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1 A evolução do espaço comercial – A gênese do espaço do comércio

A cidade do Recife, por estar implantada junto a um porto marítimo, configurou-se como entreposto comercial desde a sua colonização. A cidade tem assim uma estreita relação com as atividades de comércio e serviços, bem como com as dinâmicas pertinentes a estas atividades como transformadoras do espaço urbano.

Nos séculos XVI e XVII, o então povoado abrigava um comércio essencialmente mercantilista, mas, devido à exploração de madeira26 e, principalmente, açúcar de cana, rapidamente tornou-se palco de um intenso comércio varejista.

Colonizadores portugueses, invasores holandeses e imigrantes ingleses e franceses muito contribuíram para a caracterização do Recife como uma praça de comércio. O Recife, ou como também é conhecida, a cidade dos mascates, ainda guarda no seu núcleo central de colonização (os bairros do Recife, Santo Antonio e São José) aspectos morfológicos desse processo colonizador.

No desenvolvimento desse capítulo, que se inicia a partir da formação da cidade do Recife, não se pretende recontar a história da cidade, mas identificar as diferentes formas com que a atividade comercial se apresentou no espaço urbano e as principais localizações do comércio através do tempo.

Procura-se, assim, compreender o atual espaço arquitetônico do comércio nos sítios históricos estudados, visto que os espaços urbanos de comércio desses sítios também estão inseridos no processo de formação da cidade. Demonstrando, dessa forma, que alguns espaços urbanos de comércio atualmente existentes na cidade do Recife, são de natureza comercial desde a sua origem, configurando o que se pode chamar de espaços comerciais por excelência.

Para o desenvolvimento deste capítulo quatro períodos da história do Recife foram tomados como significativos para o estudo da evolução do espaço comercial. São eles:

26 Segundo Robert Smith (1979, p. 112) o comércio de madeira no Brasil, também monopólio da coroa

portuguesa, era equiparado ao comércio de açúcar, do tabaco e do ouro. Chama atenção este autor para o fato de que a melhor madeira proveniente das florestas da costa brasileira era obtida no Recife, o qual se tornou a capital

1.a) O período compreendido entre a formação do primeiro núcleo urbano até o princípio do século XVIII. Este período se inicia com a colonização portuguesa, vindo em

seguida a invasão holandesa (1630-1654), e por fim a ocorrência das Alterações Pernambucanas (1711).

Com os holandeses o então povoado do Recife experimentou a sua primeira grande transformação morfológica, decorrente do adensamento construtivo do território do Bairro do Recife e sua expansão para os bairros de Santo Antonio e São José. A cidade se apresenta pela primeira vez como espaço do comércio de varejo.

Com as Alterações Pernambucanas ou Guerra dos Mascates o povoado é elevado à categoria de Vila e seu espaço urbano é consolidado como espaço centralizador da atividade comercial em Pernambuco no período. Do comércio de importação e exportação de mercadorias praticado pelos colonizadores portugueses (e invasores holandeses) surge o comércio varejista.

1.b) O período compreendido entre o final das Alterações Pernambucanas, ou seja, princípio do século XVIII, até o início do século XIX. Neste período ainda eram

comercializados no varejo produtos advindos das trocas comerciais entre países, surgindo, entretanto, para a prática deste comércio as primeiras edificações de maiores dimensões para o uso exclusivo da atividade varejista. O comercio de varejo é consolidado no território.

1.c) O período situado no século XIX. Neste século, em um território já densamente

construído, o Recife apresenta o início da industrialização. Produtos fabricados na cidade começam a suprir a crescente demanda do comércio varejista. É a partir desta emergente industrialização que o comércio varejista deixa de ser abastecido, exclusivamente, pelas práticas de importação de mercadorias.

Neste período surgem os trilhos urbanos, bondes e trens são responsáveis pela nova forma de locomoção das mercadorias industrializadas e do consumidor varejista. Apesar do Recife não apresentar as inovações arquitetônicas surgidas na Europa para a comercialização (como lojas

de departamento, galerias, etc.), os produtos comercializados nesta época são amplamente diversificados e o comércio de varejo começa, assim, a se especializar.

1.d) O período compreendido pelo século XX até os dias atuais. É neste período que os

bairros do Recife, Santo Antonio e São José sofrem grandes transformações morfológicas, fruto de projetos e planos urbanísticos elaborados pelo Poder Público.

Surgem no século XX novos modelos arquitetônicos para o estabelecimento do comércio. O automóvel passa de forma definitiva a fazer parte da cena cotidiana da cidade e do comércio de varejo, que a partir deste século também definirá a sua localização em função deste meio de transporte.

1.a A formação da cidade dos mascates. Os bairros do Recife, Santo Antonio e São José da sua formação até o princípio do século XVIII.

O primeiro período estudado do espaço comercial na cidade do Recife situa-se entre os primeiros anos do século XVII27 à 1715. Este período insere-se entre os anos de 1500 a 1780 que é denominado segundo a periodização do sistema capitalista de período do capitalismo mercantilista28. Neste período, que vai desde o início do capitalismo até a revolução industrial, a acumulação de capital é proveniente das atividades comerciais decorrentes das conquistas e expansões territoriais e “o lucro advindo do comércio atlântico irá consolidar a formação da burguesia mercantil do período” (NOBRE, 2000, p. 15).

O mundo do século XVI presencia então a formação de rotas comerciais que surgiram no início do mercantilismo expansionista, assim como presencia o surgimento de um mercado

27 Parece que o Recife – que os documentos antigos chamam simplesmente de “O Povo” – era um triste burgo

nos primeiros anos do século XVII. Burgo triste e abandonado, que os nobres de Olinda deviam atravessar pisando em ponta de pé, receando os alagados e os mangues; burgo de marinheiros e de gente ligada ao serviço do posto; burgo triste, sem vida própria, para onde até a água tinha de vir de Olinda. (MELLO, 2001, p. 39).

28 Segundo Eduardo Alberto Cusce (2000, p. 15) Nobre em tese denominada “Reestruturação econômica e

território: expansão recente do terciário na marginal do Rio Pinheiros”. O autor ainda adverte que a periodização em questão sempre foi alvo de discussões e diferentes proposições.

internacional “ávido a transacionar e garantir a supremacia comercial das nações individualmente, e a qualquer preço” (VARGAS, 1993, p. 127).

As colônias fundadas neste período, fruto das conquistas expansionistas da Europa possuíam as mesmas características de localização, estavam junto a um porto (marítimo ou fluvial) ou tinham acesso direto a ele. Participavam intensamente do comércio internacional (VARGAS, 1993).

Desta forma, o Século XVI testemunha a formação de rotas comerciais advindas das viagens do século XV, as quais acabam por se transformar em rotas marítimas, e as proximidades geográficas a rios e mares (ou a um porto fluvial ou marítimo) são determinantes para a ocupação do território fundado a partir do desenvolvimento da atividade comercial.

Neste momento, a função social do comércio de varejo está ligada à questão do abastecimento da população e ao suprimento de suas necessidades com produtos essenciais. O grande volume de trocas se dá através da exportação e importação destas mercadorias que objetiva, além das trocas comerciais, o estabelecimento da população.

Traziam dos reino as provisões de boca, os panos de fábrica, os chapéus de Braga, as quinquilharias, as canastras de cebolas, as pipas do Moscatel ou do azeite. O reino entrava no vocabulário popular a todo instante: farinha-do- reino, queijo-do-reino, pimenta-do-reino [...]. Coisas que vinham nas barcas de entesados velames, ligeiras umas, forradas de cobre outras, seguras tantas, como já as gabavam os anúncios dos jornais. E nelas de retorno embarcavam açúcar, algodão, couros, pau-brasil, para que este também falasse do país pelas terras estranhas (SETTE, 1978, p. 66).

No Recife deste período o espaço urbano se apresenta de três diferentes maneiras a partir da ocupação dos seus colonizadores e invasores praticantes deste comércio de troca entre países: i) o espaço português, ii) o espaço holandês e iii) o espaço do comércio (pós-ocupação holandesa).

O Recife, povoado denominado inicialmente por Duarte Coelho Pereira de “Ribeira do Mar dos Arrecifes dos Navios”, não foge à característica de localização apontada por Vargas (1993): a de um vilarejo portuário de colonização portuguesa. Ele surge em função deste comércio de importação e exportação e a importância do seu porto é ressaltada graças à importância do açúcar e da madeira nos mercados internacionais que por ele passavam29.

Em um istmo situava-se o povoado do Recife, área baixa do território colonizado, onde se desenvolviam as atividades portuárias. No princípio, consistia ele de 200 casas, dentre as quais escritórios e armazéns dos senhores do alto comércio de Olinda (capital do governo português, situada ao norte do povoado), vendas e tabernas, e era então, moradia do “povo dos Arrecifes”, “mareantes e pescadores” que viviam em torno da ermida de São Pedro Gonçalves (ou Igreja do Corpo Santo).

O vilarejo denominado inicialmente de Arrecifes dos Navios, foi também chamado de “O Povo”. “Povo, que ia carregar e descarregar os barcos, ir e voltar do mar, fiscalizar ou cobrar o dízimo, matar ou morrer nas suas fortalezas, ou contritamente, rezar na ermida sob a invocação do padroeiro Santelmo” (CAVALCANTI, 1977, p. 53). O Recife era então um pequeno povoado e tinha, talvez, a sua função econômica presente junto ao largo do Pelourinho de onde saia em direção ao mar o Trapiche. Neste lugar, “possivelmente ocorreria um pequeno Mercado, a primeira alfândega de recebimento e embarque de mercadorias” (MENEZES, 2004, p. 2)

Robert Smith (1979, p. 72) aponta junto ao povoado a existência de depósito de madeira, o Pau Brasil, onde haveria um ponto de embarque e desembarque dessa mercadoria. Era este espaço de troca denominado Praia da Madeira do Recife. Segundo o mesmo autor o comércio da madeira se equiparava ao açúcar, ao tabaco e ao ouro do Brasil, em todo o período colonial, pois essa madeira abastecia a coroa portuguesa tanto na fabricação de navios, quanto nos fins comerciais30.

29 A mais antiga referência sobre o Recife data de 1537 no Floral de Olinda, no qual está determinado o estado

jurídico da propriedade da terra. Segundo o historiador Antonio Paulo Rezende, no livro: O Recife. Histórias de

uma cidade. Recife: Prefeitura da Cidade do Recife: Empresa de Urbanização do Recife: Fundação de Cultura

Cidade do Recife, 2000. p. 5.

30

Segundo Caio Prado Junior. História econômica do Brasil. São Paulo: Brasiliense, 2006. p.27: “No que se relaciona com os portugueses, sabemos que a extração do pau-brasil foi desde o início, considerada monopólio real [...]. Tudo isso constituía privilégio da coroa, que cobrava direitos por sua exploração. A primeira concessão relativa ao pau-brasil data de 1501 e foi autorgada a um Fernando de Noronha (que deixou seu nome na ilha do Atlântico que hoje pertence ao Brasil), associado à vários mercadores judeus”.

ii) O espaço holandês. O surgimento dos espaços de comércio com a ocupação holandesa

“[...] em regra constrói-se um pôrto para servir a uma cidade; no caso levantaram os holandeses uma cidade para servir ao seu porto31.”

Apesar de ter o Recife sua ocupação inicial diretamente ligada ao comércio de importação e exportação de mercadorias característico da época, pois seu porto natural podia abrigar a entrada de navios de grande calado, o povoado só veio a se consolidar como principal espaço de localização do comércio varejista após a ocupação holandesa (1630), e mais especificamente após a escolha, pelo Conde Maurício de Nassau, deste sítio como sede de seu governo (1637/1644).

A opção portuguesa de colonização, através da ocupação e cultivo da terra, fez com que os holandeses que invadiram o Brasil encontrassem em Pernambuco uma economia organizada (com seu sistema de produção funcionando a base de uma monocultura latifundiária), uma sociedade patriarcal e uma mão de obra basicamente formada pelo trabalho escravo32.

O incêndio de Olinda, provocado pela invasão holandesa, fez com que o pequeno povoado do Recife absorvesse grande parte da população que fugiu da destruição da guerra e que, somando-se a presença do invasor, rapidamente o fez crescer e o adensou, crescendo também as atividades de comércio e serviços no povoado33.

Como representante da Companhia das Índias Ocidentais34, o Conde Maurício de Nassau norteou sua escolha para a localização geográfica de seu governo, de forma a melhor adequar às necessidades comerciais da época à configuração territorial existente.

31 CASTRO, Josué de. Fatores de localização da Cidade do Recife: um estudo da geografia urbana. Rio,

Imprensa Nacional, 1948, apud BALTAR, Antonio Bezerra. Diretrizes de um plano regional para o Recife. Recife, 1951. p. 42.

32 Segundo MELLO, José Antonio Gonçalves. Tempo dos Flamengos. Influência da ocupação holandesa na vida e na cultura do Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro: Editora Topbooks, 2001. “Os portugueses abandonaram a política de criação de entreposto comercial para ao invés disso se apossarem da terra e a cultivarem”.

33 Ibd., 2001, p. 53. “Evacuada e incendiada Olinda, passou o governo a residir no Recife. Uma população

enorme, calculada em mais de 7000 pessoas, teve de se comprimir no recife e em Antonio Vaz”.

“34No século XVI apareceram as primeiras companhias regulamentadas, onde os comerciantes se uniam num empreendimento comum, sem fusão de capitais, apenas cooperação, sobre regulamentação bem definida. Em geral o objetivo era manter em uma parte do mundo um monopólio comercial. Essas companhias se multiplicaram através do século XVII. A Companhia das Índias Ocidentais, representada em Pernambuco por

O Recife é escolhido por possuir melhor ancoradouro, por ser defendido por fortificações e por se achar organizado para o tráfego ultramarinho, pois, já era nesta época, o principal porto de embarque do açúcar brasileiro, possuindo armazéns e trapiches necessários ao embarque e desembarque de mercadorias, além de ser a rota (fluvial) natural do açúcar vindo dos engenhos (WATJEN, 2004).

A invasão holandesa trouxe, no primeiro momento, um colapso econômico com a destruição de engenhos35 e outras propriedades existentes. Aquilo que a guerra não destruiu muitas vezes foi destruído pelo próprio proprietário para não ser entregue ao dominador ou por conhecidos bandoleiros da época, que saqueavam e incendiavam propriedades.

Dessa forma, logo após a invasão holandesa houve um desinteresse por investimentos em propriedades agrícolas, que se encontravam destruídas, contudo, também a Nassau dá-se o crédito da reconstrução econômica de Pernambuco após a invasão, com o confisco de todos os engenhos pela Companhia das Índias e o leilão em praça pública das propriedades confiscadas; empréstimo a juros módicos para esta reconstrução e a disposição, para os que nos engenhos se estabelecessem, de dinheiro, de negros e apetrechos de trabalho (WATJEN, 2004).

Pernambuco não era um produtor de gêneros alimentícios e de primeira necessidade. Apesar dos holandeses terem procurado incentivar a produção de outros produtos, a monocultura da cana de açúcar era a base de comercialização. Privilegiada enquanto opção agrícola, o cultivo da cana foi também o principal empecilho para que a capitania conseguisse suprir suas próprias necessidades de abastecimento, o que, consequentemente, fez com que o abastecimento da população viesse de outros portos (MELLO, 2001).

Após um período de reconstrução de suas fortificações, e da sua economia o Recife voltou a se restabelecer comercialmente como território de importação e exportação de mercadorias, sendo os gêneros de abastecimento e primeira necessidade os mais importados

as mais procuradas mercadorias pelos que na cidade habitavam eram: panos de linho cobre, ferro, aço, breu. Gêneros alimentícios como, óleo de peixe,

Nassau, foi criada em 1621 para operar no oceano Atlântico e seus lucros foram de tal ordem que de 1600 a 1650 a Holanda tornou-se a maior potencia do mundo”. (VARGAS, 1993, p. 166 -167).

35 O engenho é a fábrica de açúcar propriamente dita, local onde estão as instalações para a manipulação da cana

– de – açúcar. O nome engenho estendeu-se depois de fábrica para o conjunto da propriedade com suas terras e culturas: engenho e propriedade canavieira se tornaram sinônimos. (PRADO JUNIOR, 2006, p. 37).

vinhos, cervejas, azeite, manteiga, queijo, farinha de trigo fina, bacalhau, toucinho, presunto, línguas, carnes de fumeiro, peixes da terra-nova, sardinhas, além de tecidos para roupas e botões - (SILVA; MELLO, 2004, p. 137).

Em contrapartida os produtos de exportação também cresceram, eram exportados não apenas açúcar e madeira de tinturaria (pau-brasil), como também doces, frutas cristalizadas, tabaco, madeiras de construção, madeiras para confecção de mobiliário, e couros36.

O crescimento da cidade do Recife no período holandês está assim estreitamente relacionado às trocas internacionais vigentes. O comércio se constitui como a mais importante atividade urbana, e geradora da formação da cidade. Este comércio, que impulsiona o crescimento urbano deste período, toma ainda uma maior dimensão quando, paralelamente a compra das propriedades agrícolas, incentivadas pelos leilões, ocorre a abertura dos portos para os comerciantes livres (1638).

O comércio que era até então exercido exclusivamente pela Companhia das Índias Ocidentais, veio a ser também explorado pelos comerciantes independentes. Essa mudança se deu pela impossibilidade da Companhia prover manufaturados, gêneros alimentícios, etc., de forma regular à região conquistada, e de existir, pelo fator monopolista, um constante contrabando de mercadorias cujo controle alfandegário, devido à tenacidade dos comerciantes livres, era muito difícil (WATJEN, 2004).

Ao conde João Maurício de Nassau se deu também o crédito por esta abertura comercial, pois, ao enfrentar uma dura oposição dos acionistas e diretores da Companhia das Índias, os quais se opunham a compartilhar seus lucros com outros comerciantes, introduziu na colônia uma nova dinâmica comercial.37

36 WATJEN, Hermann.. O domínio colonial Holandês no Brasil. Um capítulo da história colonial do Brasil do

século XVII. Recife: Companhia Editora de Pernambuco – CEPE, 2004. Trás as tabelas com os produtos exportados, quantidades e valores do período.

37

“Esta terra tão penosamente conquistada, por meio da guerra e das devastações praticadas tanto pelos soldados holandeses como pelos portugueses, necessita de homens. Mas os homens só aparecem quando há segura expectativa de aquisição de bens, de ganho, de subsistência, e se lhes concede a necessária liberdade de ação. Um monopólio de comércio não pode ser chamariz de colonos. Também a idéia do Diretório, de tomar para si o comércio em grosso, e deixar aos comerciantes livres somente o comércio a retalho não conduzirá a melhor resultado. Todos os plantadores da Nova Holanda são contra o monopólio. Receiam, antes de tudo, que a W.I.C., de futuro, lhes queira ditar o preço do açúcar. Além disso, exigem os portugueses o cumprimento da promessa que lhes foi feita, de poderem importar e exportar desembaraçadamente. Doutra maneira preferirão abandonar a terra e ir se reunir na Bahia, com os seus compatriotas. Numa palavra, o monopólio será a ruína do Brasil. Segundo o parecer do governo Recifense o problema só tem uma solução: reservar a Companhia para si alguns

O Recife passa a se constituir como um grande empório comercial, onde eram armazenados os açúcares e por onde transitavam todas as mercadorias que demandassem o porto ou nele fossem desembarcadas, principal centro abastecedor de todo o interior, das demais capitanias conquistadas, e das colônias holandesas da África (MELLO, 2001, p. 75).

Passa o Recife, após a ocupação holandesa, da condição de simples povoado de pescadores, que vivia à sombra do poder eclesiástico e feudal de Olinda, à condição, segundo Gilberto Freyre (2003, p. 107) de “melhor cidade da colônia”.

[...] Sobrados de quatro andares. Palácios de Rei. Pontes. Canais. Jardim botânico. Jardim zoológico. Observatório. Igrejas da religião de Calvino. Sinagoga. Muito judeu. Estrangeiros das procedências mais diversas. Prostitutas. Lojas, armazéns, oficinas. Industrias urbanas. Todas as condições para uma urbanização intensamente vertical.

No espaço estreito do Istmo, o povoado cresce construtivamente, observando-se em função do exíguo espaço de terra firme existente, a verticalização de seus edifícios. As edificações eram implantadas em terrenos estreitos e profundos, com vários andares e altas empenas laterais, sem recuos lateral e frontal, e com suas fachadas voltadas diretamente para a via pública.

iii) O espaço do comércio. A consolidação do comércio pós-ocupação holandesa

Do ano 1580 ao ano 1640 as coroas portuguesa e espanhola foram unidas. E somente após a restauração da independência portuguesa os holandeses foram expulsos de Pernambuco (1654).

Após a saída dos holandeses a capitania de Pernambuco apresenta-se com dois importantes e distintos espaços urbanos, a Praça do Recife, espaço do comércio consolidado no período de Nassau, e Olinda, novamente sede do governo. Esses espaços caracterizaram também os principais aspectos da sociedade deste período e seus principais conflitos.

A ocupação holandesa promoveu o adensamento do Recife e um conseqüente esvaziamento