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Os V alores M orais

No documento Firmados na Fé - John Stott (páginas 130-134)

casa trabalho e comunidade.

7 Os V alores M orais

A

gora, que vimos em que o cristão crê, vamos con­ siderar a sua conduta. Neste capítulo trataremos especificamente dos princípios que devem reger

a vida dos seguidores de Cristo. Isso nos confronta de imediato com o conflito existente entre o procedimento do cristão e a for­ ma como o mundo se comporta.

Nos dias de hoje o mundo redefiniu e relativizou tanto o bem como o mal. Quer se trate de ética do trabalho ou do respei­ to pela santidade da vida humana, de sexo, casa e família, ou da sede de consumismo, os limites daquilo que é aceitável estão sen­ do constantemente expandidos. O que está acontecendo em mui­ tos países ocidentais é uma evidência disso: uma vez abandonada a fé cristã, a ética cristã não sobrevive por muito tempo.

Em toda as épocas e em cada geração, Deus sempre cha­ mou o seu povo para ser radicalmente diferente da cultura domi­ nante — em seus valores, padrões morais e estilo de vida. “Não procedam como se procede no Egito, onde vocês moraram”, Deus mandou Moisés dizer a Israel, “nem como se procede na terra de Canaã, para onde os estou levando. Não sigam as suas práticas. Pratiquem as minhas ordenanças, obedeçam os meus decretos e sigam-nos. Eu sou o Senhor, o Deus de vocês” (Levítico 18.1-4). O equivalente a essa instrução no Novo Testamento parece ser a palavra dada por Jesus aos seus seguidores no Sermão do Monte.

Firmados na Fé John Stott

Eles estavam cercados tanto por religiosos (os fariseus) quanto por quem não tinha religião alguma (os pagãos). Contudo, não devi­ am imitar nenhum dos dois. “Não sejam iguais a eles”, Jesus disse (Mateus 6.8). Pelo contrário, deveriam seguir os ensinamentos e o exemplo do Mestre.

Os D e z M andam entos

Os Dez Mandamentos dados por Deus aos israelitas eram uma síntese das normas de conduta que ele esperava do seu povo. E eles continuam em vigor. Mesmo que agora a lei cerimonial do Antigo Testamento esteja obsoleta (seus sacrifícios, suas regras ali- mentares, etc.), e embora a sua lei civil (estatutos e sanções) não seja necessariamente apropriada para as nações hoje, ainda assim a sua lei moral permanece. Ela não era só a lei de Moisés, era a lei de Deus. O que Jesus fez no Sermão do Monte não foi rejeitar a lei moral, mas interpretá-la. Nas suas seis antíteses (“Vocês ouviram o que foi dito... Mas eu lhes digo...” - Mateus 5.21-48), o que Jesus estava contestando não era a lei de Moisés, mas as distorções que os escribas faziam na tentativa de torná-la mais fácil de obede­ cer. Jesus, porém, fez justamente o contrário, ressaltando as impli­ cações radicais da lei de Deus.

“Mas Paulo não escreveu que nós não estamos ‘debaixo da lei’?”, alguém poderia protestar. “Ele não quis dizer com isso que a lei foi abolida para os cristãos?” A resposta à primeira pergunta é

Os Valores Morais

sim; e à segunda é não. É muito importante entender corretamen­ te a Paulo. Ele quis dizer: (1) que, para efeito de nossa justificação, nós não estamos “debaixo da lei”, mas sim debaixo da graça (Ro­ manos 6.14-15), no sentido de que Deus nos aceitou por causa de sua misericórdia e não em virtude de nossos méritos; e (2) que, para nossa santificação, não estamos debaixo da lei , mas sim “guiados pelo Espírito” (Gálatas 5.18), no sentido de que Deus nos santifica pelo poder de seu Espirito que habita em nos e não pelos nossos esforços solitários. Mas nos ainda estamos sob a lei de Cristo” (1 Coríntios 9.21) no sentido de que temos a obriga­ ção de obedecê-la. De fato, Deus nos enviou seu Filho para mor­ rer por nós “a fim de que as justas exigências da Lei fossem plena­ mente satisfeitas em nós” (Romanos 8.3-4); e Deus coloca o seu Espírito dentro de nós para escrever a sua lei em nossos corações (2 Coríntios 3.3). Isso explica um fato extraordinário quanto à promessa feita por Deus no Antigo Testamento sobre a era messiânica. Ele a expressou dizendo que “Porei o meu Espírito em vocês” (Ezequiel 36.27) e “Porei a minha lei no íntimo deles e a escreverei nos seus corações” (Jeremias 31.33).

Essa estreita conexão entre o Espirito de Deus e a lei de Deus é imensamente importante. Ao refletirmos sobre a sua lei neste capítulo, convém lembrar que ele nos oferece tambem o seu Espírito. De fato, o Espírito que habita em nos pode nos capaci­ tar: (1) a conhecer a lei de Deus, de modo que compreendamos cada vez mais as implicações dela para os dias de hoje; (2) a amar a lei de Deus, para que não a vejamos mais como um fardo, mas como um prazer (“Como eu amo a tua lei! — Salmo 119.97); e

(3) a cumprir a lei de Deus, de modo que, libertos da escravidão do pecado, encontramos na obediência a verdadeira liberdade. Deus não faz exigências sem nos dar os meios de cumpri-las.

Jesus resumiu a lei moral em termos de amor. Ele juntou os dois mandamentos, o de amar a Deus com todo o nosso ser (Deuteronômio 6.5) e o de amar o nosso próximo como a nós mesmos (Levítico 19.18), coisa que ninguém havia feito antes, e acrescentou: “Não existe mandamento maior do que estes”, pois “destes dois mandamentos dependem toda a Lei e os Profetas” (cf. Marcos 12.31 e Mateus 22.37-40). Devemos, pois, aprender a compreender e aplicar os mandamentos de Deus à luz das exigên­ cias do amor. Note-se em particular que o princípio do amor, com seu caráter único, positivo e envolvente, abrange e até trans­ cende os muitos preceitos negativos e específicos da Lei. Além disso, o amor que Jesus tinha em mente não era nem egoísta nem sentimental, mas forte e sacrificial. O que chamamos de amor geralmente é erõs, o desejo de obter e possuir, enquanto o amor de Deus é agapê, o desejo de dar e enriquecer. Amar é sacrificar a si mesmo para servir aos outros; e onde não existe nem sacrifício nem serviço não existe amor. Amar a Deus é deixar-se absorver totalmente pela sua vontade e sua glória. Amar aos outros é dedi- car-se ao seu bem-estar.

Os Valores Morais

Os primeiros cinco mandamentos estabelecem quais são os nossos deveres para com Deus (ver Êxodo 20.1-12; Deuteronômio 5.1-16).

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Eu sou o Senhor, o teu Deus, que te tirou do Egito,

No documento Firmados na Fé - John Stott (páginas 130-134)