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VI. As TIC e a Formação de Professores

1. A formação de professores

O Ministério da Educação na sua actual Lei de Bases do Sistema Educativo, nomeadamente no artigo 30º - Princípios Gerais sobre a formação de educadores e professores, refere que, o professor deve ter:

- Formação que, em referência à realidade social, estimule uma atitude simultaneamente crítica e actuante;

- Formação que favoreça e estimule a inovação e a investigação, nomeadamente em relação com a actividade educativa.

De forma implícita chama a atenção para a importância da formação de professores dar resposta às necessidades que a sociedade exige da escola e ao mesmo tempo habilitar estes profissionais para ao longo da sua carreira procurarem estar actualizados em todos os aspectos que digam respeito à sua actividade educativa.

Os Decretos de Lei 240/2001 e 241/2001 que definem, respectivamente, os perfis gerais e específicos para a docência têm diversas referências à utilização das TIC. Explicitamente dizem que, o professor deve:

“Utilizar, em função das diferentes situações, e incorporar adequadamente nas actividades de aprendizagem linguagens diversas e suportes variados, nomeadamente as tecnologias de informação e comunicação, promovendo a aquisição de competências básicas neste último domínio;”

“Fomentar a aquisição integrada de métodos de estudo e de trabalho intelectual, nas aprendizagens, designadamente ao nível da pesquisa, organização, tratamento e produção de informação, utilizando as tecnologias da informação e da comunicação;”

“No âmbito da educação em Matemática, o professor do 1.º ciclo deve: Proporcionar oportunidades para que os alunos realizem actividades de investigação em matemática, utilizando diversos materiais e tecnologias e desenvolvendo nos educandos a autoconfiança na sua capacidade de trabalhar com a matemática.”

Alguns autores têm também debruçado a sua investigação sobre a formação de professores.

Tendo em conta que a palavra formação encerra uma série de ambiguidades pelos múltiplos contextos em que pode ser aplicada, consideramos importante enunciar alguns princípios básicos subjacentes à formação de professores.

Carlos García (1999) apoiado em diversos autores reuniu sete princípios básicos:

1- A formação de professores deve ser contínua.

Apesar de compartimentada ou faseada, a formação de professores deve fazer-se ao longo de toda a carreira.

2- A formação de professores deve estar integrada em processos de mudança, inovação e desenvolvimento curricular.

Não é concebível tentar introduzir mudanças na educação se estas não se fizerem acompanhar por mudanças na formação de professores.

3- Os processos de formação de professores devem estar ligados com o desenvolvimento organizacional da escola.

Apesar de todas as formas de formação poderem ser válidas, o autor considera que a que terá mais sucesso será a que “adopta como problema e referência o contexto próximo dos professores”. (idem: 28)

4- A formação de professores deve articular a formação científica com a formação pedagógica.

Shulman (1992), citado por Garcia (1999) chamou-lhe “O conhecimento Didáctico do Conteúdo”. O professor distingue-se assim dos especialistas numa determinada área.

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“O equilíbrio entre a competência na disciplina ensinada e a competência pedagógica deve ser cuidadosamente respeitado.” (Unesco, 1996: 139)

5- A formação de professores deve assentar na dicotomia teoria - prática.

Sabendo que os modelos teóricos que aprendemos se cruzam com as nossas experiências práticas, é importante introduzir na formação de professores processos que permitam que ambos os conhecimentos, teóricos e práticos, coabitem de forma pacífica e que a reflexão sobre um posa introduzir mudanças no outro.

6- A formação que o professor recebe e formação que lhe será pedida que desenvolva com os seus alunos deverá ser isomorfa.

Pérez citado por Garcia afirma que “em matéria de formação de professores, o principal conteúdo é o método através do qual o conteúdo é transmitido aos professores”

7- A formação de professores deve ser individualizada

A formação de professores deve ter em conta as heterogeneidades individuais e respeitar as características pessoais de cada sujeito.

O INAFOP- Instituto Nacional da Acreditação da Formação de Professores, criado para acreditar cursos superiores (extinto antes de acreditar qualquer um) elaborou um documento “Padrões de qualidade da formação inicial de professores - Deliberação nº 1488/2000 onde faz referência explicita às TIC:

“O curso proporciona acesso às novas tecnologias de informação e da comunicação e a outros recursos para satisfazer as suas necessidades específicas, no que se refere:

I) às metodologias de ensino usadas;

II) ao acesso à informação e à comunicação entre os formandos, docentes, escolas e outros intervenientes no processo de formação;

III) à aprendizagem do uso criterioso das tecnologias de informação e da comunicação, nas suas diversas vertentes;

IV) ao uso desses recursos como parte integrante da preparação e experiência profissional dos formandos.

“O currículo do curso deve incluir os seguintes componentes de formação, devidamente articulados entre si:

- a formação cultural, social e ética, que abrange, (...) dimensões instrumentais relativas à procura, organização e comunicação da informação, incluindo o recurso às tecnologias de informação e da comunicação (...).

A instituição de formação tem:

- instalações e equipamentos adequados à natureza do curso, nomeadamente edifícios, laboratórios, bibliotecas, mediatecas, centros de recursos, salas de informática e de estudo (...).

Eduardo Veloso (2002) escreve um artigo na Revista Educação Matemática nº 69, onde diz que “não deveria haver dúvidas sobre a necessidade dos futuros professores, durante a formação inicial científica, se habituarem a utilizar computadores no seu trabalho matemático a todos os níveis.

Infelizmente, esta situação desejável está ainda muito longe de ser a norma na formação inicial oferecida pelas universidades e pelas escolas superiores de educação. (...) falta sobretudo a compreensão dessa necessidade e a percepção de que apenas através desse tipo de formação, na altura própria, os futuros professores poderão na sua actividade profissional incluir os computadores de forma correcta e natural. (idem, 2002: 68)

Ponte (2002) identifica vários aspectos relativos às TIC que a formação de novos professores deve contemplar:

1. Atitudes e valores

É importante que os futuros professores estejam receptivos a estas ferramentas para que as integrem nas suas práticas e simultaneamente se

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adaptem a novos papéis introduzidos por estas tecnologias nas funções de professor.

A formação de uma consciência critica relativamente a implicações morais que as TIC levantam é igualmente importante para que o desenvolvam nos futuros alunos uma posição semelhante.

2. Instrumento para o trabalho pessoal e prática profissional

A utilização das TIC, tanto pessoal como profissionalmente, deve ser encarada de forma banal e rotineira sem motivos para “dores de cabeça”.

3. Utilização no ensino - aprendizagem

Para além de saber proporcionar actividades de ensino - aprendizagem utilizando as TIC, os professores devem ter uma visão global da sua presença no currículo dos alunos. Estas actividades não devem ser experiências pontuais e devem emergir naturalmente no processo educativo sempre articuladas com outros meios didácticos.

Num estudo realizado pelo Gabinete de Informação e Avaliação do Sistema Educativo - GIASE, em 2003, As Tecnologias de Informação e

Comunicação e a Formação Inicial de Professores em Portugal: radiografia da situação em 2003, constatou-se que a presença das TIC nos currículos de

formação inicial é inequívoca. Esta presença tanto pode ser explicita, em disciplinas dedicadas exclusivamente ao seu estudo, como integrada noutras disciplinas.

Este diagnóstico identificou dois problemas:

1. Existe uma dificuldade de integração das TIC nos currículos de formação dos professores. Esta dificuldade advém do facto de os formadores não encararem as TIC como uma ferramenta à qual se recorre sempre que se justifique mas esporadicamente.

As recomendações foram as seguintes:

1. As instituições de formação devem equacionar estratégias efectivas de integração das TIC em múltiplas disciplinas do seu plano de formação procurando manter não só um equilíbrio entre as dimensões técnica e pedagógica da formação mas a articulação entre aquelas duas dimensões.

2. As instituições de formação deverão procurar identificar junto dos seus formadores as necessidades de formação específicas e actuar de modo a encontrar estratégias que permitam fazer face a essas necessidades.

3. As instituições de formação deverão procurar identificar os modos como os seus estudantes utilizam as TIC com a perspectiva de reequacionar as formas de integração que estão em prática nalgumas das suas disciplinas com o objectivo de procurar contemplar e melhorar de uma forma mais abrangente as competências dos seus diplomados no uso das TIC.

4. As instituições de formação deverão procurar estabelecer plataformas de diálogo e cooperação – presencialmente e à distância – com vista a partilhar experiências, estratégias e materiais de formação em TIC dos seus diplomados por forma a concorrer para a análise dos princípios e estratégias de formação que são implementados e para a reflexão sobre a sua acção como formadores.

5. As entidades competentes (nas quais se incluem as instituições formadoras, os centros de investigação, e os organismos que tutelam a formação inicial de professores) deverão promover o desenvolvimento de estudos que permitam obter um cenário mais real acerca desta área de formação em Portugal.

A aprendizagem ao longo da vida é uma máxima da sociedade em que vivemos a que os professores não estão alheios.

Para além da formação inicial, o professor ao longo da sua carreira frequenta acções de formação fundamentais para que possa progredir para escalões de maior índice remuneratório.

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Fica, por isso, a dúvida: Qual será a principal motivação quando um professor se inscreve?

O Decreto de Lei n.º 274/94 de 28 de Outubro, define como objectivos fundamentais da formação contínua "a melhoria da qualidade do ensino, através da permanente actualização e aprofundamento de conhecimentos, nas vertentes teórica e prática; o aperfeiçoamento da competência profissional e pedagógica dos docentes nos vários domínios da sua actividade; o incentivo à autoformação, à prática de investigação e à inovação educacional; a viabilização da reconversão profissional, permitindo uma maior mobilidade entre os diversos níveis e graus de ensino e grupos de docência".

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