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A família Bracher 4.1.

No documento anacarolinagamaranomoreira (páginas 84-88)

O paulista Waldemar Bracher e a brasiliense Hermengarda se mudaram para Juiz de Fora junto com os quatro filhos mais velhos, oriundos da capital Belo Horizonte, em 1940. Com o objetivo de trabalhar no Curtume Krambeck, o patriarca estabeleceu sua família na rua Bernardo Mascarenhas, região Norte da cidade.

No ano de 1951, a família adquiriu a residência apalacetada localizada no centro da cidade. Como bem observou Araújo (1989, p.76), “num momento de sorte, Waldemar tinha conseguido comprar um palacete do começo do século, em estilo Castelinho, bem no alto de uma rua de onde se vê metade da cidade”.

Em 1952, mudou-se para o edifício o casal junto com os seus cinco filhos, do mais velho para o mais novo: Décio, Celina, Paulo, Nívea e Carlos. Sendo este último, o único juiz-forano da família.

Figura 54: Sr. Waldemar e sua esposa D. Hermengarda junto com os cinco filhos em 1946.

Fonte: Jornal Cultura-Hoje em dia. Belo Horizonte, janeiro 1996.

Waldemar (1910-1988) foi técnico em eletricidade, especialista em resolver problemas técnicos industriais. Como relatado por Décio Bracher ao Programa Mosaico (A FAMÍLIA BRACHER, 2013), seu pai tinha um talento nato para inventar novas máquinas. Waldemar se destacou em Juiz de Fora pelo pioneirismo na utilização do álcool e carvão vegetal nos caminhões e maquinários do Curtume Krambeck. Esse destaque fez com que ele fosse convidado para dar aulas na Faculdade de Engenharia da UFJF. Além disso, foi um dos sócios de uma empresa de fabricação artesanal de louça: a Louçarte – no capítulo seguinte é possível perceber a importância da empresa para a família Bracher.

Tal qual Senhor Waldemar, Dona Hermengarda (1911/2003) tinha grande apreço pela música, tocava piano e gostava de cantar. Em 1952, ela criou o Coral Cultural da Juventude, que adiante se tornaria o Coral da Universidade Federal de Juiz de Fora. Nívea Bracher afirmou em entrevista que sua mãe foi a grande incentivadora cultural da casa, uma vez que, ainda morando na rua Bernardo, abria as portas para as brincadeiras de salão e para comemorações, como a Páscoa (A FAMÍLIA BRACHER, 2013).

Décio Bracher (1932-2014), o primogênito da família, bacharelou-se em História e Geografia pela Faculdade de Filosofia e Letras de Juiz de Fora e cursou Arquitetura na Universidade Federal de Minas Gerais, UFMG. Homem de absoluta erudição (BRACHER L., 2016), elucidava questões políticas e econômicas, autor de projetos como o antigo prédio da Reitoria da Universidade Federal de Juiz de Fora, desenhava como maestria as lembranças do que tinha visto ou vivido em determinados lugares. Como afirma Lucas Bracher (2016), o arquiteto tinha um grande apreço pela cultura e passava o seu conhecimento de forma clara e humilde. Décio saiu de casa no início da década de 70, seguindo para o Rio de Janeiro, de onde retornou nos anos 2000, para cuidar de sua irmã Nívea, diagnosticada com câncer. Ele faleceu em janeiro de 2014, pouco tempo depois da sua irmã Nívea, sendo, então, o último morador do Castelinho dessa geração.

A segunda filha do casal Bracher é Celina Bracher (1934-1965). Ela pintou apenas cinco telas, que fazem parte do acervo familiar. Nívea conta que a irmã não pintava, mas “encantava” e era a “alma do grupo” de intelectuais e artistas que se reuniam para pintar (BRACHER N., 2011 apud VALVERDE, 2011). Emoção e comoção sempre fizeram parte da vida de Celina Bracher. Para Nívea (BRACHER, N., 2013) ser uma mulher como Celina na sociedade tradicionalista e machista da época era algo raro e autêntico. Em 1965, Celina faleceu de modo repentino e, para homenageá-la, os irmãos criaram a Galeria de Arte Celina Bracher.

Halbwachs (1990, p.99) sustenta a ideia de que no ato de pensar “cruzam-se, a cada momento ou em cada período de seu desenvolvimento [pensamento], muitas correntes que vão de uma consciência a outra, e das quais ele é o lugar de encontro”, é como se, ao mesmo tempo, surgissem emoções e significados opostos a partir da elaboração do pensamento. É possível perceber esse fato no discurso dos Bracher ao rememorar a breve vida da irmã. Para eles, falar sobre Celina traz à memória momentos muito alegres e confortantes, mas nota-se que discursar sobre ela ainda é muito doloroso para a família.

Paulo Bracher (1935) foi o único dos irmãos que não seguiu a arte como caminho profissional, aposentou-se como funcionário público. Apesar de ter se aventurado raras vezes em telas, Paulo herdou da mãe o gosto pela música, mais precisamente pelo canto. De 1976 até hoje, é integrante, tenor e presidente honorário do

Coral do Centro Cultural Pró-Música de Juiz de Fora. É o único filho do casal Bracher que reside em Juiz de Fora. Paulo se casou com Stella e tiveram quatro filhos, sendo dois deles os Bracher que cuidam hoje do Castelinho: Lucas e Cecília (mãe de Elisabeth).

Nívea Bracher (1939-2013) foi uma conceituada artista plástica de Juiz de Fora, pintou inúmeras telas que já fizeram parte de muitas exposições nacionais e foram premiadas. “Quando se vê Nívea empunhar pinces de raios ultravioleta a colorir o que se não tem cor é como se as águas afastassem novamente, ante a fúria do calado de Moises”., diz Décio Bracher (1992 apud BRACHER B., 2013), admirando a irmã. Ela se envolveu em inúmeros movimentos culturais na cidade, como o “Mascarenhas Meu Amor”, que mobilizou Juiz de Fora em prol da restauração do prédio da Companhia Têxtil Bernardo Mascarenhas e da cessão do espaço para atividades artísticas. Também se engajou na luta pela preservação do Cine-Theatro Central, protestou contra a demolição da Capela do Colégio Stella Matutina e da casa do Bispo (na Avenida rio Branco). A artista apoiou as campanhas em defesa do Museu Mariano Procópio e a implantação da Associação Cultural de Apoio ao Museu Mariano Procópio. Em 09 de dezembro de 2013, Nívea faleceu vítima de um câncer. Ela deixou sua marca em todos os cantos do Castelinho, sendo a grande responsável pela a maioria das intervenções realizadas nos espaços. Blima Bracher (2015) afirma que a tia era a grande guardiã da geração que originou o que se conhece como Castelinho dos Bracher.

O quinto e último filho do casal é o juiz-forano Carlos Bracher (1940). Ele começou a pintar vasos e pratos na fábrica de louças de seu pai aos 13 anos. Assim como os seus irmãos, frequentou a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras, em Juiz de Fora. Destacou-se no campo da pintura, tornando-se o artista brasileiro que mais expôs no exterior, realizando exposições individuais em galerias e museus de diversos países.

Figura 55: Os irmãos Bracher: Carlos, Nívea, Décio e Paulo, na entrada principal do Castelinho.

Fonte: acervo e levantamento de Blima Bracher.

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