um problema da pessoa, causado directamente pela doença, trauma ou outro problema de saúde, que requer assistência médica sob a forma de tratamento individual por profissionais.” Já o modelo social encara essa mesma incapacidade como um “problema criado pela sociedade” e não como um “atributo do indivíduo” (OMS, 2004, pp. 21-22). A CIF procura, assim, uma visão que englobe os aspectos biológico, individual e social, ou seja, é “uma classificação das características de saúde das pessoas dentro do contexto das situações individuais de vida e dos impactos ambientais.” (OMS, 2004, p. 215)

As interacções que se efectuam entre os componentes da CIF podem ser representadas pelo seguinte diagrama:

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26/02/08 Condição de Saúde (alteração ou doença) Estrutura & Funções do Corpo Actividade Participação Factores ambientais Factores pessoais Factores Contextuais

Figura 2 - Interacção entre os componentes da CIF (OMS, 2005, p. 14)

Daqui se infere que a funcionalidade de uma pessoa num determinado domínio é resultado da “interacção ou relação complexa entre a condição de saúde e os factores contextuais (i.e. factores ambientais e pessoais)”, pelo que, uma “intervenção num elemento pode, potencialmente, modificar um ou vários outros elementos.” (OMS, 2004, p. 20).

Tendo em conta as características próprias dos estados da infância e da adolescência, desde logo se sentiu a necessidade de uma versão da CIF que atendesse a essas especificidades. Desta forma, em 2003, a OMS constituiu um grupo de trabalho liderado por Rune Simeonsson com o propósito de elaborar uma versão adaptada às crianças e jovens, passível de ser utilizada em áreas como a saúde, educação e a área social. Em 2007 é então lançada pela Organização Mundial de Saúde a International Classification of Functioning, Disability anda Health – Children

and Youth (ICF-CY) que atenta nas características específicas e contextos mais

significativos das crianças e jovens.

A versão da CIF para crianças e jovens (CIF–CJ) não está ainda oficialmente traduzida em língua portuguesa, encontrando-se o Centro Colaborador da OMS para a Família das Classificações Internacionais a preparar essa versão oficial. Online encontra-se disponível uma versão experimental traduzida e adaptada pelo Centro de

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Psicologia do Desenvolvimento e da Educação da Criança, da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto.

De referir que todo o DL n.º 3/2008 refere-se à utilização da CIF, versão generalista. No entanto, o Manual de Apoio à Prática (DGIDC, 2008) já faz sempre alusão à versão para Crianças e Jovens fazendo o Ministério da Educação apelo à sua utilização nas escolas (apesar de ser uma versão experimental). A sua estrutura organizativa é idêntica à da versão acima referida. A diferença está nos 237 novos códigos que respeitam, especificamente, a conteúdos relativos à infância e adolescência pelo que, ao conhecer-se a forma como se opera com a CIF, versão generalista, conhece-se a forma como se opera com a CIF-CJ.

A CIF utiliza um sistema alfa-numérico de codificação em que: b (body) respeita às funções do corpo; s (structure) respeita às estruturas do corpo; d (domain) se refere às actividades e participação (pode ser substituído por a ou p, para designar actividades e participação respectivamente); e (environment) respeita aos factores ambientais. A seguir a cada uma das letras, colocam-se os códigos numéricos em que: o 1ºcódigo numérico (um dígito) reporta-se ao capítulo; o 2ºcódigo numérico (dois dígitos) aponta para a categoria e o 3ºcódigo numérico (um dígito cada) para cada uma das sub-categorias.

Todos os 3 componentes classificados na CIF são qualificados através da mesma escala genérica:

xxx.0 – Não há problema 0-4% xxx.1 – Problema LIGEIRO 5-24% xxx.2 – Problema MODERADO 25-49% xxx.3 – Problema GRAVE 50-95% xxx.4 – Problema COMPLETO 96-100% xxx.8 – Não especificado xxx.9 – Não aplicável

Um problema pode significar uma deficiência (ao nível das funções ou estruturas do corpo), uma limitação ou restrição (ao nível, respectivamente, das actividades ou participação) ou uma barreira (ao nível dos factores ambientais). Ao

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nível dos factores ambientais, são também considerados facilitadores quando é um factor que favorece o indivíduo. Neste caso, coloca-se o sinal + antes do qualificador.

Tomemos o seguinte exemplo: código: b1670.3 b – Funções do corpo

1 – Capítulo das funções mentais 67 – Funções mentais da linguagem 0 – Recepção da linguagem

. 3 – Deficiência (problema) grave

O código: b1670.3 representa que existe uma deficiência grave na recepção da linguagem, no âmbito das funções mentais específicas da linguagem.

Do mesmo modo, o código: e130.2 e – Factores ambientais

1 – Capítulo dos produtos e tecnologia 30 – Produtos e tecnologias para a educação . 2 – Barreira moderada

indica que os produtos e tecnologias para a educação são uma barreira moderada. Por analogia, o código: e130+2 indica que os produtos e tecnologias para a educação são um facilitador moderado.

6.3. Utilidade e aplicabilidade da Classificação Internacional de Funcionalidade,