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3.2. O Mercado e a Indústria Farmacêutica

3.2.2. A formação de preços na indústria

Como visto na figura 1, a participação dos medicamentos genéricos no mercado nacional têm crescido a uma média de 41,43% durante o período 2002-2007, passando de 4,70% de participação no mercado em janeiro de 2002 para 15,79% em dezembro de 2007. É razoável esperar que esse aumento de market share dos genéricos cause algum efeito negativo no nível de preços dos fármacos. O intuito agora é analisar se esse aumento de participação provoca redução no nível de preços ao consumidor final.

Para tanto iniciaremos a análise por meio de uma apreciação da formação de preços na indústria de medicamentos, como forma de escolher o melhor deflator para a análise da formação de preços. Apresentamos abaixo a dinâmica de preços de uma série de indicadores de inflação da economia brasileira. A base é o ano de 2000, mês de janeiro para todos os índices.

FIGURA 2: Evolução dos índices de inflação no período de janeiro de 2000 a dezembro de 2007 (Base 100 para janeiro de 2000)

A figura aponta a evolução de quatro indicadores gerais de preços – IGP-M, INPC, IPA-M e IPC-M – além de um indicador que retrata a evolução dos preços no setor de saúde e cuidados pessoais – INPC Saúde – e um que dá ênfase à evolução dos preços de medicamentos – IPA-OG Farmacêuticos.

Destaque deve ser dado aos índices do setor saúde. Como podemos notar, tais deflatores são os que menos cresceram no período de análise, muito por causa do tabelamento imposto pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) através da Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (CMED). Os preços são regulados para todos os medicamentos através de um preço máximo de venda ao consumidor, e reajustados anualmente, normalmente no mês de março. O IPA-OG Farmacêuticos retrata exatamente essa dinâmica, com constância de preços para o período de um ano e picos nos meses de março de cada ano analisado.

Porém, acreditamos que a dinâmica de mercado não siga exatamente o retratado pelo índice, mas antes seja muito mais parecida com o crescimento do INPC Saúde. Como a regulação do IPA-OG Farmacêuticos é dada pelo preço máximo de venda, acreditamos que a adequação do repasse de preços dos revendedores ao consumidor final não se dê de forma direta e imediata, com vistas a perda de mercado se isso acontecer. Nesse caso, o INPC Saúde parece retratar com mais exatidão a dinâmica real dos preços, com um

crescimento suave dos preços dos medicamentos até atingir o pico, o valor máximo de revenda imposto pelo governo. Vejamos a figura abaixo para entender o argumento.

FIGURA 3: Evolução do INPC Saúde, IPA-OG Farmacêuticos e média móvel de 6 meses para o IPA-OG Farmacêuticos no período de janeiro de 2000 a dezembro de

2007 (Base 100 para janeiro de 2000)

Entendemos que, através do argumento exposto acima, que a evolução dos preços dos medicamentos siga uma dinâmica parecida com a média móvel dos seis últimos meses para o IPA-OG Farmacêuticos, que foi apresentada na figura. Há um repasse suave do aumento de preços ao consumidor, muito disso pelo medo de perda de parcelas de mercado por parte dos vendedores28. O INPC Saúde retrata com muita semelhança essa média móvel e, portanto, será o deflator utilizado em nossas análises.

Definido o deflator, analisamos abaixo se a suposição de que o aumento de participação dos genéricos tem efeito negativo no nível de preços é válida através de uma regressão MQO de série temporal da variável dependente INPC Saúde, que representa aqui o índice de inflação dos medicamentos, pela participação dos genéricos no mercado, além de

28

Acreditamos, com essa afirmação, que não aja a ação deliberada de cartéis no mercado de produtos farmacêuticos, diminuindo assim o conluio para aumento de preços entre os vários vendedores desse mercado.

algumas variáveis que avaliamos relevantes para a determinação do índice de preços29. Os valores obtidos para a regressão são apresentados na tabela abaixo.

TABELA 4: Regressão de série temporal para INPC Saúde em primeira diferença com variáveis explicativas defasadas

-0.2230** (-2.03) 0.2865*** (1.97) 0.4136 (1.01) -0.00542 (0.91) 0.00112 (-0.79) 0.01026** (-2.33) -7.8167** (-2.58) -0.0026 (-0.04) R2 0.1565 Teste F 12.32 Observações 80

Fonte dos dados básicos: BACEN, IBGE, IPEADATA e Pró-Genéricos Modelo em primeira diferença Variáveis prodfarm.1 genunidade.1 inpcsaude.1 inpcgeral.1 cambio.1 expfarm.1 impfarm.1 * / ** / *** Significante a 1%, 5% e 10% respectivamente constante

Trata-se de uma regressão de série temporal válida pelo teste F. Mostram-se os coeficientes e logo abaixo, entre parênteses, a estatística t das variáveis. Pela série de câmbio, exportação e importação de produtos farmacêuticos e market share dos genéricos possuírem raiz unitária – verificada pela aplicação do teste Dickey-Fuller Aumentado (ADF)30 – precisamos tornar a série estacionária, e para isso analisamos o modelo através do método de primeira diferença31. Modelamos uma regressão de série temporal

29

A descrição das variáveis, bem como a base de dados as quais elas foram adquiridas encontram na tabela A.1 no anexo do artigo

30

O teste de raiz unitária ADF é mostrado na tabela A.2 do anexo deste artigo. 31

Conforme exposto em Johnston & Dinardo (1997), a importância de trabalhar com séries estacionárias é que esta propriedade garante, possivelmente após um período de ajuste inicial, alcançar um equilíbrio dinâmico. Quando o processo está em equilíbrio, qualquer observação, condicionada às observações passadas a ela, tem uma mesma distribuição, ou seja, um

multivariada em que o índice de preços de um período é impactado por seu valor do período passado e pelas demais variáveis também do período precedente. Sendo assim, todas as variáveis utilizadas são defasadas em um período de tempo. Os meses selecionados para a análise foram de janeiro de 2002 a julho de 200832, perfazendo um total de oitenta (80) observações.

Pode-se ver que se mostraram relevantes para a explicação do índice de medicamentos apenas o índice de medicamentos defasado (negativamente), o índice geral de preços (positivamente), o nível de produção interna da indústria (positivamente) e a participação em unidades dos genéricos33 (negativamente). As demais variáveis, como a taxa de câmbio e as relacionadas ao comércio exterior, mesmo sendo consideradas relevantes para formação de preços em muitas indústrias, não mostraram significância no modelo para a indústria de medicamentos. Ou seja, pela análise da regressão, a política dos genéricos possui maior importância na determinação do nível de preços interno do que variáveis clássicas de determinação de preços. Em suma, existem indícios de que a política do “genéricos” alcançou - mesmo que de forma parcial - seu objetivo principal: a redução de preços.

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