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Do atelier anexo à Galeria Celina

No documento anacarolinagamaranomoreira (páginas 106-110)

Volumes Anexos 4.3.

4.3.1. Do atelier anexo à Galeria Celina

Em 1934, foi criado em Juiz de Fora um núcleo de artistas conhecido como Núcleo Antônio Parreiras, que originaria posteriormente a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras (SBAAP), em 1941. A importância dessa sociedade diz respeito ao movimento ligado à pintura, ao desenho e às artes visuais na cidade de Juiz de Fora. Os Artistas, como Silvio Aragão, Heitor de Alencar, Luiz Soranço, Américo Rodrigues, Marcos de Paula, Ângelo Bigi, Armando de Lima, Mário Paulo Tasca e Mário Vieira, dentre outros, se reuniam para aprender com os mestres de pinturas, para desenhar, analisar e discutir as suas obras. Alguns artistas da SBAAP participaram da Exposição da Arte em Comemoração ao Centenário de Juiz de Fora (1950) que acabou originando o Salão Oficial Municipal de Belas Artes. Essa sociedade contribuiu para a formação, aprimoramento intelectual e artístico na cidade (PEREIRA, C., 2015, 82-90).

No final da década de 40, a SBAAP passou por problemas com políticas internas e alguns dos artistas tradicionais romperam seus vínculos com o grupo. Na fase denominada de Hegemonia (1953-1963), a Sociedade congregou os artistas precedentes, além dos novos, que iniciavam a trajetória artística. Assim, de acordo com Cláudia Pereira (2015, p.92), ao admitir uma nova geração, a SBAAP contribuiu para a modernização da pintura em Juiz de Fora.

A nova geração da Sociedade foi composta por jovens artistas, sedentos de cultura, de eventos de arte e inconformados com a ausência de espaços culturais específicos para exposições em Juiz de Fora (PEREIRA, C. 2015, p.90). Os artistas Décio, Celina, Nívea e Carlos Bracher, juntamente com os amigos Renato Stehling, Dnar Rocha, Wandyr Ramos, Ruy Merheb, Reydner Gonçalves, Roberto Gil, Roberto Vieira e tantos outros, conformaram esse grupo que se destacou na Sociedade Antônio Parreiras, na década de 50.

No período em que os problemas com a situação política e financeira se agravavam, as aulas de pintura na SBAAP foram diminuindo e os artistas se reuniam na sede para realizar os seus trabalhos e para trocar conhecimentos entre si nas variadas temáticas intelectuais e artísticas. Os artistas pintavam juntos e, nos finais de semana, se dividiam em pequenos grupos para pintar ao ar livre as cenas da cidade (PEREIRA, C. 2015, p.91).

No final da década de 50, a família Bracher construiu um ateliê no Castelinho e o grupo passou a se reunir diariamente no lugar que deu espaço às conversas enriquecedoras e à intensa produção cultural.

Anteriormente, a Parreiras era um ponto de centralização dos artistas. Posteriormente, o Castelinho dos Bracher tornou-se um ateliê vivo, uma residência onde se respirava arte por todos os cômodos da casa, sempre de portas abertas às inovações. Tornou-se um centro aglutinador de ideais (PEREIRA C., 2015, p.93).

Segundo Nívea Bracher (apud VALVERDE, 2011), havia um sentido de grupo, de comunidade, na arte e no pensamento. Ela explicou: “a gente frequentava a Parreiras, (…), todos [os irmãos e os amigos] frequentavam lá e aqui. Então a nossa casa era extensão da Parreiras e a Parreiras era extensão da nossa casa (…)”.

Quando constroem um ateliê em casa, alteram rotas anteriores e um novo modo de usar o espaço do Castelinho se forma:

A gente se frequentava muito na Parreiras e pintávamos. Aqui no Castelinho ficava tudo entulhado... Pintávamos na Parreiras e aqui. Aí nós construímos um ateliê ali fora e então o Dnar falou... Ihh, agora isso vai esvaziar a Parreiras! De certa maneira, depois que fizemos este ateliê, o pessoal veio muito mais aqui. Nós pintávamos, conversávamos e ninguém ensinava ninguém (BRACHER, N., 2010 apud PEREIRA, C., 2015, 95).

Esse ateliê, um anexo criado no terreno, foi o precursor da Galeria de Arte Celina, pois nele foram organizadas, de forma improvisada, desde atividades de produção artística até exposição de obras. Em 1965, Celina Bracher faleceu (aos 30 anos de idade) e em sua homenagem, “a alma da casa” (PEREIRA, C., 2015, 219), os irmãos decidiram criar um espaço artístico com o seu nome. Assim, ao somar a necessidade de um espaço permanente para as artes e a vontade de homenagear Celina, criou-se na galeria Pio X a Galeria de Arte Celina. Isso só foi possível através do incansável trabalho de Décio, Paulo, Nívea e Carlos, juntamente com a dedicação de seus pais e amigos.

A Galeria de Arte Celina também surgiu da necessidade de espaço [para expor as obras]. Uma coisa é fazer os seus quadros para expor e outra coisa era fazer além da montagem da exposição à estruturação do próprio espaço para expor. Então todo ano a gente montava uma galeria de arte. Pensamos em montar um espaço permanente para receber as exposições que a gente quisesse. E não se sabia aonde. O Décio se lembrou de um espaço que o papai tinha na galeria PIO X. (BRACHER, N., 2011 apud VALVERDE, 2011).

Ao analisar o surgimento da GAC, a pesquisadora Cláudia Pereira (2015, p.79) apresenta um elo da trajetória que se inicia com a Sociedade de Belas Artes Antônio Parreiras e culmina na Galeria de Arte Celina. Para ela, Décio Bracher representa essa movimentação artística de forma clara e evidente. O artista vivenciou o aprendizado na SBAAP desde os 11 anos de idade e percorreu o percurso até a criação da GAC, “sempre reverenciando e admirando o aprendizado e fundamentação de seus antigos mestres” (PEREIRA, C., 2015, 79).

Ele pode estabelecer esta ponte para a compreensão da atmosfera cultural da cidade, um pouco do ambiente interno da SBAAP e a dimensão de sentido artístico que unificou de certa forma um grupo ao Castelinho dos Bracher para depois culminar na concretização da Galeria de Arte Celina.

A Galeria de Arte Celina tornou-se marco cultural para Juiz de Fora, fundada em 18 de dezembro de 1965 pela família Bracher. Os irmãos artistas com o apoio de seus pais Waldemar e Hermengarda inauguraram a primeira Galeria de Arte da região. Considerada uma entidade cultural de divulgação das artes plásticas, cinema, teatro, música e literatura, foi reconhecida como Utilidade Pública no Estado, conforme Lei n.º 4 497/67, no Município, sob a Lei n.º 2 633/66 e registrada no Conselho Nacional de Serviço Social, sob o n.º 7 042/67.

5. Materialidade e memória no Castelinho dos Bracher

O caminho percorrido do portão de entrada no pé da rua até a porta de madeira sob o alpendre tem como destino a segunda parte do que é o Castelinho dos Bracher, quando analisado de forma binária. Essa segunda parte, de grande relevância, refere-se ao interior da edificação e cada espaço interno do edifício fez com que ele se tornasse o lugar dos Bracher. Está também atrás da porta de madeira a reunião de objetos e intervenções ricos em significado e memórias.

A casa, como o fogo, como a água, nos permitirá evocar (...), luzes fugídias de devaneio que iluminam a síntese do imemorial com a lembrança. Nessa região longínqua, memória e imaginação não se deixam dissociar, ambas trabalham para o seu aprofundamento mútuo, ambas constituem, na ordem dos valores, uma união da lembrança com a imagem. Assim, a casa não vive somente o dia-a-dia, no fio de uma história, na narrativa de nossa história. Pelos sonhos, as diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam os tesouros dos dias antigos. (...) as lembranças do mundo exterior nunca terão a mesma tonalidade das lembranças da casa... Evocando as lembranças da casa, acrescentamos valores de sonho; nunca somos verdadeiros historiadores, somos sempre um pouco poetas e nossa emoção traduz apenas, quem sabe, a poesia perdida (BACHELARD, 1978, p.201).

Cabe aqui ressaltar que na descrição de cada espaço da casa foram destacados os pontos mais importantes para os Bracher, dado que cada um deles apresenta a marca da família de forma individual e, quando analisados juntos, conformam o grande espaço “Castelinho dos Bracher”.

A Sala – Primeiro Pavimento

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