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2.4. Exigência Social de um Novo Actor na Escola Primária: o Professor de PL2

2.4.2. A Formação Contínua de Professores Pressupostos Normativos

De acordo com a bibliografia consultada de diferentes autores e proveniências como, Portugal, Espanha, México e outros países da União Europeia, verifica-se uma convergência quanto à consideração do processo de formação permanente como uma necessidade em todos os campos da vida. Passou-se da crença de que a formação é válida para toda a vida, à consciencialização de que a formação deve ser durante toda a vida, permitindo a adaptação às mudanças sucessivas à escala económica e organizativa, técnica e científica, comunicativa e cultural, os quais constituem um desafio para as empresas, instituições e trabalhadores. Um

dos factores apontado como impulsionador desta formação é a emersão da compreensão do trabalhador como ser humano na chamada “sociedade do conhecimento”, entendida como o concerto das configurações e a aplicação da informação com as tecnologias de informação e todas as possibilidades por ela oferecida, permitindo uma rápida difusão e generalização do conhecimento. Esta sociedade sugere inovações organizativas, comerciais, jurídicas e sociais que mudam profundamente a vida, quer no mundo laboral, quer na sociedade em geral.

Por esta razão, existem diferentes instrumentos normativos, a nível internacional e comunitário, que atestam reconhecidamente, directa ou indirectamente, a necessidade de que os estados adoptem políticas de formação profissional. A Organização Internacional do Trabalho pronunciou-se sobre a temática através do CINTERFOR – Centro Interamericano de Investigação e Documentação sobre Formação Profissional – ressaltando, assim, a grande importância que este processo contínuo de qualificação do trabalhador de acordo com o país, seu desenvolvimento económico, político, social, pressupondo, em última instância, transformação produtiva, aumento da produtividade e competitividade das empresas e das economias visando assegurar o desenvolvimento económico, ambiental e social sustentáveis. O Concelho das Comunidades Europeias, nesta mesma linha, a 15 de Junho de 1989, defende a Formação Profissional Permanente, tendo definido: uma função de adaptação permanente à evolução das profissões e dos conteúdos dos postos de trabalho, portanto de melhoria das competências e das qualificações; uma função de carácter preventiva para antecipar possíveis consequências negativas e, uma terceira função, de promoção social que permita a muitos trabalhadores evitar a estagnação nas suas qualificações profissionais e melhorar a sua situação.

Os argumentos esgrimidos em diferentes latitudes, sobretudo na Europa, não entram em contradição com os pressupostos que sustentam a formação contínua dos trabalhadores angolanos em geral, e em particular dos professores, que orientam a aplicação do enfoque da formação contínua com argumentos e objectivos semelhantes. Como consequência da reforma educativa, vários instrumentos legais, complementares à Lei de Bases do Sistema Educativo, que aprofundam a institucionalização da formação contínua, foram surgindo com destaque para o Decreto n.º 3/08, Estatuto Orgânico da Carreira dos Docentes do Ensino Primário e

Secundário, Técnicos Pedagógicos e Especialistas de Administração da Educação e o Plano Mestre de Formação de Professores em Angola, lançado em 2008. O artigo 381.º do Decreto n.º 3/08, ponto 3, de 4 de Março, refere que a formação contínua visa desenvolver, qualificar

e equiparar o pessoal docente e promover a eficácia e eficiência do sistema educativo, mediante a articulação entre as necessidades organizacionais e sociais e os planos individuais de carreira. O referido instrumento legal determina, também, que o acesso à formação com vista à actualização permanente e reforço de conhecimentos, bem como a promoção na carreira, constituem um direito profissional específico do pessoal docente. A sua formulação torna evidente o reconhecimento dos professores enquanto principais encarregados das mudanças qualitativas que se esperam nas experiências das escolas e nas aprendizagens dos alunos. Para tal, a formação contínua deve servir para focar as discussões com vista à

prossecução de um ensino de qualidade e de uma aprendizagem efectiva. Deve incidir e permitir, de modo sustentado, a actualização de conhecimentos do corpo docente, quer a nível das áreas específicas, quer a nível da didáctica.

Ao tomar as necessidades organizacionais, sociais e os planos individuais de carreira, a formação almejada pelo Decreto 3/08, de 4 de Março, encara a formação contínua dos docentes numa perspectiva de desenvolvimento pessoal e profissional com carácter evolutivo e continuado. Na opinião de Pacheco e Flores, a formação contínua deve resultar:

(…) do equilíbrio entre as necessidades do sistema educativo e as necessidades individuais e profissionais dos professores e promover o desenvolvimento profissional do professor nas suas mais diversas vertentes e dimensões (…), o que pressupõe um leque variado de situações de aprendizagem (1999: 126, 135).

O sucesso na formação contínua passa necessariamente pela valorização da experiência resultante da prática do professor. A sua organização deve partir de questões concretas e ir ao encontro de problemas que se levantam na actividade profissional, baseando-se nas acções e nas necessidades sentidas pelo professor. O Plano Mestre de

Formação de Professores em Angola ruma neste sentido ao arrogar-se como um instrumento

que reflecte toda a fundamentação sobre a necessidade de formação docente, que promove a sua formação para o desenvolvimento de competências específicas, com autonomia profissional capaz de responder à complexidade da sua realidade laboral, bem como às exigências da sua função docente, corroborando a ideia, segundo a qual a pertinência de qualquer formação contínua passa necessariamente pelo reconhecimento das necessidades de formação do professor e tornando-a reflexiva e contextualizada ao seu fazer diário. A perspectiva de construção de uma escola transformada, habilitada a responder aos desafios de uma sociedade em incessante mudança, requer uma formação permanente dos docentes na lógica construtivista. Isto pressupõe que no caso concreto da situação em Angola, a formação dos docentes deva responder à necessidade premente de propiciar a realização de uma educação primária de qualidade, aliás, desiderato a alcançar no âmbito do cumprimento dos seis objectivos fixados pelo Fórum Mundial da Educação, no quadro de Acção de Dakar9,

de que o país é subscritor.

O Plano Mestre de Formação De Professores, PMFP, situa-se nesta esfera, pois ergue- se como a resposta do Estado na esteira do cumprimento dos seis compromissos e assume, portanto, a definição da política de formação de professores, tanto ao nível da formação

9 Retirado do PMF. Os seis objectivos são de entre outros: i) assegurar que, até 2015, todas as crianças

e, sobretudo, as meninas e crianças em situação difícil e pertencentes a minorias étnicas tenham acesso a um ensino primário gratuito e obrigatório de boa qualidade e o concluam; ii) responder às necessidades de todos os jovens e adultos, através do acesso equitativo a uma aprendizagem adequada e a programas de preparação para a vida activa; iii) Melhorar todos os aspectos qualitativos da educação, garantindo resultados de aprendizagem reconhecidos e mensuráveis, especialmente em leitura, escrita, cálculo e habilidades práticas essenciais para a vida.

inicial, quanto ao nível da formação contínua e à distância, perseguindo os objectivos de promover uma reflexão sobre a problemática da formação de professores em angola e contribuindo para melhorar a qualidade inicial, contínua e à distância dos professores do