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CAPÍTULO 4 ALTAS HABILIDADES

10. A Família dos Estudantes com Altas Habilidades

Escutar a família dos estudantes foi outro momento importante nessa pesquisa, pois possibilitou compreendermos o significado desses participantes, atribuído à questão das altas habilidades e à prática pedagógica vivenciada no NAAH/S. Os sujeitos que compõem o grupo de robótica totalizam sete estudantes, porém quatro familiares responderam ao questionário, mais especificamente as mães dos estudantes. Constaram do questionário quatro temas abertos (Apêndice B), onde arguimos os seguintes pontos: 1. Percepção da família diante do filho com altas habilidades; 2. Reação diante das dificuldades escolares; 3. A escola e o desenvolvimento da aprendizagem; e 4. A prática pedagógica do NAAH/S na percepção da família.

Para a identificação das famílias envolvidas nessa pesquisa, utilizamos a letra “F” de família e a numeração de 1 a 4, uma vez que responderam ao questionário quatro familiares.

10.1. Percepção da família diante do filho com altas habilidades

Sobre essa temática, vejamos o que pensa a família:

Um garoto muito esforçado e desafiador sempre tentando concluir seus objetivos (F1). Percebo que ele é um adolescente com muitos sonhos e busca conhecimentos o tempo todo. Não vive muitas coisas que outros meninos vivem na idade dele, não é muito sociável, mas é um bom filho (F2).

Uma criança tranquila. Tem sede de conhecimentos (F3).

A família narra que interagir e construir com o conhecimento é uma atividade cotidiana dos filhos. A família F1 ressalta o enfrentamento dos desafios e a conclusão dos objetivos. Chamamos a atenção para o relato da família F2 sobre uma vida social limitada e o interesse contrário às atividades comuns à sua faixa etária.

Diante de algumas demandas acadêmicas, o estudante com altas habilidades demonstra comportamentos egoístas e solitários. Segundo Ligiéro & Rivera (2006, p.123), esses comportamentos se instalam “porque seus mecanismos de aprendizagem diferem daqueles de seu grupo etário. Também há alunos que têm habilidades de interação social e liderança muito desenvolvidas”. Nessas circunstâncias, compreendemos que nem todos que se caracterizam como estudantes com altas habilidades tornam-se adultos produtivos (ALENCAR, 2001). Assim, faz-se relevante a promoção de situações de aprendizagem enriquecedoras que favoreçam o desenvolvimento de seu potencial.

Corrêa, Siqueira e Silveira (2006 p.215) ainda aduzem que “não atender crianças com altas habilidades pode ser trágico para a sociedade, privando-a, quem sabe, de grandes e benéficos inventos”.

10.2. Reação diante das dificuldades

Apropriados de uma leitura das percepções das famílias sobre o filho com altas habilidades, sentimos necessidade também de investigar como esses estudantes reagem diante das dificuldades escolares. Assim, o que dizem as narrativas?

Com muita garra, ele nunca deixou suas atividades pela metade (F1).

Ele nunca apresentou dificuldade pedagógica na escola; pelo contrário, se destaca sempre (F3).

Às vezes, enfrenta, outras vezes foge ou fica desmotivado (F2).

Vê-se que a família F1 aponta a presença de um comportamento resiliente ao enfrentamento das dificuldades, enquanto a família F2 narra a desmotivação como um entrave à superação das dificuldades. A indisposição para lidar com as dificuldades emerge da falta de vínculo afetivo com o conhecimento e das primeiras experiências de aprendizagem construídas na família e na escola.

Nesse cenário de dificuldades escolares, Sabatella (2005) preconiza que o alcance da excelência na aprendizagem está sempre condicionado às oportunidades e à qualidade do que está sendo oferecido ao estudante.

10.3. A escola e o desenvolvimento da aprendizagem

Conhecer a percepção da família sobre a escola contribuiu para investigarmos a atuação dessa instituição na aprendizagem dos estudantes com altas habilidades. A escola, de fato, atende a necessidade desse público de alunos? O que as narrativas das famílias revelam?

Muito pouco, o trabalho é muito precário (F1).

Acho ela tradicional, não investe nos alunos, quer quantidade, não qualidade (F2). Ao falarem sobre a escola, as narrativas denunciam um sentimento de insatisfação diante do trabalho desenvolvido com os estudantes. A sensação é de falta de investimento e de um olhar mais focado para as potencialidades. Em conversas realizadas com a família, destacamos ainda o seguinte relato: “eu vejo meu filho muito inteligente; a minha tristeza é que a escola ainda não percebeu isso e não o ajuda a crescer no conhecimento”.

Constata-se, assim, um abandono e um descaso com esse público de estudantes. Na visão de Serra (2005, p.78), os alunos com altas habilidades “vêem a escola não como um lugar proporcionador de atividades significativas, mas sim como espaço de grande tristeza e frustração”.

10.4. A prática pedagógica do NAAH/S na percepção da família

Considerando as limitações da escola em oferecer um trabalho focado nas potencialidades do estudante com altas habilidades, esses alunos são encaminhados para o NAAH/S com o propósito de que suas necessidades educacionais sejam atendidas e exploradas, conforme suas habilidades e seus interesses nas diversas áreas do conhecimento. Porém, o que pensam as famílias sobre o NAAH/S? Essa instituição atende às necessidades dos estudantes? Sobre essa temática, vejamos o que as famílias revelaram:

Sim, foi uma das melhores coisas que aconteceram. Meu filho adora inventar, investir em coisas novas (F4).

Bastante. Ele descobriu muito com o NAAH/S. E agora abriu o seu horizonte para a tecnologia, a qual ele está se dedicando bastante (F1).

Muito, não só as dele, mas de outras crianças com quem ele convive. Ele consegue passar suas ideias e suas vivências com bastante entusiasmo (F2).

Contribui sim, porque ele adora robótica. A ajuda do NAAH/S está sendo fundamental para o crescimento dele em todas as disciplinas (F3).

Constata-se que, na visão da família, a prática pedagógica do NAAH/S contribui para o desenvolvimento dos estudantes. Interpreta-se ainda que, para a família, esse espaço é uma alternativa para o enriquecimento da aprendizagem intelectual, social e emocional. Essa ideia pode ser conferida no relato da família F2 sobre o desenvolvimento do filho: “ele consegue passar suas ideias, suas vivências com bastante entusiasmo”. Essa narrativa nos chama a atenção, pois carrega um significado do valor atribuído ao conhecimento e um sentimento de pertença no grupo. De fato, o entusiasmo de estar no grupo e produzindo nesse grupo foi constatado pela pesquisadora nos momentos de observação. A sensação dos estudantes revelava a presença de uma auto- estima e um reconhecimento de que seus talentos estavam sendo trabalhados e valorizados nesse grupo.

Seguindo essa sequência de análise, apresentaremos, a seguir, o que os documentos revelam acerca dos estudantes com altas habilidades.

11. ANÁLISE DOS DOCUMENTOS: O QUE OS DOCUMENTOS DIZEM