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Processos Mentais II: A emoção e a

Aula 4 | Processos Mentais II: a emoção e a motivação

4.1.1 A experiência emocional

Um dos aspectos mais importantes do estudo das emoções é relacionado a como as emoções são expressas através do comportamento. As expressões emocionais são fundamentalmente relacionadas ao nosso estado emocional, de forma que estão integrados aos nossos estados fisiológicos.

4.1.1.1 Charles Darwin

Um dos primeiros a lidar com esta afirmação foi Charles Darwin, que em 1872, Darwin escreveu “A Expressão das Emoções no Homem e Animais”. Este trabalho tornou aparente a absoluta relevância de estudar a emoção em modelos animais e identificou a extrema semelhança entre manifestações emocionais básicas em animais e no homem.

Ele também lançou a ideia de que respostas autonômicas são parte intrínseca da experiência emocional, estabelecendo a primeira conexão entre os sistemas fisiológicos e as emoções. Ou seja, em sua visão, os aspectos periférico, esqueletomotor e autonômico da emoção têm funções importantes na comunicação com os outros e em preparação para respostas comportamentais.

4.1.1.2 William James e Carl Lange

Outro estudioso, William James, deu continuidade aos estudos sobre a emoção, ao referenciar a conexão entre a fisiologia (o que ele chamava de “sentimento corporal”) do estado emocional, colocando-os como indissociáveis.

De fato, ao final do século XIX, juntamente com Carl Lange, William James desenvolveu uma teoria que considerava dois aspectos principais sobre como entender as experiências emocionais:

 Respostas autonômicas são reações reflexas que ocorrem rapidamente, iniciando e, às vezes terminando, antes que ocorra uma percepção consciente da emoção.

 Experiência emocional é a percepção que surge das alterações autonômicas. Em outras palavras, a experiência emocional segue e reflete a reatividade autonômica.

Em síntese, a teoria de James-Lange entendia que a Emoção é uma resposta a mudanças fisiológicas no corpo. No entanto, esta teoria não conseguia explicar o fato de que sentimentos emocionais podem se estender bem além do tempo de excitação autonômica.

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4.1.1.3 Walter Cannon e Philip Bard

A partir desta problemática, na década de 1920, Walter Cannon e Philip Bard propuseram uma teoria alternativa. Argumentaram que sensação visceral não pode responder pela emoção, e que era necessário um sistema cerebral central para a experiência emocional que fosse separado do sistema da sensação visceral.

A teoria de Cannon-Bard sugeria que duas áreas subcorticais, o hipotálamo e o tálamo, desempenhariam um papel fundamental na mediação da emoção. Eles defendiam que estas estruturas poderiam regular aspectos periféricos da emoção (por exemplo, respostas autonômicas), bem como fornecer informações adequadas para o processamento cortical cognitivo da emoção.

Bard, que era um estudante de Cannon, fez transeções seriais, desconectando-se essencialmente o córtex cerebral de vias descendentes em gatos. Quando a transecção incluiu apenas o prosencéfalo, uma variedade de comportamentos constitutivos de raiva foi observada quando eram apresentados estímulos inócuos ao gato. Estes comportamentos incluíam o arqueamento das costas, a extensão das garras, assoviar, cuspir, a dilatação das pupilas, o aumento da pressão arterial, da frequência cardíaca e da secreção adrenal.

Esta raiva foi chamada de “falsa raiva", porque os animais mantinham respostas emocionais, mas as respostas não tinham aspectos de comportamento emocional que normalmente eram observadas durante a raiva. Além de ser provocada por estímulos inócuos, a falsa raiva diminuiu rapidamente após a remoção do estímulo e era não direcionada; os animais se mordiam. Bard realizou transeções progressivas, e quando o

hipotálamo posterior foi desconectado, foi observada resposta não coordenada de raiva.

Estes achados os fizeram acreditar na mediação das áreas subcorticais sobre os fenômenos das experiências emocionais.

Em síntese, a teoria de Cannon-Bard estabelecia que emoções podem ser independentes da expressão emocional, sendo mais um processo cognitivo.

4.1.1.4 Stanley Schachter e Jerome Singer

Em continuidade aos estudos sobre a emoção, Schachter e Singer desenvolveram uma teoria que era uma complementação à teoria de James-Lange.

Assim, concordando com James e Lange, estipulavam que a consciência de uma emoção ocorre graças à consciência de reações emocionais. Neste sentido, as reações são muito parecidas ao estímulo, sendo praticamente impossível ao sujeito discriminar o tipo de emoção que foi ativada especificamente pelo estímulo emocional.

Sua teoria representou uma evolução à de James-Lange na medida em que colocou na equação a interferência do meio social. Desta forma, o indivíduo adquire informações do seu meio social e rotula essas reações emocionais. A existência deste rótulo emocional é que diferencia esta teoria da de James-Lange.

De certa forma, a teoria parecia juntar as duas anteriores, estabelecendo a importância das reações autonômicas nas manifestações emocionais, mas também que há uma interpretação, mediada pelo meio social, dos estímulos emocionais. Em síntese, emoções são diferentes dos outros estados mentais por causa das reações físicas associadas.

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4.1.1.5 Jack Panksepp

Após a teoria de Schachter-Singer, houve uma certa estagnação nos estudos sobre a emoção, que ganhou novo impulso após o advento das técnicas de neuroimagem, ao final do século XX. Um destes expoentes, que propôs uma nova compreensão sobre a emoção foi Jack Panksepp.

Jack Panksepp, em 1998, ofereceu uma definição funcional para o sistema emocional no cérebro, identificando funções que variam de entradas sensoriais incondicionadas ao controle da emoção pela cognição.

Assim, Panksepp descreveu um conjunto de 4 sistemas fundamentais ‘conectados' da emoção encontrados nos cérebros de mamíferos: a BUSCA, ou seja, o se mover adiante, farejar, investigar; o MEDO, ou seja, o gelar, assustar, escapar; a RAIVA, quer dizer, atacar, morder, lutar; e o PÂNICO, relacionado à agitação, sons de angústia.

Desta forma, ao descrever influências excitatórias e inibitórias – como uma relação excitatória entre medo e raiva – entre os 4 sistemas, estabeleceu também três outros sistemas, neste caso “especiais”, por só se aplicarem ao ser humano: LUXÚRIA, CUIDADO, e JOGAR.

Para este cientista, as sensações de emoção não podem ser estudadas em mamíferos não-humanos, embora nós possamos fazer algumas suposições sobre as experiências de sensações de outros mamíferos, observando seus comportamentos.

Por outro lado, sentimentos emocionais podem ser investigados em seres humanos: um estudo PET

(Tomografia por Emissão de Positrons) investigou respostas cerebrais quando indivíduos autogeravam emoções, tais como: alegria, tristeza, medo e raiva. Foram observados diferentes mapas neurais para as diferentes emoções em áreas corticais e subcorticais, o que sugeriu a existência de sistemas emocionais diferentes para cada tipo de emoção em diferentes regiões cerebrais.

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