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3.1 A EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA NO BRASIL

3.1.1 A Extensão Universitária na UFRGS

Na ausência do outro, o homem não se constrói homem.

( Lev Vygotsky).

De acordo com Silva (2003), a extensão universitária na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) foi institucionalizada em seu Regimento Geral da Universidade (RGU), em 1971, no artigo 109, que concede às comissões de extensão, a responsabilidade de programar atividades, sob aprovação das câmaras do Codep - Conselho Departamental; promover cursos de extensão, por iniciativa própria ou solicitação de unidades universitárias, bem como criar normas para a realização dos mesmos; promover programas culturais e recreativos para a comunidade e autorizar atividades não programadas desde que não trouxesse ônus para a universidade.

Porém, a Universidade não assumiu como compromisso social, nem como programa estratégico, pois consoante Guimarães8 (1997 apud SILVA, 2003), a

extensão universitária não encontrou consenso nem mesmo dentro da própria universidade.

Conforme Silva (2003), a extensão foi definida, legalmente, como função da Universidade em 1968, mas foi somente a partir de 1975, que as universidades começaram a estruturá-la efetivamente. Os dois projetos de destaque da extensão na UFRGS foram o Projeto Itapuã e o Uniarte em 1980. O primeiro, destinado a atender a comunidade do Distrito de Itapuã, em Viamão, serviu como um laboratório para a Universidade. O Uniarte serviu de espaço para manifestações culturais e tradicionais, destinado a atender a elite.

Conforme Silva (2003), além desses projetos, a Universidade também atuava junto a demandas esporádicas, emergenciais e localizadas, com características assistenciais. No final da década de 80, a luta dos atores internos para a construção de uma identidade de uma universidade mais próxima à da maioria da população foi reforçada.

O autor afirma que, mesmo com a criação do FORPROEX, com a proposta da extensão em relação interativa do saber acadêmico com o saber popular, objetivando a produção de novos saberes, não foi suficiente, pois as universidades continuavam desenvolvendo extensão através de cursos ou atividades residuais, sem reflexão acadêmica e com caráter ativista. A extensão precisaria ser assumida como atividade voltada para os populares, na busca de melhoria de vida, como disseminadora de conhecimento produzido na universidade. Trata-se de uma aplicação direta da ciência às camadas populares, e, portanto, sem a sofisticação da demanda tecnocrática.

Dalla Zen9 (1980 apud SILVA, 2003) destaca o esforço da Universidade em

criar-lhe um espaço institucionalizado e assumir a extensão como atividade efetiva da UFRGS, não servindo, porém, para motivar a comunidade a participar das ações extensionistas.

Embora tivesse alcançado certa institucionalização, os professores e alunos não se sentem motivados a dela participarem. As poucas motivações existentes provêm de fontes diferentes e não da institucionalidade em si, pois seriam as consciências sobre o papel das ciências na sociedade ou as ligações militantes dos atores da universidade que fazem traçar ações junto às populações. [...] As diferentes visões daqueles que atuavam na extensão indicavam a falta de diálogos compreensivos sobre a função acadêmica desta. (SILVA, 2003, p. 126)

9DALLA ZEN, Ana Maria. 1980. A Atividade de Extensão Universitária na UFRGS: êxitos, falhas e perspectivas.

Dissertação (Mestrado em Educação) -Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 1980.

Para Guimarães (1997 apud SILVA, 2003, p.127), os departamentos eram os proponentes das atividades, e, na maioria das vezes, era para preenchimento de carga horária do docente ou pela vontade própria de um professor, do que a demanda externa.

A partir de 1994, a extensão foi repensada, desde a distribuição de bolsas até o oferecimento de infraestrutura da Pró-Reitoria, priorizando o desenvolvimento de programas/projetos diretamente relacionados ao ensino e a pesquisa; desenvolvimento de propostas que se caracterizassem com uma contribuição efetiva ao Estado e aos movimentos sociais organizados, desenvolvimento de projetos que difundissem a cultura, de forma a resgatar a imagem cultural da universidade no panorama da cidade.

Silva (2003) ressalta que a extensão vai se concretizando aos poucos, assegurando seu lugar na Universidade através do aumento gradativo dos projetos de extensão com caráter continuado. Destaca, também, um elemento importante para a institucionalização da extensão: a criação da Câmara de Extensão, junto ao Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (CEPE), órgão técnico dotado de função deliberativa, normativa e consultiva.

A trajetória da extensão na UFRGS é apresentada por Silva (2003), mostrando a evolução da mesma através de documentos e produções até o ano de 2000, tais como: Revista Ação e Utopia e 1ª Mostra de Extensão (1996); 1º Catálogo de Projeto de Extensão (1981); Revista de Extensão Universitária (1997); 1º Salão de Extensão (1999) entre outros.

Conforme Silva (2003) as atividades de extensão de 2000 foram registradas no livro usado no II Salão, contendo o resumo de 250 projetos. O referido Salão, com a temática Conhecimento e Mudança Social, visava refletir sobre o papel da universidade com a sociedade, preocupação fundamental de todos envolvidos com a extensão.

Na UFRGS, o órgão responsável pela extensão é a PROREXT, que desde 1976, ano de sua fundação, tem como atribuições:

 Formular diagnóstico das questões relativas à Extensão na Universidade;  Elaborar propostas de política de atuação em Extensão e coordenar as

atividades dos órgãos responsáveis pela sua execução;

 Coordenar programas de fomento, bolsas, intercâmbios e divulgação da Extensão;

 Estimular e articular as unidades acadêmicas para o desenvolvimento de atividades multi e interdisciplinares. 10

A PROREXT é responsável por estabelecer “relações sociais e culturais com diferentes segmentos da sociedade, compondo uma parte da grande tarefa educativa confiada à Universidade, a partir do processo formativo integral dos estudantes” (UFRGS/PROREXT, 2014). No diálogo com a comunidade, investiga subsídios que lhe permitam dar respostas permanentes às suas demandas e anseios, reiterando o compromisso social da instituição, como forma de inserção nas ações de promoção e garantia dos valores democráticos de igualdade, desenvolvimento social e inclusão.

A Pró-Reitora de Extensão da UFRGS, gestão 2012-2016, revela que a universidade já teve muitas conquistas em relação à extensão, exemplificando o crescimento dos programas de apoio e a inclusão de uma área dedicada à extensão no currículo Lattes. Ressalta que ainda há muito para avançar, exemplificando a implantação do Programa Josué de Castro11, que vem sendo engavetado e com

recursos mínimos e que os 10% dos créditos curriculares sejam constituídos por atividades de extensão.

E afirma:

Outro ponto importante para que a Extensão tenha o reconhecimento e prestígio que lhe corresponde é a aprovação de nossa proposta de Lei da Extensão, que ainda estamos buscando apoio político. Enfim, é necessário que a extensão universitária esteja no coração e no bolso dos dirigentes para que atinja os objetivos de constituir-se como atividades de formação e compromisso social. (RODRIGUES, 2012, p.10).

Em 2015, a UFRGS realizou seu XVI Salão de Extensão Universitária12,

integrado ao Salão UFRGS, que abordou a temática Redes Sociais: conexões que

transformam, visando à mostra, divulgação e integração das atividades promovidas

por extensionistas da Universidade, promovendo um ambiente de intercâmbio de experiências e conhecimento entre a comunidade acadêmica e parceiros da sociedade. O Salão contou com quatro modalidades: Mostra Interativa, Tertúlias, Minicursos e Encontro de Extensão. No caso das Tertúlias, foi possível a inscrição de trabalhos relativos às ações de extensão da UFRGS e, também de outras instituições de ensino superior do Estado. Houve a premiação de 10 Projetos Destaque na

10Pró-Reitoria de Extensão/UFRGS. Disponível em: http://www.ufrgs.br/prorext/prorext-1 11 Programa Josué de Castro/MEC. Disponível em:

http://www.prex.ufc.br/images/stories/arquivos/noticias2011/programa_josue_de_castro.pdf

modalidade Tertúlias, que receberam um tablet para utilização nas atividades do projeto, além de cada um dos Projetos Destaque figurar em reportagem especial na Revista da Extensão.

Os critérios para identificação dos Projetos Destaque foram: impacto social; impacto na formação do aluno; indissociabilidade e interdisciplinaridade; e avaliação holística.

Dentre outros eventos que a PROREXT aproxima a UFRGS à comunidade, podemos citar o evento Maré de Arte13, que desde 2012, realiza o encontro para

vivenciar a diversidade cultural no Litoral Norte do Estado, em Tramandaí. As experiências artísticas e culturais produzidas na Universidade e nas comunidades são difundidas em forma de oficinas temáticas, exposições e apresentações artísticas.

Figura 3 – UFRGS Criança 2014 – Porto Alegre/RS

Fonte: Acervo Museu da UFRGS