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A Filosofia do Ensino Médio como espaço de formação autônoma e

5 CONTRIBUIÇÕES DA FILOSOFIA PARA A FORMAÇÃO

5.4 A Filosofia do Ensino Médio como espaço de formação autônoma e

Neste tópico, retornamos à questão central da pesquisa, a saber: o quanto a disciplina de Filosofia está ligada a formação autônoma para compreensão da existência social, familiar e escolar dos alunos. Assim, os participantes da pesquisa foram indagados acerca do aprendizado na disciplina de Filosofia e se este proporciona a autonomia em pauta. O resultado é apresentado no Gráfico 5.

Gráfico 5 – Opinião dos alunos quanto ao aprendizado na disciplina de Filosofia no Ensino Médio e a autonomia e discernimento para compreender a sua existência social, fa miliar, escolar, etc.

Percebeu-se que 90% dos alunos concordam que o aprendizado de Filosofia contribui para formação autônoma e proporciona discernimento em suas atitudes nas esferas sociais, familiares e escolares, sendo que destes 65% concordam plenamente e 25% concordam parcialmente. Ressalta-se que somente 10% não concorda e nem discorda.

Na sequência, os alunos participantes da pesquisa deram suas opiniões quanto à possibilidade de uma formação autônoma e esclarecida (emancipada), dando-lhes discernimento em suas escolhas com relação a aspectos da família, natureza e o outro (no sentido do indivíduo que é parte integrante do mesmo espaço social). O resultado é apresentado no Gráfico 6.

Gráfico 6 – Opinião dos alunos quanto a possibilidade de uma formação autônoma e esclarecida (emancipada) dando-lhes discernimento em suas escolhas com relação a aspectos da família, natureza e o outro.

Fonte: Dados primários da pesquisa (2018). Produção própria.

Nesse quesito, todos os alunos concordaram, sendo que 65% concordaram plenamente e 35% concordaram parcialmente, o que leva a crer que a filosofia vem desempenhando um papel de suma importância no currículo do ensino Médio para formação autônoma dos estudantes. Essa autonomia levará o aluno ao discernimento da sua realidade consolidandoo poder de decisão e capacidade de trilhar seu caminho.

Diante dos resultados, pode-se citar Kant (2006), que desenvolve uma concepção interessante no livro intitulado “sobre a pedagogia”, na qual afirma que a educação é a mais importante forma de prosperidade rumo à evolução da humanidade, e afirma que o homem é a única criatura que precisa ser educada, sendo enfático ao dizer que a disciplina e a instrução

devem formar o homem desde a sua infância. Nesse sentido, observa -se, nos escritos de Kant (2006) que a educação deve possibilitar uma formação para a autonomia e, que, consequentemente possa levar os indivíduos a agirem com a razão.

Devemos lembrar que em uma democracia na qual os indivíduos não se servem de seu próprio entendimento, quando estão na tutela de outra pessoa, ela pode se transformar em um bárbaro, causar barbárie. Por isso, a educação para a emancipação é também uma educação contra o estado de barbárie. Citando como exemplo, na perspectiva de Adorno, o holocausto, que foi causado pela falta de consciência, pela ausência do entendimento. Por isso é necessário que a educação se volte para uma “auto-formação crítica” Adorno (1995, p.121). Podemos afirmar que temos um propósito para o Ensino de Filosofia: trata-se de ajudar a formar uma consciência não somente abstrata, mas que tenha condições do seu livre exercício, buscando afirmar o bom uso da capacidade de julgar as manifestações ideológicas nas sociedades democráticas, livre exercício das ideias, pensar por si, e enfim, se emancipar.

A escola deve ser a principal instituição social responsável, para criar condições para o exercício da consciência emancipada. É também e principalmente na escola, que será promovido o encontro entre o indivíduo (aluno) e a realidade social. Uma vez emancipada, é de confiança uma consciência verdadeira livre da alienação, jamais podendo escolher a barbárie que o capitalismo e seus mecanismos produzem e que, muitas vezes, conduzem a sociedade ao massacre e ao horror, ou seja, a própria ausência da razão. Segundo Adorno (1995, p.151), “[...] uma educação para a emancipação é uma só vez uma educação para a experiência e, ao mesmo tempo, fornece as condições que tornam possível essa experiência”. E em se tratando do ensino de filosofia, a realidade dos alunos, em especial de escola pública, pode ser utilizada para uma demonstração das contradições sociais em que estão inseridos de forma empírica.

A educação sintetizada e, em especial no Ensino de Filosofia, deve pensar a relação entre emancipação, autonomia e consciência crítica, caminho imprescindível para a emancipação individual e social. Sem uma educação para criticidade, a sociedade em seus aspectos mais importantes, como política e cultural, fica comprometida em criar condições para um exercício autônomo, livre e soberano da consciência, portanto, não há emancipação possível. A educação é também o espaço de encontro do indivíduo com a sociedade. Uma educação que permita a liberdade individual e autônoma, através de uma formação crítica, traça um caminho seguro para uma emancipação social. Sem uma educação crítica não há uma emancipação possível, nem pessoas ou indivíduos dotados de autonomia para o fa zer

coletivo. Assim, o homem deve ser dotado de razão autônoma para poder pensar a realidade de forma crítica.

Como afirma Zatti (2007, p. 45) ao referir-se ao homem, “Kant o pensou como dotado de uma razão com o poder de pensar o universal”, vinculando a isso, sua liberdade e dignidade, sua autonomia. Seguindo essa linha de reflexão é importante citar Machado (2010) que diz:

[...] Pensar na educação como formação humana é pensar na educação e vida produtiva - compreender a educação a partir de seus determinantes estruturais que se constituem no modo de produção material da existência humana ou de uma sociedade, bem como os processos sociais aí embutidos, e que ajudam a formar e a educar as pessoas. Em síntese, não há como menosprezar a influência das relações sociais de produção, cujo elemento característico é o trabalho, na conformação da educação; na sua formação humana e cultural; na relação entre educação e história; na qual a escola pode ser vista como um dos espaços e tempos de formação humana (MACHADO, 2010, p. 32).

Em atenção ao pensamento freireano, a concepção de educação libertadora é aquela que permite aos sujeitos a capacidade de “denunciar” as estruturas desumanizantes e, ao mesmo tempo, “anunciar” um novo projeto de sociedade. É na teoria freireana, enfim, que uma educação libertadora se perfaz.