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2 DELIMITAÇÃO DO TEMA E DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

4.2 TERCEIRO SETOR

4.2.2 A evolução das organizações do terceiro setor

Segundo pesquisa realizada pela Universidade Johns Hopkins dos EUA (CAMARGO et al., 2002), o terceiro setor é um segmento em expansão em todo o mundo, incluindo o Brasil, tendo como um dos indicadores o forte crescimento do índice de ocupação da mão-de-obra. Em recente pesquisa do IBGE (2004), apresentou-se o retrato das organizações privadas sem fins lucrativos no Brasil, apontando a existência de mais de 276

mil organizações no período entre 1996 e 2002, sendo as mesmas localizadas em maior quantidade na região sudeste e surgidas, principalmente, nos anos 90. Este setor emprega 1,5 milhões de pessoas no Brasil e conta com a colaboração de voluntários para a realização de suas atividades. Para compreensão deste crescimento, se faz necessário o entendimento de sua evolução.

A origem das organizações do terceiro setor no Brasil é antiga. Segundo Fernandes (2002), desde a época da colonização até meados do século XX, caracteriza-se como o período onde as associações voluntárias desenvolveram-se no âmbito da igreja católica, baseadas em valores de caridade cristã e atuando na prestação de serviços sociais e assistenciais, na saúde e na educação.

Conforme afirma Garay (2003), passa-se a um segundo momento com o surgimento do Estado do bem-estar social, a partir de 1930, com o governo de Getúlio Vargas. O Estado assume a função assistencial, definindo-a como política pública. Neste sentido, as organizações sem fins lucrativos passam a exercer um caráter de utilidade pública, ao mesmo tempo em que a Igreja continuou a ser importante aliada no campo social.

Os anos 70 marcam a inclusão do conceito sobre o terceiro setor. Segundo Tenório (2003), desde o final da II Guerra Mundial, o mundo vem passando por grandes transformações e o desenvolvimento afetou a sociedade no que se refere ao aumento da pobreza, da violência e de conflitos nas mais diversas áreas, como política, religião, social, entre outras. É a partir dos anos 70 que as organizações não-governamentais passam a desenvolver um papel de agente transformador, com ações voltadas para uma política social de desenvolvimento comunitário e atividades de auto-ajuda, assistência e serviços (TENÓRIO, 2003).

De acordo com Fernandes (2002), na década de 70 inicia a mudança no campo de atuação das organizações da sociedade civil e as instituições filantrópicas unem-se aos movimentos sociais e às organizações comunitárias, mobilizando pessoas em função de problemas locais e de conflitos com o Estado, que era considerado como uma instância inacessível. Estas organizações passam a lutar por situações consideradas desiguais e injustas. É neste cenário que as organizações não-governamentais surgem em maior número, visando a autonomia para a solução de problemas comuns.

Ainda segundo Fernandes (2002) e Thompson (1997), na América Latina as organizações não-governamentais surgiram em resposta aos regimes militares autoritários das décadas de 60 e 70 e apoiadas por agências de cooperação internacional que atuavam em atividades de defesa aos direitos humanos e construção da cidadania. Estas ações tinham um

caráter transitório uma vez que, depois de conquistadas as metas, tendiam a desaparecer. Os grupos formados com caráter informal desenvolviam atividades voltadas para as comunidades, principalmente aquelas mais fragilizadas na estrutura social como pobres; crianças e mulheres, na família; e trabalhadores rurais, na produção.

Na década de 80, estas organizações passam a ter uma significativa participação nos processos de democratização política, ocorrendo o rompimento com o assistencialismo. Neste período, um processo de redemocratização que permeou a América Latina, permitiu o crescimento das organizações do terceiro setor (FERNANDES, 2002; THOMPSON, 1997). Após 20 anos de ditadura militar, no Brasil, o marco desta mudança foi a constituição federal de 1988 descrevendo a estrutura que regula hoje a sociedade brasileira (IBGE, 2004).

Landim (1988 apud GARAY, 2003) comenta, ainda, outro momento que é caracterizado pela falência do Estado do bem-estar social, pela discussão da cidadania e dos direitos humanos. As organizações não governamentais passam a ser reconhecidas por suas ações com base na união e luta por valores humanísticos.

Assim, o terceiro setor tem sua origem na Igreja Católica e nos valores da caridade cristã, porém, como destaca Salvatore (2004), no Brasil, outro fator compõe a sua formação: é o reconhecimento e a legitimação da área assistencial pelo Serviço Social. A autora argumenta que, com o foco apenas no social, alguns aspectos foram desconsiderados e passaram a ser os principais desafios encontrados nas organizações do terceiro setor nos dias de hoje. São eles os aspectos administrativos e de gestão, os quais pela sua fragilidade afetam diretamente a sustentabilidade das organizações. O desafio da gestão passa a ser um dos pontos de análise das organizações não-governamentais, a partir dos anos 80, obrigando-as a repensar a sua missão e a maneira como atuarão para manter o funcionamento ao longo prazo (TENÓRIO, 2003).

A realidade das organizações do terceiro setor, a partir dos anos 90, aponta para um crescimento das interações entre Estado e as organizações da sociedade, com o objetivo de implementar as políticas sociais, assim como a participação do mercado com políticas de investimento social (FERNANDES, 2002). Segundo Junqueira (2001), o desenvolvimento das políticas sociais passa de um foco no atendimento dos excluídos para uma garantia dos direitos sociais, buscando-se o fortalecimento da sociedade para atendimento de suas necessidades e a sua qualidade de vida. Nota-se que o fortalecimento das organizações, no sentido da descentralização difundida a partir desta época, visa facilitar o processo de articulação das mesmas perante os interesses dos excluídos e na implementação de políticas de desenvolvimento com o foco no aumento da igualdade social.

A partir deste cenário, torna-se possível entender os tipos de organizações do terceiro setor de acordo com a seção a seguir.