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A formação “completa” para a carreira acadêmica do psicólogo

IV. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

3. A formação “completa” para a carreira acadêmica do psicólogo

Na sucessiva análise do conjunto dos depoimentos foi possível observar uma

unanimidade do reconhecimento “positivo” frente ao caráter da formação oferecida pela

UFMG, marcada por uma estrutura empenhada no desenvolvimento das habilidades dos estudantes para o seguimento da carreira acadêmica (mestrado/doutorado), como aspecto

distintivo do curso. Como ilustra a fala da estudante “A”: “A experiência que eu tive desde o

primeiro período é que a UFMG quer direcionar a gente para a ciência, para uma continuidade acadêmica, então eu acho que todo o departamento te ensina a refletir, a questionar... a gente nunca faz por fazer. (...) Todos ensinam a gente a refletir. Todos têm esse olhar científico, questionador. (...) Então eu acho isso interessante. (...) A formação é completa nesse sentido. (...) A parte científica pra quem vai ter uma formação científica, vai seguir um mestrado e doutorado aqui na UFMG, é excelente (...)”

A análise dos depoimentos deixa em evidência a expressão dos sentimentos de satisfação dos estudantes frente à característica da formação, que fomenta o incentivo dos graduandos para o percurso da carreira acadêmica, e com isso, oferece outros suportes importantes para essa trajetória, como por exemplo, o desenvolvimento da habilidade crít ica e reflexiva dos conteúdos discutidos e aprendidos na sala de aula. Nas palavras da estudante

“S”: “eu acho esse um ponto bacana da formação, essa veia crítica. (...) Aqui tem muita

discussão principalmente por essa questão da crítica, acho que com o tempo você vai amadurecendo essa postura. Acho que por aquilo que é criado em sala de aula, assim, de tá sempre questionando o que tá sendo colocado.”

Assim, compreende-se que os estudantes relacionam o incentivo da carreira acadêmica como propiciador de uma formação voltada para a capacitação do estudante em avaliar de forma crítica os conteúdos aprendidos e saber manejar instrumentos metodológicos que o

habilita na realização de pesquisas científicas. Como dito pela estudante “A”: “Então, o

pensamento crítico... acho que... esse item vem muito da carreira científica. (...) a questão filosófica, as bases históricas, é... a gente tem bem isso, sabe? A formação é completa nesse sentido. Metodologia, a gente aprende muito bem, sabe?, a parte científica, pra quem vai ter uma formação científica, vai seguir um mestrado e doutorado aqui na UFMG.”

Na experiência da estudante “A”, essa característica do curso é possível inclusive de

ser conferida, quando os estudantes de psicologia da UFMG dividem espaços com demais

estudantes de outras instituições durante os estágios. Diz ela: “E, o que eu comparo olhando

os estudantes de psicologia de outros cursos, que não são da UFMG, eles não têm a formação crítica que a gente tem. Eles não têm esse olhar crítico que a gente tem. Eles são muito técnicos, eles aprendem a técnica, mas eles não sabem refletir, não sabem levantar... questionar... isso a gente tem muito aqui na UFMG, disciplinas que abrem a nossa mente pra isso.”

A este respeito, é possível pensar, sobretudo, na sua correlação e adequação da formação oferecida pela UFMG com as orientações presentes no documento das Diretrizes

Curriculares (2004). Segundo o Art. 4º, já citado no primeiro capítulo desse trabalho, sobre os objetivos gerais de dotar o profissional de conhecimentos necessários para o exercício de determinadas competências e habilidades, tem-se o caráter da:

VI - Educação permanente: os profissionais devem ser capazes de aprender continuamente, tanto na sua formação, quanto na sua prática, e de ter responsabilidade e compromisso com a sua educação e o treinamento das futuras gerações de profissionais, estimulando e desenvolvendo a mobilidade acadêmica e profissional, a formação e a cooperação através de redes nacionais e internacionais (Brasil, 2004, p. 2, grifo nosso).

Outro aspecto a ser mencionado se refere à concordância com o Plano Nacional de Graduação – PNG (1999)22, aprovado no XII Fórum Nacional de Pró-Reitores de Graduação das Universidades Brasileiras, no qual definiu-se o papel da universidade frente à nova conjuntura tecnológica e globalizada:

A decorrência normal deste processo parece ser a adoção de nova abordagem, de modo a ensejar aos egressos a capacidade de investigação e a de "aprender a aprender". Este objetivo exige o domínio dos modos de produção do saber na respectiva área, de modo a criar as condições necessárias para o permanente processo de educação continuada (Brasil, 1999, p. 13, grifo nosso).

Para que o Brasil pudesse garantir um desenvolvimento sustentável para sua sociedade, reconheceu-se que seria de fundamental importância a produção e o acúmulo de conhecimento. As Instituições de Ensino Superior passaram a desempenhar um papel central na formação de um público referencial e na promoção do desenvolvimento do conhecimento científico. Nesse sentido, o seguimento público da universidade brasileira, com tradição consolidada de ensino de graduação e pós-graduação, de pesquisa, de extensão, de qualificação de seu corpo docente, tornou-se referência de qualidade para todo o sistema nacional.

As novas demandas da universidade contemporânea exigem uma formação que articule a competência científica e técnica. Para tanto, cada curso de graduação deverá fomentar a aproximação dos alunos com os fundamentos que sustentam a sua área científica.

Este processo requer domínio da evolução histórica da respectiva ciência, domínio dos métodos e linguagens que geraram seus distintos contornos, o diálogo com os “clássicos” respectivos. É na base destes fundamentos que se pode construir o “aprender a aprender”, condição para o exercício profissional criativo, aquele que

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não se exaure nos rápidos processos de obsolescência que afetam, hoje, todo exercício profissional (Brasil, 1999, p.21).

Nessa perspectiva, as políticas institucionais de pesquisa visam promover o incentivo da prática da pesquisa em todos os cursos de graduação. Dentre outras estratégias, os Programas de Bolsa de Iniciação Científica, administrado pelo CNPq, buscam oferecer auxílio às universidades para a promoção de um ensino qualificado, propiciando aos estudantes atividades de investigação e estímulo à capacidade crítica, assegurando a atualização científica. Cabe lembrar, inclusive, que o deslocamento da centralidade na docência para a pesquisa, proposto pelo III Plano Nacional de Pós-Graduação (III PNPG/1986-1989), já havia repercutido diretamente na estruturação do sistema de avaliação da pós-graduação implantado pela Capes no biênio 1996-1997 (Kuenzer & Moraes, 2005), cujo impacto na área da psicologia manteve-se o mesmo, determinando o enfoque na pesquisa, a produção científica, como substrato na avaliação dos programas.

A atual versão curricular do curso de psicologia da UFMG, de comum acordo com os documentos referenciais que balizam as organizações dos demais cursos de graduação da instituição, propõe a integralização obrigatória de 08 créditos (120 horas), – podendo, a critério do aluno, serem integralizados até 12 créditos (180 horas) –, em diferentes atividades, como Monitorias (iniciação à docência), Iniciação à Pesquisa (participação em projetos de pesquisa orientados por docentes da UFMG); Iniciação à Extensão (participação em projetos de Extensão coordenados por docentes da UFMG); Organização de Eventos Científicos (participação em comissões organizadoras de eventos científicos de abrangência regional, nacional e internacional); Mini-curso em Evento Científico (realização de mini-curso em eventos científicos de abrangência regional, nacional e internacional); Grupo de Estudos (participação em grupo de estudos sob supervisão de docente da UFMG ou pesquisador associado aos laboratórios do curso) e Publicação de Artigo Científico (publicação de artigo científico em periódico científico de circulação nacional) (UFMG, 2006).

Os créditos dessas atividades livres equivalem-se àqueles integralizados para as disciplinas optativas do curso, ratificando o incentivo na formação qualificada do estudante para o desenvolvimento da habilidade científica e, com efeito, potencializa o seguimento dos discentes na carreira acadêmica (mestrado/doutorado). Além disso, a organização do conteúdo curricular do programa da UFMG contém os estágios básicos em investigação e intervenção, previstos já para o terceiro período da graduação, que visam proporcionar ao aluno a aquisição e o desenvolvimento das competências e habilidades afins (UFMG, 2006).

A partir dessa contextualização é possível compreender ainda o reconhecimento e o valor pessoal e social do curso de psicologia da UFMG, manifestos nas falas dos estudantes entrevistados e exemplificado pela estudante “A”: “Acho que estudar aqui faz sim uma diferença, tem suas qualidades... dizer que você estuda na UFMG, sabe?... tem seu valor sim.”