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4.4 O desenvolvimento dos biocombustíveis no Brasil

4.4.1 A experiência do Programa Nacional do Álcool

Segundo o Plano Nacional da Agroenergia (2005), Brasil é o país mais avançado, do ponto de vista tecnológico, na produção e no uso do etanol como combustível, seguido pelos EUA e, em menor escala, pela Argentina, Quênia, Malawi e outros. Tal desempenho foi influenciado, principalmente, pela efetivação de políticas públicas que alavancaram o desenvolvimento do setor.

Criado em 14 de Novembro de 1975 pelo decreto n° 76.593, o Programa Nacional do Álcool (PROÁLCOOL) destinava-se à expandir rapidamente a produção (do álcool) e viabilizar o seu uso progressivo como combustível, através de crescentes proporções de misturas, e como matéria-prima para a indústria química, além de assegurar o seu fornecimento para outros usos. Além disso, o programa integra um amplo elenco de medidas para fazer face às tendências de desequilíbrio da balança de pagamentos (SZMRECSÁNYI, 1979).

Para La Rovere (2000), o PROÁLCOOL é considerado o maior programa mundial de utilização comercial da biomassa para produção e uso de energia, ratificando a viabilidade técnica da produção em larga escala de etanol por meio da cana-de-açúcar e do seu uso como combustível automotivo.

Conforme o decreto 76.593, a produção do álcool oriundo da cana-de-açúcar, da mandioca ou de qualquer outro insumo deveria ser incentivada por meio da expansão da oferta de matérias-primas, com especial ênfase no aumento da produção agrícola, da modernização e ampliação das destilarias existentes e da instalação de novas unidades produtoras, anexas a usinas ou autônomas, e de unidades armazenadoras (ARANDA, 2005).

A produção de etanol a partir de cana-de-açúcar foi uma decisão que levou em consideração, além do preço do açúcar, finalidades políticas e econômicas, envolvendo investimentos adicionais. Tal decisão foi tomada em 1975, quando o Governo Federal decidiu encorajar a produção do álcool em substituição à gasolina pura, com vistas a reduzir as importações de petróleo, então com grande peso na balança comercial externa. Nessa época, o

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preço do açúcar no mercado internacional decaia rapidamente, o que tornou conveniente a mudança de produção de açúcar para álcool (MME, 2008).

Para Santiago et al. (2006) o PROÁLCOOL pode ser dividido em três fases, quais sejam: 1) Implantação de destilarias de álcool anexas às usinas de açúcar, empreendimentos de rápida maturação que permitiram o crescimento da produção do tipo anidro; 2) A partir de 1979, implantação de destilarias autônomas em novas áreas de produção de álcool, principiando a produção do álcool hidratado destinado ao uso direto nos automóveis, e 3) Em 1985, ampliação dos aspectos qualitativos no tocante a produtividade agrícola, eficiência industrial e aprimoramentos dos variados aspectos do consumo.

Até 1989, foram investidos aproximadamente 7 bilhões de dólares em subsídios e pesquisas pelo governo. Dentre os resultados obtidos através do PROÁLCOOL, destacam-se: a contribuição para o equilíbrio nas contas externas, geração de empregos, aumento da arrecadação fiscal, decrescimento da poluição ambiental e desenvolvimento de tecnologia nos setores agrícola e industrial, tornando o país menos dependente externamente em um setor vital da economia, a saber, setor o energético (SANTIAGO et al., 2006).

Já na década de 1990, o setor sucroalcooleiro nacional volta a sofrer interferências políticas relevantes, com a desregulamentação do setor e a extinção do Instituto do Açúcar e do Álcool (IAA), acarretando, desta forma, a liberação dos preços da cana, do açúcar e do álcool (MENEGUETTI, 1999). Além disso, a política econômica com objetivo de controlar a inflação por meio de vários planos econômicos, inclusive com congelamento de preços, também colaborou para o agravamento da crise no setor canavieiro. Como conseqüência, no período de 1987 a 1997, observou-se o fechamento de 130 unidades produtoras de álcool, muitas em função da ineficiência de suas operações.

A partir deste período, com a diminuição de investimentos do poder público no setor, empresas privadas do sistema agroindustrial da cana-de-açúcar adotaram distintas estratégias de concorrência. Desde então, o progresso técnico é um dos elementos fundamentais destas estratégias, visto que a saída do Estado tornou as relações internas do complexo (usineiros/fornecedores e usineiros/trabalhadores) totalmente privadas, viabilizando a concorrência no interior do sistema agroindustrial (IEL, 2005).

Percebe-se que, dentro deste contexto, tanto as esferas públicas quanto a privada exercem papel crucial para o desenvolvimento e consolidação do setor. Atualmente, o Brasil é o maior produtor mundial de cana-de-açúcar, desempenhando uma posição de destaque na produção de energia a partir da biomassa (MME, 2008).

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Conforme o Plano Nacional da Agroenergia (2005), a produção mundial de álcool aproxima-se dos 40 bilhões de litros, dos quais se presume que até 25 bilhões de litros sejam utilizados para fins energéticos. O Brasil responde por 15 bilhões de litros deste total.

O álcool é utilizado em mistura com gasolina no Brasil, Estados Unidos, União Européia, México, Índia, Argentina, Colômbia e, mais recentemente, no Japão.

No Brasil, o etanol é usado como aditivo à gasolina na forma de álcool anidro, com o objetivo de aumentar o poder antidetonante em motores de Ciclo Otto. A proporção na mistura varia entre 20 a 25% de álcool na gasolina, em termos de volume, e é conhecida também como gasool, ou gasolina C (MENDONÇA et al., 2008, p. 3). Devido as características de produção do álcool, seus custos de produção são diretamente vinculados ao rendimento industrial do processo de fabricação do etanol e, principalmente, à produtividade da lavoura da cana-de-açúcar. Desta forma, para uma melhor eficácia dos programas de desenvolvimento tecnológico, a maior ênfase do setor tem sido na área agrícola, pois essa etapa representa cerca de 61% dos custos de produção do etanol (MME, 2008).

Para avaliar adequadamente os impactos do PROÁLCOOL e da produção do álcool no Brasil, são necessários considerar as externalidades nas etapas agrícola, industrial e energética.

Analisando-se os impactos sociais da produção do álcool, pode-se perceber que, além da geração de empregos na agroindústria canavieira, há que se ressaltar a natureza rural desses empregos. Ademais, o MME (2005) destaca impactos positivos da produção do álcool na economia, dentre estes, a elevada contribuição fiscal do setor, custos de produção decrescentes dos produtos da cana, desenvolvimento de tecnologia, geração de emprego e renda. De fato, podem-se citar também alguns fatores ambientais positivos deste tipo de combustível, a saber, a redução de gases de efeito estufa, redução na poluição atmosférica dos centros urbanos e a eliminação do chumbo tetraetila da gasolina.

Enfim, apesar de muita discussão a respeito das externalidades negativas da produção da cana-de-açúcar (questões trabalhistas, queimadas, sistemas de produção monocultoras, entre outros), percebe-se grande avanço brasileiro no que tange a produção de combustíveis renováveis.

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