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A EXISTÊNCIA DE DEUS

No documento Firmados na Fé - John Stott (páginas 78-82)

Assim como a Bíblia, os credos assumem como certa a exis­ tência de Deus e não a discutem. Em última instância, nós aceita­ mos a existência de Deus por fé e não por provas, porque Deus, sendo infinito, só pode ser conhecido por sua revelação e não pela nossa razão. Com isso eu não estou dizendo que a crença na exis­ tência de Deus é irracional. Pelo contrário, existem provas sólidas para se crer em sua existência. Não há aqui espaço para elaborar os cinco argumentos clássicos da existência de Deus expostos por Tomás de Aquino. Ao invés disso, tudo que eu posso fazer é suge­ rir três linhas de pensamento:

1 O universo como fato

Em toda a nossa volta há fenômenos que se tornam inexplicáveis se eliminarmos o conceito de Deus. É razoável supor que assim como toda construção tem o seu arquiteto, toda pintu­ ra o seu artista plástico e todo mecanismo o seu idealizador, assim também o universo, misterioso, belo e complexo, deve ter o seu Criador. Ele é a causa da qual, em última instância, todos os efei­ tos derivam. Ele é a Vida à qual toda vida deve a sua existência. Ele é a Energia da qual emana todo movimento. Estes pensamen­ tos são expressos pelos autores bíblicos de diversas maneiras: “Os céus proclamam a glória de Deus e o firmamento anuncia as obras das suas mãos” (Salmo 19.1); “Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divi­ na, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio

“Creio em Deus Pai'

das coisas criadas” (Romanos 1.20); “O Deus vivo, que fez o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há . .. não ficou sem testemunho: demonstrou sua bondade dando-lhes chuva do céu e colheitas no tempo certo, dando-lhes comida com fartura e corações cheios de alegria” (Atos 14.15-17).

Depois da destruição da antiga Catedral de São Paulo no grande incêndio de Londres, em 1666, Christopher Wren come­ çou a planejar e construir a nova, que lá se encontra até hoje. Os visitantes muitas vezes se surpreendem por não existir ali nenhum memorial dedicado a ele. O seu túmulo, porém, está na cripta, perto dos de Nelson e Wellington, e sobre ele uma placa traz a inscrição em latim si monumentum requiris, circumspice (“se pro­ curas um monumento, olha em volta”). Do mesmo modo, o mun­ do que Deus criou é sua melhor testemunha.

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A natureza dos seres humanos

Se agora, depois de olhar para o universo, voltarmos o olhar para nós mesmos, encontraremos mais evidências de Deus. Ideais elevados e aspirações sublimes se agitam dentro de nós. Coisas bonitas aos nossos olhos, ouvidos e toque nos comovem profun­ damente. A nossa mente é insaciavelmente curiosa na sua busca de conhecimento. Somos impulsionados para diante e para cima por uma necessidade imperiosa de fazer o que “devemos”, a mes­ ma que nos enche de vergonha sempre que falhamos. O amor também revela a nobreza única de nossa humanidade, o amor que inspirou as maiores façanhas de arte, heroísmo, sacrifício e serviço.

Firmados na Fé John Sloit

Será que esses sentimentos universais são uma piada vazia, uma miragem no deserto da ilusão? Ou existe alguma instância última de Beleza, Verdade, Bondade e Amor à qual a nossa perso­ nalidade responde? Ainda mais importante: como se explica a re­ verência inata que temos pelas coisas sublimes e sagradas, nosso senso de assombro e encantamento, nosso desejo intenso de ado­ rar? Por que todos os seres humanos são criaturas que adoram, a ponto de fazerem seus próprios deuses quando nenhum deus lhes é revelado? Será que não existe um Deus a quem eles possam ser­ vir e assim satisfazer esse anseio de adoração? À luz destas verdades relativas a nossa própria experiência, parece ainda mais razoável acreditar em Deus do que negá-lo.

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A pessoa de Jesus Cristo

Se Deus é infinito, ele está além de nós. Se ele está além de nós, nós não podemos conhecê-lo a não ser que ele mesmo decida tornar-se conhecido. E, se fosse para dar-se a conhecer, ele certa­ mente o faria na forma mais nobre que nós teríamos condições de entender, isto é, através da personalidade humana. E exatamente isso que os cristãos crêem que ele fez. Deus não se contentou em se revelar somente através do universo que fez e da natureza que nos deu. Ele mesmo veio, em pessoa, ao nosso mundo. Em Jesus Cristo Deus se tomou um ser humano, sem deixar de ser Deus. Esse homem-Deus único viveu aqui e foi visto, ouvido e tocado. As provas da divindade de Jesus, eu deixo para o próximo capítu­ lo. Aqui, basta dizer que o melhor e mais forte argumento para

"Creio em Deus Pai'

acreditarmos na existência de Deus é o Jesus histórico. Se por aca­ so você estiver em dúvida quanto à existência de Deus, eu o acon­ selho a ler os Evangelhos de joelhos. “Busquem, e encontrarão”, disse Jesus (Mateus 7.7). Encare esse registro histórico daquele que alegou ser o Filho do Pai; faça-o com a mente aberta, humilde e sem preconceitos de uma criancinha. Jesus prometeu que é a pessoas assim que Deus se revela (Mateus 11.25).

0 Deu striúno

O Credo Apostólico e o Credo Niceno são divididos em três parágrafos que falam das três Pessoas da Trindade. Sem dúvi­ da, a Trindade é o maior mistério da fé cristã. O termo em si é uma combinação do prefixo “tri” com a palavra “unidade”, e se refere ao fato de que Deus é tanto três quanto um: “Na unidade dessa Divindade há três Pessoas, uma só em substância, poder e eternidade, o Pai, o Filho e o Espírito Santo”.1

Certos pensadores ficam tão perplexos diante desse con­ ceito que chegam ao ridículo. Thomas Jefferson, por exemplo, o gênio excêntrico que foi o terceiro presidente dos Estados Unidos, tentou reconstruir o cristianismo sem dogmas. Ele ansiava pelo dia, escreveu, em que “nos livraremos do jargão incompreensível da aritmética da Trindade, segundo o qual três são um, e um é

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tres .

Firmados na Fé John S M

Uma das memórias mais vividas e constrangedoras que eu tenho dos meus tempos de escola é a de uma conversa que tive com um pastor que nos visitava. Eu tinha cerca de quinze anos. Com a segurança imbatível característica de um adolescente, eu lhe disse: “Ninguém mais acredita na Trindade hoje em dia!” Mal acabara de dizer isso, e já me envergonhei de tê-lo feito. O fato é que eu nunca havia refletido sobre a questão da Trindade. Diante da impossibilidade de entendê-la, apressei-me a concluir que era uma superstição antiquada e burra que as pessoas inteligentes ha­ viam descartado há muito tempo. E, talvez por ironia da provi­ dência divina, quando saí daquela escola fui justamente para a faculdade da Universidade de Cambridge que é dedicada à Santa Trindade!

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