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A evolução da proporção de mulheres segundo a idade e o número de filhos

O Parity and Age Total Fertility Rate (PATFR) constitui o resultado final de uma tábua de fecun- didade calculada segundo a idade e o número de nascimentos anteriores. Para além deste resultado, que será analisado posteriormente, estas tábuas de fecundidade permitem a análise de cada uma das ordens de nascimento em separado, quer no final da vida reprodutiva, quer ao longo do ciclo de vida.

No gráfico seguinte pode observar-se a proporção1 de mulheres que já teve pelo menos um filho,

de acordo com a idade, em vários momentos do tempo.

É possível observar uma deslocação sucessiva das curvas para a direita, o que mostra como a mesma proporção de mulheres que já foram mães é atingida progressivamente em idades mais tardias. Esta deslocação das curvas mostra o processo de adiamento dos nascimentos, que usualmente é apreciado a partir da evolução da idade média ao primeiro filho. Tal como na generalidade dos países europeus, em Portugal assistiu-se a um importante processo de adiamento dos nascimentos que tem caracteri- zado a fecundidade nos tempos recentes (Sobotka, 2004; Oliveira, 2009).

Para além deste adiamento dos primeiros nascimentos, é possível verificar o nível de fecundidade atingido no final da vida reprodutiva. É bem visível que, entre 1981 e 1991, se verificou uma di- minuição da proporção de mulheres que foram mães. Em 1981, o PATFR referente aos primeiros nascimentos situa-se em 0.91. Isto significa que, de acordo com as probabilidades observadas em

1 Esta proporção não se refere à população real, mas à proporção de mulheres na geração imaginária que decorre da aplicação das probabilidades de ter mais um filho numa tábua de fecundidade.

15 20 25 30 35 40 45 50 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 1981 1991 2001 2009

Fonte: Human Fertility Datbase

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1981, 91% das mulheres seriam mães se vivessem segundo este modelo de fecundidade ao longo de toda a sua vida fértil. De 1981 para 1991, o PATFR.1 desce de 91% para 87%, assim, nos anos 80, a proporção de mulheres que são mães ao longo da sua vida reprodutiva diminui 4%.

Desde aí, os níveis mantêm-se estáveis: 0.87 em 2001 e 0.86 em 2001. Pode concluir-se que, des- de os anos 90, a intensidade da fecundidade dos primeiros nascimentos não mostra uma tendência significativa para diminuir. Por outras palavras, a proporção de mulheres sem filhos, no final da vida reprodutiva, não sofre nenhum aumento significativo na população portuguesa nos últimos 20 anos.

A análise dos segundos nascimentos mostra uma evolução diversa. Para além do adiamento dos nas- cimentos, a proporção de mulheres que tem um segundo filho no final da sua vida reprodutiva sofre uma importante diminuição e, além disso, este decréscimo não acontece apenas nos anos 80 mas prolonga-se no tempo.

O adiamento dos segundos nascimentos é visível nestas curvas. Tal como anteriormente, o progres- sivo deslocamento para idades mais tardias, mostra como a mesma proporção de mulheres que viveu um segundo nascimento só é atingida numa fase mais avançada da vida.

A descida na proporção de mulheres que tem um segundo nascimento é muito acentuada nos anos 80 – o PATFR.2 desce de 0.71 para 0.56. Numa década passa-se de 71% de mulheres a terem um segundo nascimento para 56%. Trata-se de uma descida muito expressiva: cerca de 15%. No entanto, ao contrário do que acontece com os primeiros nascimentos, a diminuição na proporção de mulheres que tem um segundo filho continua até 2009, quando atinge apenas 44%. Desde os anos 90 a descida continuou embora de forma menos intensa: cerca de 12% em quase duas décadas.

15 20 25 30 35 40 45 50 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 1981 1991 2001 2009

Fonte: Human Fertility Datbase

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Os dois gráficos seguintes mostram o mesmo tipo de situação encontrada nos segundos nascimen- tos: um adiamento significativo dos terceiros e quartos filhos e, fundamentalmente, uma importante redução da proporção de mulheres que, no final da sua vida reprodutiva, atingiu uma descendência desta dimensão ou superior.

A diminuição da proporção de mulheres que têm um terceiro filho é bastante acentuada. De 1981 para 1991, a percentagem reduz-se quase para metade: de 27% para 14%. Desde aí, verifica-se uma continuação da diminuição na importância relativa destas mulheres, mas o ritmo de declínio é mais atenuado – em 2001 a proporção é de 11% e em 2009 de 9%. 1981 1991 2001 2009 15 20 25 30 35 40 45 50 0 500 1000 1500 2000 2500 3000

Fonte: Human Fertility Datbase

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Tal como para os segundos e terceiros nascimento, também aqui a redução é mais acentuada nos anos 80 e mais lenta deste aí. Mas a proporção de mulheres com pelo menos quatro filhos sempre foi mais baixa e, na actualidade é muito reduzida. De 10%, em 1981, desce para 4% em 1991, passando depois para 2% nos dois momentos seguintes.

Em suma, qualquer que seja a ordem de nascimento, a maior descida verifica-se nos anos 80. Apesar de nos nascimentos de ordem superior as descidas serem proporcionalmente maiores, o seu impacto na fecundidade final não é muito acentuado, uma vez que a proporção de mulheres que atingia esta descendência sempre foi menor.

No quadro seguinte podemos observar os valores do PATFR, em 1981, 1991, 2001 e 2009, as- sim como a evolução observada entre estes momentos. Para além dos valores totais deste indicador, encontram-se também os valores para cada uma das ordens de nascimento.

1981 1991 2001 2009 15 20 25 30 35 40 45 50 0 200 400 600 800 1000 1200

Fonte: Human Fertility Datbase

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Entre 1981 e 2009 a fecundidade final desce de 2.09 para 1.62 filhos o que corresponde a cerca de 70% da descida total verificada nestas três décadas. Os anos 80 são, de facto, o período mais marcan- te na descida da fecundidade (é nesta década que se ultrapassa o limiar de substituição de gerações, na sequência de um declínio acentuado de fecundidade que se tinha iniciado em meados dos anos 60).

Desde os anos 90 até finais da primeira década do século XXI, a diminuição da fecundidade é menos acentuada que anteriormente e vai resultar de tendências homogéneas na importância relativa das diferentes ordens de nascimento.

Se considerarmos, em simultâneo, a magnitude das descidas e a composição das descidas, podemos encontrar dois subperíodos com características homogéneas.

Os anos 80, nos quais se verificou a maior diminuição da fecundidade, é um período no qual a evolução resulta de descidas em todas as ordens de nascimentos. Nesta década, a diminuição dos segundos nascimentos é responsável por cerca de 32% da descida e a diminuição dos terceiros nasci- mentos é responsável por 28%. A descida dos quartos e quintos (e seguintes) nascimentos têm ainda alguma expressão (14 e 16%). Mas, este período caracteriza-se por ser o único no qual se encontra

Valores Observados 1981 1991 2001 2009 PATFR.1 0,914 0,866 0,869 0,861 PATFR.2 0,712 0,561 0,512 0,439 PATFR.3 0,267 0,137 0,108 0,086 PATFR.4 0,103 0,036 0,024 0,019 PATFR.5 0,097 0,020 0,010 0,005 PATFR 2,092 1,620 1,523 1,410 Descida (em valor absoluto) 1981-1991 1991-2001 2001-2009 1981-2009

PATFR.1 -0,05 0,00 -0,01 -0,05 PATFR.2 -0,15 -0,05 -0,07 -0,27 PATFR.3 -0,13 -0,03 -0,02 -0,18 PATFR.4 -0,07 -0,01 -0,01 -0,08 PATFR.5 -0,08 -0,01 -0,01 -0,09 PATFR -0,47 -0,10 -0,11 -0,68 Descida (em percentagem) 1981-1991 1991-2001 2001-2009 1981-2009

PATFR.1 10,2 -3,1 7,1 7,8 PATFR.2 32,0 50,5 64,6 40,0 PATFR.3 27,5 29,9 19,5 26,5 PATFR.4 14,2 12,4 4,4 12,3 PATFR.5 16,3 10,3 4,4 13,5 PATFR 100,0 100,0 100,0 100,0

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uma diminuição da proporção de mulheres que tem um primeiro filho: a descida dos primeiros nas- cimentos é responsável por 10% da diminuição encontrada nesta década.

Desde 1991 que a descida da fecundidade se baseia na diminuição dos segundos e terceiros nasci- mentos. O declínio dos segundos nascimentos contribui com 50% e 65% das descidas verificadas, na última década do século XX e na primeira do século XXI, e o dos terceiros nascimentos com 30% e 20% nos mesmos períodos.

Os segundos nascimentos, para além de constituírem a maior causa de declínio desde 1981, reve- lam uma tendência para aumentar a sua contribuição relativa para as descidas da fecundidade. Pelo contrário, os terceiros nascimentos, que detinham quase a mesma importância na descida verificada nos anos 80, perdem progressivamente importância como causa da descida da fecundidade.

A diminuição dos quartos e quintos nascimentos tem ainda algum peso nos anos 90, mas mui- to pequena expressão nos últimos anos. Os primeiros nascimentos mostram pequenas variações: assistiu-se a um ligeiro aumento entre 1991 e 2001 e depois uma diminuição (é possível que estes movimentos de sentido contrário estejam associados a pequenas oscilações anuais). Em 2009 a pro- porção de mulheres que são mães no final da sua vida reprodutiva é muito similar à encontrada em 1991 (86.6% e 86.1%).

Em síntese, pode concluir-se que em Portugal, o declínio da fecundidade está muito associado à diminuição da probabilidade das mulheres terem um segundo filho e um terceiro filho. De entre estes dois factores, é a importância dos segundos filhos que se destaca. Por um lado, constituem sem- pre a maior causa de descida da fecundidade, por outro, a importância relativa da sua descida, para o declínio global da fecundidade, tem vindo a acentuar-se.