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2. A reestruturação do capitalismo no Brasil

4.1. A FIERGS e o processo de formação de classe da

Durante a década de 1990, a FIERGS continuou atuando como uma “elite orgânica” da burguesia industrial no Rio Grande do Sul. Interessante destacar, nesse sentido, que entre suas lideranças tornou-se cada vez mais hegemônica a visão segundo a qual a entidade deveria ter uma ação política mais ativa.

Durante a década de 1980, ainda era possível identificar divergências entre as lideranças da FIERGS quanto ao seu papel histórico e suas formas de atuação política. Para algumas lideranças, a entidade deveria limitar sua atuação na defesa dos interesses econômicos e corporativos da indústria gaúcha, sem se aventurar muito na articulação política da classe e, mais do que isso, em lutas sociais e

409 René DREIFUSS, A internacional capitalista: estratégias e táticas do empresariado transnacional (1918 – 1986), p. 23.

políticas de defesa de seus interesses de classe num contexto de democratização da sociedade brasileira.411 Contudo, já a partir da segunda metade da década de 1980, num contexto histórico crescentemente conflituoso, tornou-se cada vez hegemônica entre suas lideranças a perspectiva de atuação política que ressaltava a organização consciente, capaz de possibilitar uma participação ativa e direta da entidade no processo histórico

... Temos que participar e achar caminhos competentes, não para defender os interesses dos empresários, mas os da sociedade. Nós queremos um país justo, desenvolvido e livre. O que precisamos para isso? Devemos ter um estado cumprindo seu papel, pois, afinal, o responsável pela miséria é o empresário ou o estado, que arrecada pelos impostos uma grande parcela da produção e a joga no lixo? O empresário precisa mostrar que ideal é aquele que obtém de sua empresa a maior quantidade de lucro, por que isso é bom para o país. Tem que mostrar ao trabalhador que é aí que ele vai ganhar, com os lucros sendo reinvestidos na produção – e isso possibilitará que o miserável deixe de ser miserável. Temos que conscientizar o empresário deste pensamento moderno jamais se envergonhar do lucro que tem, sobretudo quando é fruto da capacidade de organizar, produzir bens e, com eles, acabar com a miséria. Eu me orgulho do lucro que tenho, e sei que, aplicado na produção, é o caminho da redenção da classe trabalhadora.412

... é necessário que o empresário tome consciência de que precisa também ampliar a sua participação na comunidade, fora da empresa. É preciso participar das entidades, das instituições e da política. Neste aspecto os trabalhadores s anteciparam e estão extremamente organizados para atuar politicamente. Precisamos pensar em uma atuação política mais permanente e eficaz. Temos que mostrar para a sociedade que o empresário não é alguém apenas interessado na sua empresa e nos seus lucros, mas sim alguém que acredita no país, corre

411 Denise GROS, A atuação política do empresariado industrial gaúcho nos anos 80. 412 Industrial Luiz Roberto Ponte, diretor do sistema FIERGS\CIERGS nas duas gestões de Luiz Carlos Mandelli (1987 – 1993) e deputado Constituinte pelo Rio Grande do Sul. Revista

riscos, cirando emprego e contribuindo para o desenvolvimento econômico e social...413

Como em qualquer processo de mudança é necessário que as lideranças assumam as suas responsabilidades (...). Embora este governo tenha seus defeitos e cometa erros como tantos outros, acho que deve ser apoiado decisivamente em todas as propostas e decisões que tenham como objetivo modernizar a sociedade. É claro que não podemos perder a visão crítica e a noção de que sugerir e divergir também faz parte do processo. E neste sentido eu creio que as entidades de representação empresarial têm procurado cumprir com este papel. A FIERGS e o CIERGS, por exemplo, realizaram um trabalho sobre política salarial que foi entregue ao governo e se tornou um importante instrumento na elaboração da idéia da livre negociação. Estivemos, como CNI, junto com todos os presidentes de Federações de Indústrias do País, com a ministra Zélia, onde foram colocadas claramente nossas inquietações com relação ao tamanho da recessão que o governo estava pretendendo provocar para combater a inflação. E, mais recentemente, estive com a ministra, levando sugestões dos empresários gaúchos no sentido de contribuir com novas definições governamentais. Mas o fato de estarmos conversando com o governo não significa que não tenhamos a plena noção de que nossa atuação mais importante é no sentido de mudar a mentalidade de muitos de nossos empresários, mostrando que o caminho é o da competição e que, quem quiser andar por ele, vai precisar de competência.414

Durante a década de 1990, as lideranças que já durante a década de 1980 defendiam uma atuação política ativa da FIERGS na defesa dos interesses de classe da burguesia industrial no Rio Grande do Sul mantiveram-se à frente da entidade. Interessante notar, nesse sentido, que as eleições que ocorreram durante aquela década visando escolher as diretorias do sistema FIERGS/CIERGS, com afirmado anteriormente,

413 Gilberto Mosmann, Secretário da Indústria e Comércio no Rio Grande do Sul no governo de Pedro Simon (1987 – 1990) e diretor do sistema FIERGS\CIERGS na gestão de Luiz Carlos Mandelli (1987 – 1990). Revista Amanhã, dezembro de 1989.

414 Industrial Luiz Carlos Mandelli, presidente da FIERGS no período entre 1987 - 1993. Revista Amanhã, julho de 1990.

tiveram “chapa única”; ou seja, não houve disputa política pela direção da entidade e, além disso, entre os membros das diretorias observou-se continuidade, com agregação de novas lideranças (ver Anexos 03, 04 e 05).

As duas gestões do industrial Dagoberto Lima Godoy (1993 – 1996 – 1999) tiveram, portanto e nesse sentido, um grande significado político. A seguinte passagem, de autoria de Dagoberto Lima Godoy, retirada de um texto introdutório ao segundo volume do livro A

reindustrialização do Rio Grande do Sul, cuja edição teve como

objetivo tornar públicas as ações e as idéias da FIERGS durante as suas duas gestões, é ilustrativa:

Na democracia, uma entidade representativa de um segmento social (...) só ganhará espaço e força perante a sociedade como um todo, na medida em que souber enquadrar os interesses setoriais que defende na moldura maior do interesse coletivo. E, mais, se conseguir passar à opinião pública esta imagem de desprendimento e solidarismo.

Assim, a associação empresarial mais ambiciosa vai obrigatoriamente alargar seu campo de atuação para além das questões específicas de seu setor, ultrapassando os limites da economia para incursionar no domínio da política, ou seja, da busca do bem comum. E os seus líderes, homens (e mulheres) de ação, são desafiados a aventurar-se no mundo das idéias, única forma efetiva de influenciar democraticamente o desenho de uma sociedade aberta à livre iniciativa e ao empreendedorismo, imprescindíveis à atividade empresarial e ao desenvolvimento econômico sustentável.415

Evidentemente, e coerente com essa perspectiva de atuação política dos “empresários”, ao longo da década de 1990 as lideranças da FIERGS procuraram colocar a entidade como um espaço político de definição de objetivos estratégicos e táticos vinculados aos interesses da indústria sul-rio-grandense, mas, também, de operacionalização desses objetivos, procurando viabilizar uma prática de classe para que os mesmos encontrassem legitimidade (na sociedade civil, mas,

415 Industrial Dagoberto Lima Godoy, presidente da FIERGS (1993 - 1999). FIERGS, A reindustrialização do Rio Grande do Sul, vol. II, p. 7.

principalmente, junto às autoridades governamentais) e operacionalidade nas instâncias de decisão estatal (tanto em nível subnacional quanto em nível nacional).

Um aspecto importante nessa “instrumentalização” da FIERGS no processo de formação de classe da burguesia industrial no Rio Grande do Sul está relacionado à estrutura organizativa da entidade. Já na década de 1980, aliás, as lideranças da FIERGS promoveram uma “modernização” em sua estrutura organizacional, com a criação de Conselhos Temáticos e de Comissões Setoriais que envolviam diretamente (na gestão política da entidade) mais de duzentos e cinqüenta lideranças industriais, representando todas as regiões do estado gaúcho e todos os setores da indústria sul-rio-grandense.416 naquela década, portanto, a entidade mobilizava uma ampla

intelligentsia, formada não somente por lideranças industriais, mas,

também, por funcionários, técnicos e acadêmicos (contratados como assalariados ou, então, prestando assessorias) para dar operacionalidade às atividades e aos objetivos dos diferentes conselhos e das diferentes comissões que formavam sua estrutura de funcionamento.

Durante a década de 1990, essa estrutura organizacional manteve- se e foi aperfeiçoada. Esse aperfeiçoamento pode ser acompanhado através das mudanças promovidas durante as duas gestões de Dagoberto Lima Godoy (1993 – 1999).

Em 1993, quando aquele industrial assumiu a presidência, a entidade possuía onze (11) Conselhos Temáticos e nove (09) Comissões Setoriais. Eram os seguintes os Conselhos Temáticos: CODRI – Conselho de Desenvolvimento Regional e Infra-Estrutura; CONSEC – Conselho de Economia; CONTRAB – Conselho de Relações de Trabalho; CONCEX – Conselho de Comércio Exterior; COMPET – Conselho de Competitividade; CODEMA – Conselho de Desenvolvimento e Meio Ambiente; CONAGRO – Conselho de Agricultura; COPISC – Conselho de Programas de Interesse Social e Cidadania; COPPEMI – Conselho para Pequenas e Médias Indústrias; PRESI – Conselho de Política Empresarial; CONSULT – Conselho Consultivo. Quanto às Comissões, eram as seguintes: DITEC – Divisão de Assuntos Tributários e Legais; COMPETRO – Comissão de Petroquímica; COMINF – Comissão de Informática; QUADRO SOCIAL – Comissão de Quadro Social e Eventos; CITEC – Comissão de Informação Tecnológica; REVICON – Comissão de

416 Marco André CADONÁ, Dos bastidores ao centro do palco: a atuação política da burguesia industrial gaúcha no processo de redemocratização, p. 66.

Acompanhamento da Revisão Constitucional; COAP – Comissão para Assuntos do MERCOSUL; ARTICULAÇÃO – Coordenadoria de Articulação com Entidades do Interior (Ver Anexo 04).

Durante a segunda gestão de Dagoberto Lima Godoy (1996- 1999), a estrutura interna da FIERGS passou a compreender 23 organismos, entre conselhos, comissões, coordenadorias e divisões (Anexo 04). No topo dessa estrutura, foi inaugurada uma instância “ministerial” (assim denominada pela própria entidade), com nove “pastas” controladas cada uma delas por um vice-presidente do sistema FIERGS/CIERGS. Eram as seguintes as “pastas ministeriais”: 1 –

Administração e Finanças – responsável pela elaboração do orçamento

do sistema FIERGS/CIERGS; 2 – Área Técnica – encarregada pela coordenação da estrutura temática da entidade; 3 – Engenharia e

Expansão – responsável pela supervisão dos projetos de manutenção e

ampliação da sede do sistema FIERGS/CIERGS; 4 – CECON – Centro

de Convenções – encarregado pela administração do complexo do

Centro de Convenções, Teatro do SESI, o quadro social e os eventos; 5

– Relações Políticas – responsável pela articulação política (“de

natureza estratégica”) junto ao estado e à sociedade civil; 6 –

Capacitação de Novos Investimentos – encarregada em dar suporte a

novos investimentos no Estado gaúcho; 7 – Identificação de

Oportunidades – encarregada de prospectar novos negócios para o Rio

Grande do Sul; 8 – SESI/RS – ocupado com a “qualidade de vida dos industriários e de suas famílias”; 9 – SENAI/RS – cujas atividades estão voltadas à “qualificação de recursos humanos e desenvolvimento tecnológico”.417

Todas essas “pastas ministeriais” eram, como afirmado, coordenadas pelos vice-presidentes do sistema FIERGS/CIERGS que, juntamente com o presidente da entidade, formavam um Conselho, denominado “Presi”, onde eram discutidas “as políticas estratégicas da Federação em reuniões periódicas apoiadas por uma estrutura de secretaria executiva”.418

Como instância de apoio, o “ministério” da FIERGS contava com a atuação de 15 conselhos, responsáveis pela produção de estudos e pela sustentação (teórica, técnica, político e, mesmo, ideológica) dos posicionamentos tirados nas reuniões das diretorias do sistema FIERGS/CIERGS. Eram os seguintes os Conselhos: Conselho de

417 FIERGS, A reindustrialização do Rio Grande do Sul: a gestão de Dagoberto Lima Godoy na FIERGS (1993 - 1996 - 1999) - ações e idéias I, p. 80.

Economia – CONSEC – que, entre 1996 e 1999, atuou em “análises de

conjuntura econômica”, na “elaboração de indicadores” e na edição da revista Súmula Econômica; Conselho de Assuntos Técnicos,

Tributários e Legais – CONTEC – responsável por estudos sobre

tributação (estadual e federal), incentivos fiscais e reforma tributária;

Conselho de Relações do Trabalho – CONTRAB – cujas funções

centrais estavam vinculadas à reforma da legislação trabalhista, à questão da participação dos empregados nos lucros e resultados das empresas e na defesa da indústria perante a Justiça do Trabalho”;

Conselho do Comércio Exterior – CONCEX – cujas atividades

estiveram relacionadas aos negócios internacionais (missões empresariais ao exterior, seminários e cursos de formação voltados aos negócios internacionais etc.), à emissão de Certificados de Origem de produtos industriais gaúchos, ao MERCOSUL (Mercado Comum do Sul) e à ALCA (Área de Livre Comércio); Conselho de infra-estrutura

– COINFRA – cujas atividades estiveram vinculadas, especialmente, às

discussões sobre energia elétrica e transportes no Rio Grande do Sul. Esse conselho criou “o Plano de Eficiência Energética”, em parceria com universidades e concessionárias do setor energético, visando “racionalizar a utilização de energia elétrica nas indústrias gaúchas”;

Conselho de Competitividade – COMPET – com funções

direcionadas à capacitação tecnológica das indústrias gaúchas e a uma maior competitividade destas; Conselho de Promoção da Pequena e

Média Indústria – COPPEMI – preocupado em articular os interesses

das pequenas e médias indústrias junto ao estado e em elaborar uma legislação relativa às micro e pequenas empresas; Conselho de

Desenvolvimento do Meio Ambiente – CODEMA – preocupado com

a sustentação técnica da entidade em assuntos vinculados ao meio ambiente; Conselho de Programas de Interesse Social e Cidadania –

COPISC – que “atua junto ao Sesi/RS no desenvolvimento de projetos

de solidariedade e de valorização do civismo, além de ter elaborado o primeiro Retrato Social do Industrial Gaúcho”; Conselho da

Agroindústria – CONAGRO – responsável pela “articulação dos

interesses entre os setores primário e secundário”; Comissão de

Informática – COMINF – encarregada pela informatização do sistema

FIERGS/CIERGS e que, durante a segunda gestão do industrial Dagoberto Lima Godoy, deu origem ao “Núcleo de Inteligência Competitiva da FIERGS”; Comissão do Quadro Social, cujas funções estão relacionadas com a captação de novos sócios para o CIERGS e com a promoção institucional da indústria gaúcha; Comissão de

uma estrutura de marketing” na FIERGS, assessorando, ainda, a entidade em suas participações em exposições (nacionais e/ou internacionais); Coordenadoria de Articulação com Entidades do

Interior – CAEI – “responsável pelo trabalho de intermediação da

FIERGS e pela manutenção de uma rede de associações, Câmaras e Centros de Comércio e Indústria em todo o Rio Grande do Sul”.

Além desses Conselhos e Comissões, a FIERGS passou a contar, a partir da segunda metade da década de 1990, com outras instâncias de assessoria e acompanhamento. Em novembro de 1997, foi constituído o “Grupo da Construção Civil”, inserido no esforço da entidade em atuar sobre as cadeias produtivas em que se insere a indústria gaúcha, tornando-as mais competitivas. Em 1998, quando o Rio Grande do Sul discutia a vinda de montadoras de veículos para o estado, a FIERGS criou o Instituto Gaúcho de Estudos Automotivos (IGEA). Foi criado, também, o “Grupo de Comunicação e Marketing”, com a função de “aferir a imagem construída pela entidade diante dos chamados ‘formadores de opinião’ externos”. Em junho de 1998, a entidade criou a área denominada “Pró-Memória”, com o objetivo de “resgatar a trajetória do sistema junto à sociedade civil” e que publicou, entre outras atividades realizadas, o livro A reindustrialização do Rio Grande do Sul. Ainda em 1995, a entidade criou o “Centro FIERGS de Competitividade”, resultado de sua preocupação com uma maior competitividade da indústria gaúcha para a disputa de mercados (interno e externo). A partir de 1998, a entidade passou a contar com o “Núcleo de Inteligência Competitiva”, com o objetivo de “oferecer informações atualizadas e acompanhamento permanente sobre a competitividade da indústria rio-grandense”. Também em 1998, a FIERGS criou uma nova representação oficial (escritório de negócios) nos Estados Unidos, somando-se aos escritórios naquela época já existentes na Europa.419 Somava-se a essa estrutura, ainda, um conjunto de parcerias do sistema FIERGS/CIERGS com entidades externas ou do próprio sistema: o Balcão SEBRAE, a Rede Metrológica, o Programa Gaúcho de Design e Pró-Design, o Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade.420

Como afirma Dreifuss, poder significa a capacidade de exercer uma ação política de forma ininterrupta, “num movimento de pinças,

419 Esses escritórios tinham como função oferecer às indústrias gaúchas informações sobre investimentos internacionais e às indústrias estrangeiras informações sobre as potencialidades da economia gaúcha.

420 FIERGS, A reindustrialização do Rio Grande do Sul: a gestão de Dagoberto Lima Godoy na FIERGS (1993 - 1996 - 1999) - ações e idéias I, p. 83-5.

envolvente, político-ideológico, sempre reproduzindo e ampliando as bases de atuação para conquistar, salvaguardar e consolidar posições”.421 Com a estrutura organizacional montada, a FIERGS dispunha de mais de duas centenas de “intelectuais orgânicos” (entre técnicos e lideranças industriais), diariamente empenhados em tornar eficaz a ação política da entidade, dotando suas lideranças de informações, estudos, análises, documentos, estratégias de ação, organização e, portanto, instrumentalizando a entidade para uma ação premeditada e com intencionalidade planejada. No início da década de 1990, o industrial Luiz Carlos Mandelli, ao assumir a segunda gestão na FIERGS, apontava a importância da estrutura organizacional da entidade:

... Eu tive oportunidade de referir no meu discurso de posse algumas realizações e novas iniciativas das entidades que vou ter a honra de continuar presidindo. O Senai, por exemplo, tem hoje 90 mil matrículas, ou seja, 90 mil jovens recebem preparo e treinamento para atuar nas nossas indústrias. Para se ter uma idéia da eficiência desta ação educativa, o Senai conta com 997 empregados, o que resulta numa relação de 90 alunos por funcionário, índice que desafia nosso sistema de ensino oficial. (...). Além disso, a Federação, na sua estrutura normal de funcionamento, já opera com alguns conselhos e comissões que são extremamente importantes nesta tarefa de influir na mudança de nossos empresários e empresas.

Temos o Conselho de Meio Ambiente, que já realizou um trabalho de conscientização junto ao nosso público interno no sentido da importância de aperfeiçoarmos o conceito de que desenvolvimento e preservação não são idéias que se opõem (...). Temos o Conselho de Economia, formado com a participação de companheiros e técnicos convidados, que em suas reuniões periódicas faz importantes análises conjunturais e orienta, com suas conclusões, as decisões do empresariado. O Conselho de Relações de Trabalho, que tem um papel extremamente importante neste momento em que estão sendo estabelecidas novas formas de relacionamento entre trabalhadores e empresas, como a livre negociação salarial, a participação dos empregados nos lucros das empresas, a co-gestão e assim por diante. O Conselho do Comércio Exterior tem sua atuação voltada para a

421 René DREIFUSS, A internacional capitalista: estratégias e táticas do empresariado transnacional (1918 – 1986), p. 22.

internacionalização das nossas relações, facilitando as atividades exportadoras e importadoras e aproximando nossas empresas e produtos dos mercados lá fora, ao mesmo tempo em que nos apresenta como mercado potencial para produtos estrangeiros. Além disso, há o Conselho de Pequena e Média Empresa, a Comissão de Energia. E agora estamos criando um novo e importante conselho, que terá exatamente a função de influir na mudança da mentalidade do empresariado como um todo, que é o Conselho de Competitividade.

Este conselho vai significar na prática a síntese de todo o trabalho de conscientização que pretendemos desenvolver junto ao empresariado e empresas, e se possível junto a toda a sociedade, incluindo até as áreas de governo. Ele está sendo formado com a participação de lideranças empresariais de peso que representam empreendimentos que se destacam exatamente pelo seu grau de competitividade. Pretendemos com este conselho criar iniciativas que transformem radicalmente a idéia de produção industrial, qualidade de produto, treinamento e

aperfeiçoamento de mão-de-obra, adequação

tecnológica, marketing e vendas, enfim, todos os procedimentos que podem e devem tornar nossas indústrias mais modernas e competitivas. Pretendemos com este conselho, para a realização do qual integraremos em um esforço conjunto nossas diretorias e todos os conselhos, comissões e entidades do sistema, mapear uma política industrial para o Rio Grande do Sul.422

Os dirigentes da FIERGS, portanto, desde a segunda metade da década de 1980, vinham preparando a entidade para uma atuação política mais intensa, colocando-a como porta-voz da burguesia industrial no Rio Grande do Sul não somente na defesa de seus interesses de classe nos momentos de decisão das políticas estatais (em nível federal e estadual), mas, também, na articulação de um projeto de

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