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O comércio e as transformações no espaço público urbano

II) As transformações da arquitetura do espaço urbano para a localização do comércio de rua

2. a.2 As transformações decorrentes da mudança de uso da via e/ou colocação de novo piso.

Como foi introduzido no capítulo anterior, no bairro de Santo Antonio várias ruas foram transformadas para uso exclusivo de pedestres a partir das proposições projetuais de Jaime Lerner para o Plano de Circulação da Cidade (JAIME LERNER PLANEJAMENTO URBANO, 1977).

Não se pode afirmar que a pedestrianização de ruas do Centro ocorreu, exclusivamente motivada pela presença da atividade comercial. Pode-se apenas concluir que esta pedestrianização contribuiu para a localização de atividades varejistas voltadas às camadas mais pobres da população, visto que é esta parcela que se utiliza do transporte coletivo na cidade e/ou anda a pé (e consequentemente não vai às compras motorizado).

Todavia, recentemente (2002), o comércio praticado em algumas dessas vias existentes no bairro de São José motivou, através de convenio entre Prefeitura do Recife e a Câmara de Diretores Lojistas (CDL), reformas em algumas vias que fazem parte do conjunto de ruas de pedestres do Recife.

Desta feita, as transformações realizadas foram motivadas pelo exclusivo uso comercial das edificações existentes.

As reformas executadas visavam à melhoria do material de revestimento de piso, de forma que o material escolhido propiciasse um melhor caminhar para os usuários (ou possíveis consumidores) do Centro. Ressalte-se que o desenho de piso antes utilizado, fruto do concurso realizado em 1969 para as calçadas do Recife, foi substituído.

Além da troca do material do piso, o Poder Municipal sugeriu intervenções nas fachadas dos imóveis, em sua maioria, remanescentes do século XIX, com a ordenação de placas e letreiros existentes e pintura que valorizasse os desenhos das fachadas128 (figura 2/26). As intervenções nas fachadas foram apenas parcialmente executadas.

A proposição do novo material de revestimento, com um novo desenho de piso (ou paginação de piso), estabeleceu um percurso comercial – escolhido pelos representantes da Câmara dos Diretores Lojistas (CDL), - indicador de um corredor de comércio que, através dos desenhos e materiais de revestimento do piso, é diferenciado dos demais corredores existentes (figura 2/27).

Este corredor proposto consiste em um espaço de passagem composto pelas ruas Duque de Caxias, 1º de março e Nova e pela Praça da Independência (no bairro de São José) e Imperatriz (no bairro da Boa Vista), ver mapa figura 2/28.

Figura 2/26. Proposição de pintura das fachadas comerciais e ordenamento de letreiros da Rua Duque de Caxias. DPSH. 2002.

128 As questões relativas a fachadas e publicidade na arquitetura comercial são discutidas no capítulo 3 da

2.a.3 As transformações decorrentes do uso do espaço público urbano pelos comerciantes em loja

As lojas, através das suas edificações, definem o espaço arquitetônico urbano, sendo suas fachadas transformadoras deste espaço. Essas transformações referentes às fachadas das edificações, serão propriamente analisadas no item 4b.

Mas não apenas através das modificações em suas fachadas ocorrem transformações no espaço público urbano pelo comércio realizado em lojas, pois os comerciantes em lojas utilizam o espaço público de três formas: a) com a colocação de mesas e cadeiras no passeio, com b) com a ampliação do estabelecimento comercial e c) com o uso do passeio para exposição de mercadorias.

Todas as formas de utilização do espaço público contínuo à loja objetivam atrair o possível consumidor passante para as lojas localizadas nos espaços de passagem, através da:

a) Colocação de mesas e cadeiras à frente do estabelecimento comercial que vende

alimentos e bebidas. São colocadas mesas e cadeiras, e neste caso, o espaço do passeio público serve como uma extensão da área interna do estabelecimento.

Como resultante da colocação de mesas e cadeiras no espaço público, outras alterações físicas neste espaço comercial ocorrem em conseqüência, como:

a.1) A colocação de cobertura na área do passeio público, com a finalidade de proteger a área onde estão localizadas as mesas e cadeiras em forma de toldos (ou estrutura metálicas).

a.2) O alargamento da área de passeio público para melhor adequação dos usos que acontecem nesse espaço, ou seja, de circulação e comércio. Este caso específico pode ser observado através da reforma da Rua do Bom Jesus, realizada pelo Poder Municipal em 1995129 (figura 2/29).

129 Esta reforma foi fruto do Plano de Revitalização do Bairro do Recife ocorrido nos anos 1990, exposto no

Figura 2/29. Rua do Bom Jesus em 2002. Mesas e cadeiras na calçada e feira “Domingo na Rua” no leito da via.

b) A ampliação do estabelecimento comercial através da apropriação do espaço público

também é uma forma do comerciante em loja modificar esse espaço.

Neste caso, o estabelecimento comercial demarca, com cobertura e limites físicos laterais, um espaço que, situado à frente do seu estabelecimento, serve como ampliação da área interna existente.

Figura 2/30. Rua Matias de Albuquerque em 2005. Ampliação do estabelecimento comercial através da apropriação do espaço público.

Essa forma de apropriação do espaço público por comerciantes em loja é encontrada, de forma relevante, na Rua Matias de Albuquerque, no bairro de Santo Antonio.

Esta ocupação ocorreu fruto de um projeto de intervenção feito pelo Poder Municipal130, em 1993, que objetivava identificar a rua como área de comercialização de produtos alimentícios, ou seja, ponto de bares e restaurantes. Dessa forma, os comerciantes lá existentes tiveram o benefício do uso do espaço público da via imediatamente a frente dos seus estabelecimentos (figura 2/30).

O projeto previa a construção de quinze barracas para a comercialização de rua, no caso comercialização de lanches, no entanto estas não foram construídas.

A partir da instalação dos quiosques à frente das lojas houve a modificação formal do pavimento térreo das edificações que abrigam estas lojas, com o conseqüente comprometimento da leitura espacial do edifício.

Quando é considerado o conjunto de edifícios que sofreu esta forma de intervenção, percebe- se o comprometimento formal do espaço da via, a qual também passa a ser descaracterizada. Percebe-se, assim, a arbitrariedade do Poder Municipal como agente transformador do espaço público urbano.

c) O uso do passeio para exposição de mercadorias também é uma forma de utilização do

espaço público existente em frente ao estabelecimento comercial (figura 2/31).

Neste caso, o comerciante utiliza o passeio público para expor seus produtos das mais diferentes formas, tais como: com a colocação de mercadorias, com locutores que apresentam os produtos á venda ou com vendedores que abordam possíveis consumidores.

130 Foram beneficiados pela intervenção urbana os seguintes bares e restaurantes: Bar Savoy, Churrasquito,

Expresso Restaurante, Tivoli Restaurante, Dunga Lanches, A Botijinha, Vila Franca Lanches, A Sertanzinha Lanches. Fonte: Empresa de Urbanização do Recife.

Figura 2/31. Rua das Calçadas em 2005. Uso do passeio para exposição de mercadorias pelo comércio em loja.

2.b As transformações das edificações comerciais

Com o objetivo de complementar a identificação das transformações da arquitetura do espaço urbano, transformações essas decorrentes do uso comercial, neste item são identificadas as diferentes transformações morfológicas observadas na edificação comercial.

Através desta abordagem, que trata da arquitetura das edificações existentes em determinadas vias como elementos definidores dessas vias, observam-se as diferentes formas com que os edifícios comerciais se apresentam, em um dado período de tempo (1970/2006) no espaço público urbano, como mantenedores ou transformadores da imagem da cidade.

Pretende-se aqui demonstrar que os edifícios comerciais tanto modificam a imagem do espaço urbano através da sua própria transformação volumétrica (com mudanças no número de seus pavimentos, reformas em suas fachadas, fixação de placas, etc.), quanto através da especificidade de produtos comercializados em cada loja, demarcam territórios diferenciados do comércio (especializado ou dirigido para determinados setores do varejo).

Aqui são analisadas transformações das fachadas de edificações comerciais que compõem duas ruas de comércio popular do centro do Recife, assim como as mudanças de uso desses imóveis. Vistas na escala da rua (LAMAS, 1989), sob o ponto de vista do transeunte urbano, essas transformações, via de regra, relacionam-se com um processo de despojamento das fachadas dos imóveis que abrigam atividades comerciais e implicam não apenas na modificação do imóvel em si, mas, de todo um sítio, visto que ruas inteiras passam a ter suas edificações modificadas.

A análise da edificação comercial é realizada levando-se em consideração as transformações relativas à arquitetura do edifico propriamente dito e à aposição de elementos publicitários nas fachadas destas edificações. As transformações identificadas nas ruas levantadas exemplificam as mudanças da arquitetura comercial presente tanto na ZEPH 10 (RECIFE, 2003), quanto na ZEPH 9.

2.b.1 As edificações das Ruas das Calçadas e Direita no bairro de São José

As ruas que atualmente abrigam imóveis comerciais em áreas tradicionais constituem centros de compras não planejados (VARGAS, 2001). Abrigar centros de compras não planejados é

Figura 2/32. Rua Direita edifícios anteriores ao século XIX em azul.

(levantamento FIDEM anos 1980)

40 60 64 70 78 84 sn 69 73 1 2 3 S /N 1 0 6 9 6 9 0 3 6 3 0 2 6 1 8 106 110 2 1 6 109 1 19 9 7 1 6 3 157 151 147 2 1 6 8 1 2 2 0 1 2 9 1 3 8 - 1 2 0 167 3 2 26 3 2 4 3 0 2 2 9 1 2 8 8 282 2 7 6 269 265 2 5 7 243 312 3 1 4 260 268 270 2 5 4 250 2 42 220 2 2 6 232 2 3 8 1 9 8 204 188 184 176 174 1 70 1 5 6 112 130 1 3 2 142 146 96 S/N 163 173 173 173 173 181 1 8 5 193 1 9 7 2 0 5 2 0 9 215 219 225 S/N 237 237 3 2 9 3 1 5 311 3 0 5 2 9 9 2 9 5 291 2 7 1 /2 7 7 283 287 RU A IGREJA DO LIVRAMENTO TRAVESSA DO CIRIGADO RUA TOBIAS BARRETO

RUA DI

REI

T

A

TRAVESSA DO MERCADO RUA DE SÃO PEDRO

57 63 59 5 0 3 9 35 55 IGREJA DO TERÇO