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A Flexibilidade Cognitiva

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2.3. A Teoria da Flexibilidade Cognitiva

2.3.1 A Flexibilidade Cognitiva

“A flexibilidade cognitiva é a capacidade que o sujeito tem de, perante uma situação nova (ou problema), reestruturar o conhecimento para resolver a situa- ção (ou o problema) em causa.” (A. A. CARVALHO: 2000, p. 173). A flexibilidade

resulta do modo como o conhecimento é representado. Rand Spiro, na discussão da TFC, propõe que o conhecimento seja ensinado em dois processos: descons- trução do mini-caso através de diferentes pontos de vista; estabelecer relações entre mini-casos de diferentes casos.

Um caso seria, por exemplo, o capitulo de um livro, uma parte de um filme, uma notícia do jornal, alguma situação concreta e completa em termos de signifi- cado. Um caso pode originar diversos mini-casos a partir da desconstrução do

2 Termo utilizado pelos elaboradores da Teoria da Flexibilidade Cognitiva fazendo referência ao cruzamento

temático realizado através dos mini-casos, ou seja, atravessa-se vários mini-casos e comentários temáticos e assim constrói o conhecimento.

caso de modo a torná-los pequenos para atrair atenção e facilitar a compreensão dos estudantes, mas tendo o cuidado necessário para que este seja rico em signi- ficado.

De acordo com a TFC, para promover a flexibilidade cognitiva, faz-se ne- cessário que os alunos acessem os diferentes casos e mini-casos em situações diferentes e com o propósito de estabelecer relações entre mini-casos aparente- mente diferentes, ou do contrário, identificar divergências em mini-casos aparen- temente iguais. São estas relações de aproximação e ou distanciamento que vão permitir um conhecimento efetivo dos conceitos estudados e permitir sua adequa- da aplicação em situações reais.

A desconstrução dos casos em mini-casos e a observação dos mini-casos em diferentes momentos do processo dar-se-á, principalmente, a partir do estabe- lecimento de temas pelo professor, os comentários temáticos, e objetivam propor- cionar aos alunos uma leitura em diferentes perspectivas. Essa leitura é funda- mental para a construção de um conhecimento complexo, visto que sua utilização pode ser demandada em diferentes contextos.

Assim, é oportuno destacar que a escolha dos temas que orientam o pro- cesso de acesso aos mini-casos na FQ, revela-se um momento de reflexão do- cente sobre os objetivos de ensino e as diferentes temáticas que permeiam o con- teúdo trabalhado. No caso do trabalho com o conteúdo puberdade, por exemplo, é importante que os temas escolhidos pelo professor reflitam exatamente as dife- rentes facetas imbricadas na temática. Ou seja, é possível trabalhar com aspectos sociais, culturais, biológicos, que consubstanciem para o entendimento amplo e profundo do conteúdo.

A TFC considera ainda, que somente quando os temas são observados sob diferentes perspectivas, tentando enxergar especificidades no todo, é que conseguimos fazer a “travessia de paisagem” (termo utilizado na teoria para indi- car que o conhecimento só é compreendido quando observado sob diferentes ângulos) que vai nos permitir aplicar o conhecimento de forma flexível.

Como instrução a TFC indica alguns recursos para promover a compreensão conceitual complexa e o uso adaptado do conheci-

mento para transferência. Um deles é o retorno do aluno ao mes- mo material em diferentes perspectivas conceituais. A justificativa para este recurso instrucional seria o de que elementos importan- tes de qualquer explicação de conceito ou caso complexo poderi- am ser mais visíveis em contextos diferentes (REZENDE:2002, p. 09).

Ao indicar que um mesmo material seja visto em diferentes perspectivas, a TFC apresenta-se como uma teoria relevante no contexto das propostas de ensi- no mediado pela internet, à medida que aponta para uma maneira de ensino que considera a complexidade do conteúdo a ser aprendido. A internet constitui-se num espaço dinâmico que contribui para este trânsito entre diferentes casos e mini-casos. Entretanto, esta modalidade de ensino muda o papel do professor que deve deixar de ser aquele que simplesmente transmite o conteúdo e passar a ser aquele que constrói estratégias pertinentes e orienta o aluno no seu processo de aprendizagem.

Neste sentido, Rezende (2002) pontua que, para que o professor seja o fa- cilitador pedagógico, aquele que ajuda na construção de significado por parte do aluno é indispensável que possua uma concepção bastante clara de que a cons- trução do conhecimento é um processo dinâmico e relacional, originário da refle- xão coletiva sobre o mundo real.

Para o professor que objetiva trabalhar com a estratégia FQ, compreender esta concepção de ensino (TFC) é salutar para uma aplicação que de fato possi- bilite a construção do conhecimento, sobretudo diante da complexidade existente entre muitos conceitos estudados, pois como afirma A. A. Carvalho (2000):

As investigações realizadas permitem concluir que, apesar da Te- oria da Flexibilidade Cognitiva não ser flexível quanto à forma co- mo propõe que o conhecimento seja representado e aprendido, promove o desenvolvimento da flexibilidade cognitiva, tão impres- cindível na transferência de conhecimentos para novas situações (p. 180).

Assim os diferentes recursos disponíveis, como hipermídias e hipertextos, além de ampla possibilidade de navegação entre diferentes casos concretos de aplicação do conceito em estudo, disponíveis na internet, podem proporcionar

esta visão multifacetada de um determinado assunto, contribuindo para discus- sões profundas que conduzam o aluno a uma aprendizagem que considera a complexidade da vida real.

É nesta perspectiva que situa-se a estratégia FQ ao utilizar-se da internet para promover um ensino centrado no caso e em seu processo de desconstrução em mini-casos para serem perspectivados a partir dos comentários temáticos, conforme veremos a seguir.

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