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Parte I – ESTADO DA ARTE/ENQUADRAMENTO TEÓRICO

Capítulo 3 – A utilização das TIC na Educação

3.3. A figura do professor bibliotecário

A portaria n.º 756/2009, de 14 de julho, veio criar a função oficial de professor bibliotecário, docente com formação específica ou especializada na área das ciências documentais e/ou da informação. Este é responsável pelo planeamento e pela gestão da BE e conta com o apoio de uma equipa de docentes que também devem possuir, preferencialmente, formação nesta área específica; deve trabalhar em articulação com todos os membros da comunidade escolar e em estreita ligação com a biblioteca pública.

As funções dos professores bibliotecários variam conforme o orçamento disponível, a natureza da sua formação e as metodologias de ensino utilizadas pelos docentes, de acordo com os normativos legais em vigor. Existem, não obstante, quatro grandes áreas de conhecimento que devem ser desenvolvidas pelos professores bibliotecários: gestão de recursos, de bibliotecas, de informação e de ensino.

De acordo com a legislação atualmente em vigor, espera-se que professor bibliotecário, apoiado pela equipa da biblioteca escolar, consiga gerir a(s) biblioteca(s) da escola não agrupada ou do conjunto das bibliotecas das escolas do agrupamento. A sua equipa de trabalho deve ser constituída por docentes que disponham de competências nos domínios pedagógico, de gestão de projetos e/ou de informação, das ciências documentais e das TIC, e que, em conjunto, promovam a articulação das atividades da biblioteca com os objetivos do projeto educativo, do projeto curricular de agrupamento/escola e dos projetos curriculares de turma. Espera-se ainda que o professor bibliotecário desenvolva parcerias com entidades da comunidade local, que apoie atividades livres e que implemente processos de avaliação. A obrigatoriedade da formação contínua, em BE ou em TIC, é igualmente um fator primordial, devendo o professor bibliotecário estar a par da evolução dos recursos tecnológicos, no

sentido de poder planear e ensinar distintas habilidades no tratamento da informação tanto a professores como a alunos (Manifesto da IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Escolares, 1999).

Sendo certo que a formação técnica específica na área das bibliotecas é essencial para o adequado desempenho da função de professor bibliotecário, este é, acima e tudo, um professor como qualquer outro, sujeito às mesmas exigências a nível de flexibilidade e capacidade de adaptação. Deste modo, espera-se que estes profissionais, na qualidade de “catalisadores das sociedades do conhecimento” (Hargreaves, 2003, p.45), se atualizem permanentemente, numa ótica de aprendizagem ao longo da vida, determinada à partida pela sociedade de informação que vai exigindo, progressivamente, respostas mais céleres e eficazes. As escolas e respetivos profissionais devem adaptar-se às mudanças, através de uma atualização constante, pois só assim conseguirão manter e estimular o interesse dos alunos (Hargreaves, 2003).

O papel da biblioteca escolar é cada vez maior no processo de ensino-aprendizagem dos alunos, o qual se centra essencialmente no “aprender a aprender” e, consequentemente, no desenvolvimento da autonomia, uma vez que dispõe de todos os recursos necessários para esse propósito (Hargreaves, 2003). A biblioteca escolar assume-se, antes de mais, como um sistema organizador que fomenta o desenvolvimento de competências e de capacidades na área das TIC, usando-as enquanto ferramentas cognitivas (Jonassen, 2000). Torna-se, pois, evidente o peso ascendente da biblioteca escolar no contexto da sociedade atual, favorecendo a informação e facultando o desenvolvimento de capacidades e de competências necessárias para uma adequada integração na vida em sociedade, estabelecendo uma ponte entre a escola e o mundo. Como refere Jonassen (2000), é preciso que os docentes “respeitem e encorajem o pensamento crítico e a construção pessoal do conhecimento como objectivos significativos” (p. 305).

Sendo o Manifesto IFLA/UNESCO sobre Bibliotecas Escolares (1999) o documento que regula o funcionamento das BE, os ideais, nele defendidos, devem ser respeitados e postos em prática. Por conseguinte, a Biblioteca Escolar deve ajudar a preparar os alunos para viverem como cidadãos responsáveis, capacitando-os para a aprendizagem ao longo da vida e proporcionando-lhes informação e conhecimento que conduzam ao pensamento crítico.

O serviço prestado pela biblioteca é gratuito e deve contemplar todos os membros da comunidade escolar, sem exceções relacionadas com aspetos multiculturais (estatuto social, língua, idade, raça, nacionalidade, sexo ou religião); deve, ainda, ser disponibilizado um serviço mais personalizado àqueles que, por terem limitações sensoriais, por exemplo, não

podem beneficiar dos materiais regulares existentes na biblioteca. É de referir que o acesso a estes serviços é orientado pela Declaração Universal dos Direitos Humanos, das Nações Unidas, e deve ficar à margem de pressões comerciais, políticas, religiosas ou outras. De acordo com o Manifesto, os governos dos vários países, por intermédio dos ministérios da educação e da cultura, devem promover o desenvolvimento de estratégias, políticas e planos de implementação dos princípios definidos pela IFLA/ UNESCO (1999), cabendo às autoridades locais, regionais e nacionais a responsabilidade relativamente às BE.

A procura do sucesso educativo passa pelo uso regular da biblioteca escolar, tendo em conta que esta facilita a obtenção de níveis mais altos de literacia na leitura e na escrita, na aprendizagem, na resolução de problemas, no uso da informação e das tecnologias de comunicação e informação. A colaboração entre o professor bibliotecário e os outros docentes assume, nesta perspetiva, uma importância fundamental. O Manifesto destaca claramente, no artigo 19, que os seres humanos têm o direito de “ter opiniões e de procurar, receber e transmitir informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras”. Refere ainda literalmente que o trabalho de equipa entre os professores bibliotecários e os restantes eleva os níveis de “literacia, leitura, aprendizagem, resolução de problemas e competências no domínio das tecnologias de informação e comunicação.”

Ainda segundo o Manifesto IFLA/UNESCO para Bibliotecas Escolares (2006), os objetivos que devem nortear a ação das BE são os sequentes:

- Apoiar e intensificar a consecução dos objetivos educacionais definidos pela escola. - Desenvolver e manter nos alunos o hábito e o prazer da leitura e da aprendizagem, bem como o uso dos recursos da biblioteca ao longo da vida.

- Oferecer oportunidades diversificadas de vivências destinadas à produção e uso da informação ligada ao conhecimento, à compreensão, à imaginação e ao entretenimento.

- Apoiar todos os alunos na aprendizagem e na prática de habilidades para avaliar e usar a informação, nas suas diversas formas, suportes ou meios, incluindo a sensibilidade para utilizar adequadamente as formas de comunicação com a comunidade onde estão inseridos.

- Providenciar o acesso a nível local, regional, nacional e global aos recursos existentes e às oportunidades que expõem os aprendizes a diversas ideias, experiências e opiniões.

- Organizar atividades que incentivem a tomada de consciência cultural e social, bem como a sensibilidade.

- Trabalhar em equipa com estudantes, professores, membros das direções e pais, com vista à consecução dos objetivos da escola.

- Proclamar a liberdade intelectual e o acesso à informação como pontos fundamentais para a formação de uma cidadania responsável e para o exercício da democracia.

- Promover a leitura e facultar os recursos e os serviços da biblioteca escolar à comunidade escolar envolvente.

Os objetivos acima elencados devem ser postos em prática através de políticas e de serviços que permitam a seleção e a aquisição de recursos disponibilizados em instalações adequadas à instrução e munidas de acessibilidades físicas a fontes de informação, não se devendo descurar a formação do pessoal auxiliar (Carias, 2012).